Eleições 2024

Especialista questiona método de levantamentos eleitorais em SP: 'Marçal não tem 10%, é erro de pesquisa'

Rudá Ricci acredita que a chegada do coach à corrida eleitoral pode ser blefe, para entrar no 'mercado da direita'

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O coach Pablo Marçal tem celebrado em suas redes sociais os números divulgados nesta semana por Datafolha e AtlasIntel - Foto: Reprodução/Instagram

Na última terça-feira (28), a pesquisa da Atlasintel, produzida em parceria com a CNN, mostrou o deputado federal Guilherme Boulos (Psol) liderando a corrida eleitoral pela prefeitura de São Paulo, com confortáveis 37,2% das intenções de votos, contra 20% de seu principal opositor, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). Porém, o que chamou a atenção foi o surgimento do coach Pablo Marçal (PRTB), que apenas quatro dias após anunciar sua pré-candidatura apareceu com 10,4% da preferência do eleitorado.

No dia seguinte, o Datafolha divulgou outra pesquisa, menos eufórica para Marçal, em que ele aparece com apenas 7%, atrás da deputada federal Tabata Amaral (PSB), que tem 8%, e distante de Boulos, que lidera com 24%, empatado tecnicamente com Nunes, que chega a 23%.

Para o cientista político Rudá Ricci, os dois levantamentos precisam ser lidos por um aspecto mais técnico e menos politizado. “A pesquisa mais confiável é a do Datafolha. A da Atlas foi feita por telefone, e esse método corta a participação do eleitorado mais pobre, que não tem acesso a tantos aparelhos. Além disso, não há checagem. Vamos supor que seja feita por robô, você não tem como nem saber se o entrevistado foi até o final da entrevista”, ilustra.

Ainda de acordo com Ricci, “o Ricardo Nunes tinha que estar melhor, não podia estar empatado tecnicamente com o Boulos, porque ele é o dono da caneta do terceiro maior orçamento do país, rivalizando com o orçamento de estados. Tem alguma coisa errada no governo de (cidade) São Paulo, o Nunes tinha que estar melhor. Seu adversário é um candidato de esquerda, nitidamente de esquerda, que vem de movimentos de moradia”, analisa.

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Bolsonarismo: entre Marçal e Nunes

Com 10% ou 7%, a entrada de Marçal na corrida eleitoral não pode ser ignorada. Se de imediato preocupa a pré-candidatura de Tabata Amaral, que trafegava com alguma tranquilidade na terceira posição, pode significar um abalo na campanha de Nunes, já que pode influenciar os votos de uma parcela importante do eleitorado, que são os bolsonaristas.

Nunes, que é apoiado por Jair Bolsonaro (PL), tem evitado aparecer publicamente ao lado do ex-presidente e não assumiu ainda as bandeiras do bolsonarismo. A chegada do coach Pablo Marçal pode significar que o prefeito venha a estabelecer um compromisso mais estreito com a extrema-direita.

Rudá Ricci explica que a repentina entrada de Marçal na corrida eleitoral pode significar que a extrema-direita e a direita identificaram que a candidatura do atual prefeito é frágil e não tem força para chegar ao segundo turno ou mesmo para vencer Boulos, que terá o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu palanque.

“A entrada do Marçal mostra que o mercado eleitoral de direita está disputado e dividido. Se você é um partido de direita, que de certa maneira flerta com o eleitorado bolsonarista, você precisa fazer discussão de fundo (eleitoral) para não rachar. Se eles estão rachando, é porque eles fizeram pesquisas e sabem que o Nunes não tem fôlego, aí começam a surgir candidatos para vender apoio, que é algo que a direita sempre fez em São Paulo, do Paulo Maluf ao Celso Russomano. Depois, você retira a candidatura e garante o apoio e dinheiro para o seu partido”, explica o cientista político.

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Cenário ainda incerto

A quatro meses da eleição, o cenário em São Paulo segue incerto. O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil), que aparece com números tímidos nas pesquisas, parece não ter gás e estofo político para conseguir colocar sua fotografia nas urnas. O seu partido, comandado em São Paulo pelo vereador Milton Leite, não quer o fundador do MBL na corrida eleitoral, prefere apoiar Nunes. É mais uma mesa de negociações aberta.

O apresentador José Luiz Datena, que recentemente se filiou ao PSDB, ainda negocia sua participação, como vice, numa chapa com Tabata Amaral, e é pouco provável que seja candidato em qualquer outra condição.

Marçal ganhou amparo político com as duas pesquisas desta semana, mas até onde pode ir? “Ele não vai subir mais, não tem estrutura para isso. Nós não temos certeza do Datena, do Kim e do Marçal, quais serão seus destinos. Eu acho que o Marçal vai sair da disputa. Mas anota aí, ele não tem 10%, isso é erro de pesquisa, o partido dele é pequeno, não tem força de massa e nem estrutura para isso”, aposta Ricci. 

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Embora se esteja no apagar das luzes do período determinado pela legislação eleitoral para apresentação de pré-candidaturas, o que o coach está fazendo, segundo Rudá Ricci, é cooperando para a unificação da extrema-direita em torno de um nome.

“O que o PT está fazendo com a candidatura do Boulos, o bolsonarismo quer fazer com o Nunes. Eles vão desidratar a candidatura do Nunes e transformar num mosaico bolsonarista, eles vão fazer um acordão para unificar a direita no nome do Nunes. Não tem tempo para criar outro nome e, se demorar muito, o Boulos pode ganhar com facilidade”, finalizou Ricci.

Edição: Rodrigo Chagas