O Memorial das Ligas e Lutas Camponesas celebra neste domingo o Ato em Memória dos Mártires da Luta pela Terra. O evento acontece a partir das 14h, na sede do Memorial, na comunidade Tradicional de Barra de Antas, na cidade de Sapé (PB). O lema da manifestação deste ano é "Pelo Direito à Memória, Reforma Agrária e Democracia".
O ato, realizado anualmente desde 2010, surgiu com o objetivo de denunciar a morte de João Pedro Teixeira, militante da reforma agrária na década de 50, e de homenagear sua memória. Porém, após o cinquentenário do assassinato do líder campesino, a celebração passou a envolver os principais mártires da luta pela terra no país, assassinados na defesa dos direitos do povo camponês: Nego Fuba (João Alfredo Dias), Pedro Fazendeiro (Pedro Inácio de Araújo) e Margarida Maria Alves, entre outros.
"O 31 de março marca com muita tristeza, traumas, ameaças e dor a vida da sociedade brasileira. É o dia em que completa 60 anos do golpe civil militar no nosso país. Durante o golpe, e até antes dele, a realidade camponesa era ainda mais dura que os dias atuais. A perseguição, tortura, medo, morte assombravam nossos camponeses que lutavam por melhores condições de vida no campo", afirma o coletivo em nota divulgada nas redes sociais.
É importante lembrar que Sapé, cidade berço de um dos maiores conflitos das Ligas Camponesas da Paraíba, foi uma das primeiras cidades a serem sitiadas, devido ao grande movimento de camponeses que gritavam por "reforma agrária na lei ou na marra". "Eles lutavam contra a estrutura que os aprisionava e matava. Tentaram e tentam acabar, negar o levante e a potência da classe camponesa. Até hoje não há números exatos de quantas foram as vítimas. No último estudo feito por Gilney [Viana, pesquisador colaborador da UnB], que compõe a Comissão Camponesa Nacional da Verdade, foram mais de 1,6 mil camponeses vítimas da ditadura [em todo o país], mas sabemos que foi muito mais".
Alane Lima, presidenta do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, destaca a importância do líder camponês João Pedro Teixeira, que foi assassinado em 1962 e reconhecido no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria em 2018.
"Todo mês de abril realizamos a celebração dos Mártires da Luta Pela Terra, culminando no 2 de abril, dia em que João Pedro Teixeira, que é hoje considerado herói nacional, foi assassinado. Este ano, faremos a memória do golpe civil-militar, para que nunca mais aconteça, relembrando os 62 anos do martírio de João Pedro Teixeira, e associando isso a todas as violências ocorridas, na qual tombaram camponeses. Por isso o nome Celebração dos Mártires, porque ultrapassa Joao Pedro Teixeira, e faz memória a esses outros mártires do passado, mas também do presente", explica.
EM 2023, o dia 2 de abril foi instituído como o Dia Estadual e Municipal da Memória Camponesa na Paraíba.
"Precisamos fazer essa memória, e garantir que todos os paraibanos, sapeenses, camponeses, camponesas, brasileiros conheçam a história das Ligas Camponesas", explica Alane Lina. Ela lembra que as ligas foram usadas como uma das justificativas para o golpe de 64, que mobilizava no país o medo do comunismo.
"Esse momento vai fazer memória a essas ações, tanto de denúncia com relação ao golpe de 1964, quanto de resistência dos camponeses e camponesas que sobreviveram e que lutam, ainda hoje, por melhores condições de vida no campo", diz.
A celebração contará com atrações culturais como o Coral Voz Ativa; a Banda Santa Cecília, de Sapé - considerada patrimônio municipal; os violeiros Soledade e Oliveira de Panelas e o grupo de Jovens de Jacaraú.
"Será um momento de resistência muito bonito. Estaremos com os movimentos sociais do campo, com a Comissão pastoral da Terra, o Movimento Sem terra, a Secretaria de Educação do Município de Sapé, o Governo do Estado e a Adufpb para realizar esse momento de extrema importância", complementa Alane.
Fonte: BdF Paraíba
Edição: Cida Alves