“A situação de Canoas está catastrófica, a Rio Branco, o pessoal todo em cima das casas desde as quatro horas da manhã pedindo ajuda, pedindo resgate. Não tinha nenhum barco andando por lá. Minha irmã estava com uma criança com paralisia cerebral, juntamente com meu cunhado e suas duas filhas em cima do telhado desde as quatro da manhã sem comer, sem nada.”
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O relato é da moradora do bairro Harmonia, na cidade gaúcha de Canoas, Daiane Mallmann. Ela conta que a irmã e o sobrinho foram resgatados na tarde deste sábado, após passarem horas sem comer. O resgate da irmã e do sobrinho de Daiane foi feito por voluntários.
“A minha irmã falou que não passava botes, e quando passava as pessoas gritavam desesperadamente. Não tinha resgate de helicópteros. O pessoal tentando salvar os cachorros. Minha irmã disse que não viu botes da Defesa Civil, equipe da defesa civil ou da prefeitura. O resgate foi feito por pessoas que estavam ajudando por livre espontânea vontade com seus botes. É lamentável toda essa situação.”
A irmã dela juntamente com o sobrinho foram resgatados por dois rapazes que estavam em um bote pequeno alugado. Ela conta que na hora do resgate eles passaram por fios de eletricidade. “Só na ponta eles foram recebidos pelo Exército que ofereceu comida e levou para o hospital da Ulbra. Tem idosas em cima de telhado, pedindo resgate. A cada dois segundos meu telefone toca pedindo resgate, gente desesperada, os bichos morrendo boiando, não estão resgatando as pessoas, pessoas voluntárias é que estão vindo salvar."
Aeronaves do governo estadual e das Forças Armadas sobrevoam a cidade, içando pessoas e animais de estimação de telhados de edificações ilhadas pelas águas.
“Este é o episódio mais trágico da história de Canoas. Uma situação além da nossa capacidade [de resposta]. A água acabou avançando muito rápido e, por isso, determinamos a evacuação de todo o lado oeste da cidade”, explicou Jairo Jorge durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais da prefeitura.
De acordo com o prefeito até o fim da manhã deste sábado (4), já havia mais de 3 mil pessoas acolhidas em abrigos públicos e a prefeitura estuda abrir ao menos mais 11 abrigos provisórios. Com mais de 50 mil pessoas vivendo em áreas de risco, a prefeitura orientou a população de todo o lado oeste da cidade a deixar suas casas e buscar abrigo em locais mais altos e seguros do município.
A recomendação afeta moradores dos bairros Niterói, Mathias Velho, Fátima, Harmonia, Central Park, Cinco Colônias, São Luís, Rio Branco, Vila Cerne, Santo Operário e Mato Grande. Locais onde o grande volume d´água vindo da região da Serra gaúcha e do Centro do estado, pelos rios dos Sinos e Jacuí, que deságuam no Guaíba, na altura da Região Metropolitana de Porto Alegre, causam alagamentos e muitos prejuízos.
Por quase toda a cidade, há moradores à espera de socorro ou ajuda. O cunhado da Daiane e suas duas sobrinhas até as 18h desta tarde ainda estavam no telhado. Contudo sem contato com o restante da família. “A gente não teve mais notícias, a água está subindo cada vez mais. Tudo bem que houve uma demanda enorme, mas foi muito negligenciado pela parte da gestão de política de Canoas. Depois que tudo isso passar o povo não pode ficar quieto.”
Eldorado do Sul
Como em Canoas, a cidade de Eldorado do Sul tem sofrido com a enchente. Mais de 90% da cidade está debaixo d’água e 95% dos moradores foram afetados, de acordo com a prefeitura. Segundo a autarquia municipal todos os bairros da cidade foram atingidos. Muitas pessoas encontram-se em situações extremas, aguardando desesperadamente por socorro, enquanto muitas outras permanecem isoladas em cima de telhados e em áreas inundadas.
“Há muitas famílias precisando de socorro em Eldorado. Não conseguem sair de casa e a Defesa Civil não consegue chegar. A família de uma amiga, que mora fora do estado, precisa de socorro, precisa de resgate urgente. Ela tá com muita dificuldade de fazer os contatos. A última informação que temos é que eles estão no segundo piso da casa, mas que está subindo muito rápido. É a mãe dela, o irmão, o pai, é um tio que é cadeirante. Estão incomunicáveis, moram no bairro Medianeira”, descreve Sthefaní Grudginski, que tem ajudado moradores do município. Ela entrou em contato com o Brasil de Fato RS para falar da situação.
A situação pela qual atravessa a cidade fez com que o coordenador da Defesa Civil da cidade de Eldorado do Sul, João Ferreira, em um vídeo divulgado nas redes sociais da prefeitura, fizesse um apelo nesta sexta-feira (3).
“Estamos em um momento de muita dificuldade para socorrer as pessoas que ainda estão ilhadas em várias partes da cidade. Venho pedir ajuda; [fazer] um pedido de socorro para Eldorado do Sul. Por favor, precisamos de barcos a motor; de botes a motor; de ajuda. Para que possamos retirar as pessoas que estão ilhadas, que estão em cima dos telhados. Precisamos da ajuda daqueles que tiverem condições de vir a Eldorado nos ajudar”, ressaltou.
No final da manhã deste sábado, o governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), ressaltou a situação das duas cidades, assim como de outros municípios da região metropolitana que têm sofrido impacto pela elevação dos rios da região.
O governador afirmou que o governo tem focado as equipes de resgate para as localidades que têm risco mais grave. “Sei que as pessoas estão assustadas e têm que estar, a situação é muito crítica, mas a gente não tem meios, como eu falei desde o início da semana, para fazer todos os resgates. A gente atua naquelas localidades em que a água já submergiu as casas e onde as pessoas não têm mais onde se acolher, estar."
Recado da Defesa Civil do estado
Em caso de necessidade de resgate ou assistência durante as enchentes, é importante saber a quem se deve recorrer para obter ajuda rápida e eficaz. Mantenha os números de emergência sempre à mão.
Brigada Militar: 190
Corpo de Bombeiros: 193
Defesa Civil estadual: 199
"Além disso, é fundamental que o cidadão busque o contato das prefeituras e defesas civis municipais, para obter orientações específicas e assistência direta. Lembre-se de permanecer calmo e seguir as instruções emitidas pelas autoridades", afirma a entidade.
* Com informações da Agência Brasil.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko