Terminada a eleição para o Conselho Federal de Medicina (CFM) na quarta-feira (7), deu-se a conhecer a nova composição que fará parte do colegiado pelos próximos cinco anos. A maioria das chapas eleitas tem perfis conservadores, incluindo a gestão corrente, reeleita pelo estado de Rondônia, do atual presidente do CFM, José Hiran da Silva Gallo.
Em junho deste ano, ele chegou a participar de uma sessão no Senado Federal, em que expôs publicamente posições sem evidências científicas, além de defender o chamado PL do Estupro, que pune pessoas que tenham realizado aborto com pena de prisão.
Também foi reeleita a atual conselheira do Distrito Federal, conhecida por ser uma militante bolsonarista. E, em São Paulo, a chapa eleita é formada por um médico que já defendeu o uso de cloroquina para tratar a covid-19, na linha do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Entre os 54 conselheiros titulares e suplentes eleitos, apenas 12 são mulheres, três a menos do que a composição anterior. Em 15 estados não há mulheres na composição das chapas eleitas. A região Sudeste, por exemplo, possui apenas uma mulher, eleita pelo estado de Minas Gerais como suplente. O Centro-Oeste também tem somente uma mulher eleita, neste caso, como titular do conselho.
Apenas nove das 27 chapas eleitas citam o Sistema Único de Saúde (SUS) em seus programas de campanha. E não há menção em nenhuma delas à saúde preventiva e à imunização. As chapas eleitas em Goiás, São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul defendem o fim do programa Mais Médicos, e pelo menos 13 defendem o revalida como única forma de revalidação do diploma de médico obtido no exterior.
O médico Unaí Tupinambá, que disputou uma vaga no conselho pelo estado de Minas Gerais, afirma que há muitos anos não se via uma eleição para o CFM tão politizada e com tanto debate político como a deste ano. E, apesar da derrota nas eleições, ele acredita que a consolidação de um movimento progressista na medicina nacional é um grande avanço.
"Acho que foi uma vitória política muito importante. A sociedade civil se mobilizou, a gente viu vários jornais denunciando a postura partidária, ideológica, dogmática que vem pautando o CFM nos últimos seis, sete anos", avaliou.
"A gente entende que esse é um início de um processo renovação do CFM. Essa foi a primeira grande eleição com essa participação com tantas chapas de oposição. Então a gente acha que a semente foi plantada", declarou.
O médico e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que se tornou referência no enfrentamento ao negacionismo durante a pandemia da covid-19 promete seguir fazendo o trabalho político e com a mobilização da classe médica comprometida com o bem-estar social e com a ciência, além de se contrapor à gestão conservadora do conselho.
"A gente vai continuar nessa mobilização, denunciando as mazelas, os desmandos do CFM, que possam vir a ocorrer nessa próxima gestão", afirmou.
Edição: Martina Medina