Um seminário de organização e mobilização da Missão Sementes de Solidariedade foi realizado no dia 31 de maio, no Convento São Boaventura, em Imigrante (RS). Na atividade estiveram representadas as 20 organizações que até o momento se somaram na força-tarefa que reúne movimentos sociais, populares, religiosos e cooperativas de diferentes matrizes.
O objetivo do grupo é levar solidariedade ativa às populações atingidas pelas enchentes nos territórios da agricultura familiar e camponesa, oportunizando o acesso a sementes para a retomada da produção de alimentos, mudas de árvores para recomposição vegetal, bioinsumos para recuperação do solo degradado e também orientação técnica para aquelas famílias que precisarão reconfigurar seu modo de vida e produção.
Os dados prévios levantados indicam que a missão terá um desafio robusto pela frente, consideravelmente maior em termos de territórios e números de atingidos, se comprado ao que foi mobilizado em setembro de 2023, quando a primeira tragédia socioambiental abateu o Vale do Taquari.
“Hoje temos pela frente cinco regiões atingidas no estado para chegar, ano passado foi uma; temos previsão de atender 5.800 famílias, frente as cerca de mil que atendemos em 2023; são 411 comunidades já mapeadas em 163 municípios, frente às 63 comunidades atendidas em 17 municípios em nossa primeira missão”, compara Frei Sérgio Görgen, dirigente do Instituto Culural Padre Josimo (ICPJ), que coordena as ações da Missão Sementes de solidariedade junto com a Cáritas-RS.
A estimativa de recursos necessários para colocar os cerca de 150 voluntários em campo está calculada em R$ 3,5 milhões, dos quais cerca de um quarto já foram mobilizados pela campanha nacional de arrecadação empreendida pelas organizações participantes. Doações financeiras seguem sendo requeridas através do Pix da Cáritas, com a chave: 33654419.0010-07 (CNPJ).
Outra possibilidade de colaboração se dá por meio de depósito bancário para a Conta Corrente: 55.450-2 / Agência 1248-3 (Banco do Brasil). Os recursos e a mobilização estão sendo diretamente administrados pelo escritório regional da entidade no Rio Grande do Sul.
A demanda inicial de itens projeta a necessidade de aquisição de 15 toneladas de sementes de milho crioulo e varietal, 10 toneladas de sementes de feijão, 30 mil sachês de sementes de hortaliças, 6 mil feiches de ramas de mandioca, 6 mil mudas de batata-doce para multiplicação e 50 mil mudas de árvores nativas e frutíferas.
O desafio cresceu, e também cresceu a solidariedade
Miqueli Schiavon, do movimento dos Pequenos Agricultores e das Pequenas Agricultoras (MPA), detalhou a atividade e apontou as perspectivas dos próximos passos. “Estivemos reunidos fazendo o planejamento para a ação concreta, que vai ganhar volume nas próximas semanas, com visitas às comunidades camponesas, quilombolas e indígenas nos municípios mais atingidos”.
Jacira Ruiz, agente da Cáritas-RS, explica que “assim como, infelizmente, se ampliou o desafio do desastre, também se ampliam as iniciativas de solidariedade e cresce o número de organizações e movimentos que se somam a esse trabalho que iniciamos no ano passado”.
Além de Cáritas, ICPJ e MPA, fazem parte da missão movimentos como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Diocese de Santa Cruz do Sul, Rede Ecovida, Economia de Francisco e Clara, Grito dos Excluídos, Instituto Conhecimento Liberta, Instituto Koinós, JPIC, Sefras, Sindipetro, CanoasTec, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e as cooperativas Cooperbio, Origem Camponesa, Cooptil e Creluz.
O mapeamento de regiões e comunidades atingidas segue sendo construído. Lideranças com disponibilidade para fazer o cadastro de comunidades são convidadas a preencher um formulário disponível neste link.
Já a força-tarefa que vai a campo realizar as visitas presenciais nas comunidades mapeadas, família a família, está com inscrição de voluntários neste link. Os mobilizadores explicam que está sendo solicitado aos voluntários a disponibilidade mínima de tempo de uma semana para viabilizar deslocamento, treinamento e incursões a campo.
Não há previsão de ajuda de custo financeira para os voluntários, mas deslocamento, alojamento e alimentação serão garantidos pela missão.
Ações emergenciais
Se por um lado as equipes de voluntários estão se preparando para chegar aos territórios da agricultura familiar e camponesas; por outro, a base do Movimento dos Pequenos Agricultores, onde os danos registrados foram menores e foi possível salvar parte da produção, segue mobilizada para garantir alimento saudável para aqueles que estão nos espaços mais severamente atingidos.
Um exemplo a ser citado é a mobilização de alimentos de camponeses do município de Progresso e arredores. O grupo, que tradicionalmente se mobilizava para realizar feiras em Porto Alegre e região metropolitana durante a semana antes da ocorrência da tragédia, agora mobiliza a produção que foi possível salvar para preparar cestas de alimentos para projetos sociais vinculados aos Instituto Koinós, que também é participante da Missão Sementes de Solidariedade. Já foram entregues cerca de 2 toneladas de alimentos agroecológicos devidamente separados em cestas.
Nesta última semana, a Cooperativa Origem Camponesa (antiga Cooperfumos) realizou a segunda entrega de alimentos na Cozinha Solidária localizada no bairro Azenha, de onde os itens doados são compartilhados com as demais cozinhas mantidas pelo MAB e pelo MTST, entre outros parceiros e parceiras. Foram entregues cerca de 1,5 tonelada de mandioca, batata doce, repolho e abóbora. Nas próximas semanas, novas doações deverão ser mobilizadas também de outros pontos do estado onde o MPA possui base social.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko