Pressão popular

Câmara de São Paulo começa a votar privatização da Sabesp em meio a protestos de manifestantes

Pesquisa Quaest divulgada no último dia 15 mostrou que 61% dos paulistanos são contra a privatização

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Cerca de 400 manifestantes protestam em frente a Casa Legislativa após serem impedidas de entrar na sessão - Caroline Oliveira/Brasil de Fato

A votação da privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) no município de São Paulo ocorre nesta quinta-feira (2) sob manifestações contrárias e favoráveis ao projeto e um clima tenso dentro e fora da Câmara. 

Os manifestantes contra e a favor chegaram a entrar em conflito na frente da Câmara Municipal de São Paulo, por volta das 15h, enquanto iniciava a votação dentro do plenário. O clima tenso entre os manifestantes também predomina nas galerias reservadas dentro do plenário, que ficam separadas por guardas civis municipais. 

Parte dos munícipes, a maioria contrários à privatização, foram impedidos de acessar o interior do prédio pela manhã, durante a última audiência pública sobre o tema. Barrados, aguardaram o início da votação do lado de fora, debaixo de um sol de 30°C. 

Já próximo do início da votação, a Câmara informou a distribuíção de 120 senhas para os manifestantes, sendo 60 para os apoiadores da privatização, e a outra metade para os contrários. No entanto, apenas cerca de 40 pessoas tiveram entrada liberada. Manifestantes afirmam que não receberam todas as senhas.

De acordo com a Guarda Civil Municipal (GCM), cerca de 400 pessoas estavam presentes para a distribuição. A maioria de manifestantes contrários a privatização.

Luiz Alves Leite, agente de saneamento da Sabesp, estava na frente da Câmara Municipal desde às 9h da manhã para acompanhar a audiência pública e sequer conseguiu entrar para a votação. 

Apesar do placar quase fechado a favor da privatização no município, Leite afirmou que a manifestação teve como objetivo mostrar a insatisfação da população paulistana com a entrega dos serviços à iniciativa privada.

Uma pesquisa Quaest divulgada no último dia 15 mostrou que 61% dos paulistanos são contra a privatização. Aqueles que são favoráveis somam 29% dos entrevistados.

"Está muito difícil, porque eles [vereadores] já estão comprados praticamente. Pode ser que a gente consiga reverter, mas é muita grana" afirma Leite. Na primeira sessão, em 17 de abril, a proposta foi aprovada com 36 votos contra 18 contrários, num total de 54 votantes. Hoje, o placar deve se repetir. 

Alexandre Simões Moraes, técnico de gestão da Sabesp, expressou a indignação dos manifestantes contrários que estavam presentes. "Como que vende uma empresa de água que deu no ano passado um lucro de mais de R$ 3 bilhões? Não tem sentido vender essa empresa", afirmou. 

Sobre o placar para a privatização no primeiro turno, Moraes disse que "enquanto existir vida, há esperança". "Mas pelo o que eu vi, pelo caminhar, está tudo vendido."

A jornalista Rita Casaro considera que as manifestações contrárias são uma "luta crucial entre todas as lutas sociais que a gente tem nesse momento". Em suas palavras, "defender o saneamento público e o acesso à água para a população é uma questão é vital, porque a saúde pública é uma coisa que precisa mobilizar todos os paulistanos e paulistanas e todos os paulistas e todas as paulistas".

Os vereadores "hoje estão agindo contra a vontade manifesta do povo. É uma empresa pública de altíssimo nível que não é perfeita, mas a gente tem que melhorar, e não jogar no lixo. A sociedade precisa prestar atenção. Não é pauta da esquerda. É uma pauta da população, de todo mundo que quer abrir a torneira e que saia água potável".

A ex-candidata ao Senado Federal, Vivian Mendes (UP), também esteve presente na manifestação. "A gente está aqui hoje para denunciar que todo o processo de privatização da Sabesp está sendo feito de forma absolutamente ilegal e arbitrária. É um crime não apenas porque não atende aos interesses da população, mas é um crime do ponto de vista do processo, desde a aprovação do PL na Alesp até na Câmara Municipal", afirmou Mendes.

Sobre a chance de avanço da desestatização a despeito da opinião contrária da população, Mendes afirmou que isso serve para "ilustrar o limite desse Estado burguês, onde tenta se dar uma roupagem de democracia, mas na verdade o interesse da maioria da população é ignorado". 

Mendes afirmou que o Estado paulista "defende só os interesses dos mais ricos, demonstrando que vai colocar toda a sua força e todo o seu aparato para garantir o interesse de uma meia dúzia de parasitas que vivem às custas da miséria e do sangue do nosso povo".

Edição: Matheus Alves de Almeida