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Programa Papo de Crente faz pesquisa com ouvintes e revela preconceitos sofridos pelos evangélicos

Grupos focais em seis cidades mostraram a eficiência da comunicação via rádio com esse público

Brasil de Fato| São Paulo (SP) |
Pastor Ariovaldo é um dos integrantes da equipe do programa - Foto: Divulgação

Depois de 144 edições e mais de quatro anos no ar, o programa Papo de Crente, realizado em parceria com o Brasil de Fato, fez o primeiro estudo qualitativo para conhecer melhor os ouvintes e saber o que pensam do projeto, que é uma iniciativa da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito e tem como objetivo abordar temas atuais através de uma perspectiva bíblica.

Para além dos resultados positivos sobre a opinião dos evangélicos que ouvem o programa semanal, a pesquisa também adentrou o cotidiano desse grupo que já soma 30% da população, de acordo com o Censo de 2022 do IBGE. 

“É muito impressionante a aceitação das pessoas com o conteúdo e formato do programa. Isso mostra que nós conseguimos conversar com o segmento evangélico a partir de uma gramática tanto de direitos, quanto religiosa. Essas dimensões podem caminhar juntas", afirma o coordenador dos grupos focais, Josué Medeiros, cientista político, professor da UFRJ e coordenador do Observatório Político Eleitoral (Opel), parceiro nessa pesquisa.
 


Pesquisa é fruto da parceria entre a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito e o Observatório Político e Eleitoral / Foto: Perseu Abramo

Na última eleição para presidente, a maioria dos evangélicos votou em Jair Bolsonaro, com quase 70%. As dimensões políticas do grupo, representados quase que integralmente por lideranças de direita e de extrema direita, acentuaram o estigma fundamentalista, deixando a esquerda em uma quase ausência na construção de diálogo com esse segmento. 

“São pessoas trabalhadoras, mães, pessoas que gostam de viajar, de futebol e também estão sofrendo com a dificuldade da vida moderna como qualquer outra.”, destaca Medeiros, desfazendo o senso comum de que os evangélicos são pessoas radicais e não estão abertos ao diálogo. “Tudo isso é elemento que a esquerda tem total condição de dialogar e construir um bom programa.”

A pesquisa teve como metodologia os grupos focais em 6 cidades: Maricá (RJ), São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, São Luiz e Salvador. Foram selecionadas pessoas evangélicas de denominações variadas. Todas receberam previamente o link com dois episódios do Papo de Crente: sobre cotas raciais e reparação histórica, do dia 18 de agosto de 2023; e sobre mudanças climáticas, do dia 02 de junho de 2023.  

“É difícil ter retorno em um programa com abrangência nacional, é um desafio criar um canal que seja eficiente para todos os públicos, por isso, entendemos a necessidade da pesquisa para mensurar o impacto da linguagem que estamos usando e comunicando com os evangélicos”, afirma Nilza Valéria, coordenadora do programa desde a fundação. 

O Papo de Crente foi lançado em 2021, durante a pandemia de covid-19, quando o grupo percebeu a quantidade de informações falsas sobre a doença que estava sendo veiculadas nos grupos de WhatsApp de evangélicos.

“Quando a gente viu nos grupos focais as pessoas dizendo que elas mudaram suas posições sobre a questão ambiental e sobre política racial a partir do que ouviram no programa, isso foi muito satisfatório”, acrescenta Valéria. “Porque os evangélicos precisam cada vez mais ser envolvidos na temática da democracia e dos direitos, algo que orienta o Papo de Crente”, finaliza. 

Pelas ondas sonoras

Com apresentação do pastor Marco Davi de Oliveira e de Eulália Lemos, as edições começaram a ser veiculados em duas rádios, a 93 FM no Rio de Janeiro e Rádio Musical, em São Paulo. Hoje, já são mais de 1 milhão de ouvintes em dezenas de emissoras em diversas regiões do país. Em abril, o programa também passou a integrar a programação das rádios da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Os episódios estão disponíveis no Spotify. Ouça as edições:

Edição: Matheus Alves de Almeida