Pressão do mercado

Em semana de Copom, bancos reforçam aposta em corte de juros menor em 2024

Expectativas reunidas no Boletim Focus para valor da Selic ao final do ano saltaram de 9% para 9,63% em menos de um mês

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Diretores do Banco Central se reúnem essa semana para definir patamar da taxa básica de juros - Rodrigo Oliveira-Caixa Econômica Federal

Economistas de bancos elevaram mais uma vez sua expectativa para o patamar da taxa básica de juros, a Selic, ao final deste ano. A previsão mais atual deles é que a taxa feche 2024 em 9,63% ao ano. Quatro semanas atrás, eles previam que essa mesma taxa estivesse em 9% ao ano.

O número mais atual está registrado na última edição do Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira (6). A divulgação ocorre um dia antes de o Comitê de Política Monetária (Copom) do próprio BC iniciar mais uma reunião de dois dias para discutir a taxa de juros. Hoje, a Selic está em 10,75% ao ano.

A taxa Selic é referência para a economia nacional. É também o principal instrumento disponível para o BC controlar a inflação no país.

Quando ela sobe, empréstimos e financiamentos tendem a ficar mais caros. Isso desincentiva compras e investimentos. Contém a inflação. Em compensação, o crescimento econômico tende a ser prejudicado.

Já quando a Selic cai, os juros cobrados de consumidores e empresas ficam menores. Há mais gente comprando e investindo. A economia cresce. Os preços, por sua vez, tendem a aumentar por conta da demanda.

Desde que assumiu o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defende uma redução da Selic. Em agosto de 2023, o Copom iniciou uma série de cortes. Na época, os juros estavam em 13,75% ao ano.

Recentemente, no entanto, a inflação no Brasil deu sinais de aumento. O preço da comida subiu no início do ano, acendendo um alerta no governo.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, chegou a afirmar que as empresas estavam sendo "obrigadas" a aumentar salários porque não conseguiam contratar trabalhadores. Disse que isso poderia causar aumento de preços no país, sinalizando que o Copom pode passar a cortar a Selic num ritmo mais lento.

Os economistas dos bancos, aliás, já enxergam essa possibilidade. Por isso, começam a apostar em juros mais elevandos ao final de 2024.

O BC coleta previsões desses economistas periodicamente para condensá-las semanalmente no Boletim Focus. Para o boletim desta semana, que aponta a Selic em 9,63% ao final do ano, 148 profissionais foram ouvidos.

Desses, cem foram ouvidos na última semana. Considerando só a opinião deles, a previsão para a Selic ao final de 2024 já é de 9,75% ao ano – 1 ponto percentual acima da expectativa atual.

Para o final de 2025, os economistas estimam que a Selic esteja em 9% ao ano. Há quatro semanas, previam que ela estivesse em 8,5%. Já para 2026, a previsão para a Selic subiu de 8,50% para 8,75% ao ano.

Inflação e PIB

Curiosamente, a previsão para uma Selic mais alta surge no momento em que economistas estão reduzindo sua previsão para a inflação no país. De acordo com o Boletim Focus desta semana, eles estimam que ela feche o ano em 3,71%.

Há quatro semanas, a previsão era de inflação em 3,76%. No começo de 2024, era de 3,90%.

O percentual diz respeito ao patamar do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A estimativa para 2024 está dentro do intervalo da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A meta é de 3% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, até 4,5%.

A previsão dos economistas de bancos para o crescimento da economia também melhorou. Eles agora estimam um aumento de 2,05% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024.

Há quatro semanas, esperavam 1,90%. No início do ano, eles estimavam um crescimento de 1,52%.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia cresceu 2,9% em 2023. No início daquele ano, o Boletim Focus indicava que os bancos esperavam um crescimento de 0,8%.

O governo federal estima que a economia nacional cresça 2,2% em 2024.

Edição: Nicolau Soares