Minas Gerais

ARTE E POLÍTICA

Artigo | Um corpo negro, um corpo politico

Grupo Teatro Negro e Atitude completa 30 anos na cena artistica e política belo-horizontina

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Imagem - Instagram Teatro Negro e Atitude/ @ pablobernardobh

Este ano o grupo Teatro Negro e Atitude (TNA)  completa 30 anos na cena artistica e política belo-horizontina. Seu surgimento, segundo o fundador Hamilton Borges Walê, “foi uma conjuração poética, uma rebelião estética, uma pancada. (...) O TNA fez  uma escolha ética pelo bem coletivo, numa perspectiva revolucionária, combatente”. 

Nosso grupo foi fundado em 1994 com o objetivo de criar uma linguagem teatral que celebre e promova a diversidade cultural do país, explorando elementos textuais, corporais, materiais e musicais da cultura afro-brasileira. O TNA busca a descolonização dos corpos através de seus espetáculos, visando também a democratização do acesso à cultura negra e o combate ao racismo.

Nós, integrantes do Teatro Negro e Atitude, inspirados em vários grupos artísticos combativos e nas movimentações sociais negras, subíamos e descíamos as comunidades de Belo Horizonte com as palavras de Solano Trindade na ponta da língua: “tem gente com fome”. E assim se formatou a proposta de um encontro teatral como espaço de discussão sobre os problemas humanos, exercitando e cumprindo aquilo que nós acreditamos ser a função da arte: um instrumento de sensibilização da sociedade, portanto, uma ferramenta para nos organizarmos, ocuparmos espaços e denunciarmos o racismo que nos mata diariamente. 

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Corpos negros são corpos políticos, e não podem ser separados de sua realidade histórica e social. Corpos estes que tem sido subjugados e marginalizados, enfrentando discriminação, violência e exclusão. É essencial reconhecer e enfrentar a conjuntura que nos afeta e garantir a inclusão e representação nos processos políticos e na formulação de políticas públicas. A emancipação política está intrinsecamente ligada à liberdade e ao empoderamento destes corpos. Só assim será alcançada a justiça social e equidade racial.

Seguimos nos instrumentalizando artístico-politicamente, e junto a outros artistas negros, fomos nos inserindo na cena e na política de BH. Aos poucos, trouxemos para o centro da discussão o corpo negro e a necessidade dele ocupar o protagonismo da cena. Fomos nos transformando e hoje nos somamos a uma cena negra diversa e efervescente na cidade.

Projeto novo

O novo projeto do TNA, A Arte e a Educação Política Crítica, vem brindar a atuação do Teatro Negro e Atitude nesses seus 30 anos sendo mais que um grupo de teatro, se constituindo também como um “movimento negro educador”, como diria Nilma Lino Gomes. O projeto visa uma formação teatral, política e de base voltado para mulheres negras, pessoas LGBTQIAPN+ e moradoras de periferias de Belo Horizonte e RMBH. Usaremos a arte, a educação e as mídias sociais para instigar e acender o desejo de mulheres pretas e pessoas LGBTQIAPN+ a ocuparem espaços de poder e de tomada de decisões coletivas, tais como as câmaras legislativas, as associações, as universidades públicas e os conselhos (de educação, igualdade racial,  tutelar, da  juventude, da saúde e de mulheres). Tudo acontecerá através de oficinas, mentorias e palestras divulgadas no perfil do Instagram do TNA.

Tanto a Arte quanto a Educação são capazes de possibilitar transformações significativas à sociedade de uma forma geral. O Teatro Negro e Atitude (TNA) é muito mais que um grupo de teatro, ele é um movimento educador que usa a arte como meio de sensibilizar o publico para os problemas sociais, políticos e existenciais que ainda marcam a população negra. No nosso projeto, continuaremos na busca por potencializar a voz de mulheres negras e pessoas LGBTQIAPN+ periféricas, promovendo inclusão, representatividade e empoderamento em nossas produções teatrais e atividades relacionadas, contribuindo assim para uma sociedade mais justa e igualitária para todos.

Evandro Nunes, é integrante do Teatro Negro e Atitude, ator, diretor em teatro, arte-educador, pedagogo, doutorando em Educação pelo PPGE/UFOP. É mestre em Educação pela FAE/UFMG e especialista em Educação para as Relações Étnico-raciais, UNIAFRO, UFOP. Também é pesquisador das artes e teatralidades negras e presidiu a Negraria - Coletivo de Artistas Negros/as BH.

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Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

 

Edição: Leonardo Fernandes