POESIA

Sarau das Pretas comemora 8 anos com atividades nos CEUs de São Paulo

Na capital paulista, os encontros do coletivo promovem poesia na linguagem das periferias

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Nas apresentações, grupo pode disseminar educação, poesia e literatura a alunos que estão longe das regiões centrais - Kaique Santos
Todas nós somos artistas e protagonistas da nossa própria história

Criado em 2016, o Sarau das Pretas faz aniversário com uma atividade para cada um dos seus oito anos de existência. O coletivo aproveitou que março é o mês da poesia e também de celebração pelo Dia Internacional da Luta das Mulheres para mostrar sua força nos equipamentos culturais paulistanos.

Uma das apresentações foi realizada no CEU Vila Atlântica, na zona noroeste da capital paulista. Com poesia, música e demais intervenções culturais, o sarau entregou entretenimento e conhecimento a alunos do ensino fundamental.

"É uma grande alegria comemorar a nossa existência enquanto poetas, enquanto produtoras de cultura, nesses lugares que servem para disseminar educação, a poesia, a literatura, disseminar o que nós produzimos de melhor. Temos levado a nossa produção, o nosso olhar específico de mulher, de pessoa preta, para o centro do palco, pra esse lugar onde a negritude também pode estar", afirma Oluwa Seyi, do Sarau das Pretas. 

Débora Garcia, idealizadora do Sarau, também celebra o aniversário. "É muito importante reforçar essa questão do acesso à arte e à cultura, porque hoje há essa ideia do artista num pedestal, aquela coisa do like, do inacessível. E todos nós somos artistas e protagonistas da nossa própria história. A nossa poesia é sobre o cotidiano, é sobre a mulher, é sobre o preto, é sobre a periferia, e para que esses alunos possam olhar para a sua realidade e também ver poesia", ressalta. 

A motivação da Unesco em 1999, ao definir o dia 21 de março como o dia mundial da poesia, foi promover e incentivar a leitura, escrita e o ensino do gênero, missão abraçada pelo grupo.

"Apesar de a gente estar inserida nesse cenário de livros e leitura, espaço escolar, a gente sabe que o tempo de leitura, o tempo de livro dessa juventude é roubado pelo celular, pela tecnologia, ao mesmo tempo que essa mesma tecnologia que faz com que o Sarau das Pretas se propague para mais pessoas. Então, a gente tem essa dicotomia aí, de espalhar a literatura, fortalecê-la, mas também tentando levar os alunos para o caminho do livro", diz a escritora Elizandra Souza.

Na Grande São Paulo, diversos saraus compartilham da mesma missão, levando esse gênero da literatura a quem historicamente teve menos acesso. Alguns que difundem a poesia são o Sarau da Cooperifa, criado pelo poeta Sérgio Vaz, o Sarau das Mina, o Sarau do Binho e o Sarau a Voz do Povo, do qual o poeta Luan Luando também faz parte.

"Na verdade, o grande segredo e a grande revolução que os movimentos de saraus fizeram foi incentivar a ler. Até então, a leitura era um tabu, porque o currículo escolar não está adaptado a uma vida cotidiana de pretos e pretas, de gente de periferia, não fala de uma realidade. Então o segredo nosso foi escrever da nossa própria realidade, das nossas próprias questões", diz Luando.

"Fazer saraus é uma coisa simples. Façam, amem a poesia, eu também tenho que apontar que as pessoas precisam ler, não viver de estereótipos literários, é preciso ler para desenvolver repertório e a partir do repertório desenvolver linguagem literária", complementa.

Edição: Thalita Pires