A queda do presidente Bashar al-Assad e a derrubada de seu governo na Síria favorece aos interesses dos Estados Unidos e de Israel na região, diz a pesquisadora Stephanie Britto durante episódio do podcast de política internacional do Brasil de Fato, O Estrangeiro, que foi ao ar nesta quinta-feira (12).
Grupos rebeldes islâmicos tomaram o controle da cidade de Damasco, capital da Síria, no último domingo (8) e Assad recebeu asilo russo. O novo primeiro-ministro de transição da Síria disse, na quarta-feira (11), que a coalizão liderada por islamistas "garantirá" os direitos de todos os grupos religiosos, e pediu aos milhões de sírios que fugiram para o exterior que retornem ao país.
Segundo a pesquisadora, os EUA têm uma política externa para o Oriente Médio que estimula conflito entre diversas facções. Isto porque diversos países lutam por influência nesta região, como Turquia, Arábia Saudita e Israel.
Ela citou o contexto da Primavera Árabe para explicar o surgimento de tantas facções na região. "Na Síria, [a luta por democracia] da Primavera Árabe rapidamente se tornou um crescimento de grupos armados, de milícias contra o Assad", que tinham como pauta principal tomar o Estado. "Nem todos tinham agenda democrática, mas eram contra o Assad."
Esses grupos vinham lutando para derrubar o presidente sírio desde 2011. "Só que o Assad tinha apoio de outras potências regionais que hoje estão muito debilitadas, o Hezbollah, a Rússia, o Irã, consumidas com outros conflitos", completou.
A debilidade atual dos aliados do governo possibilitaram a esses grupos um empurrão final para a derrubada de Assad. "O que é mais significativo sobre a queda de Assad é que ele vai redesenhar o mapa do meio oriente."
Manutenção do equilíbrio russo
A Rússia, aliada histórica da família Assad e do antigo governo sírio, e que, inclusive, concedeu asilo para o antigo presidente sírio, não criticou abertamente a derrubada do governo no país.
Serguei Monin, correspondente do Brasil de Fato na Rússia diz que a Rússia possui duas bases militares em território sírio e por isso quer manter boas relações com um novo governo sírio: "independente de quem assuma o poder na Síria, a Rússia ainda tem um grande interesse de manutenção da segurança das bases militares que possui em território sírio".
O segundo aspecto de interesse é o geopolítico: a Rússia é uma grande plataforma do Sul Global "como uma contraposição à hegemonia dos EUA, a hegemonia dos EUA na região", o que, a partir deste momento, aumentaria a sua importância de atuação no chamado Eixo da Resistência.
"O apoio que a Rússia deu a Bashar al-Assad todos esses anos tem a ver com uma presença da Rússia na região, para a manutenção de equilíbrio das forças, uma contenção da influência dos EUA na região". Esses fatores combinados "preocupam bastante as autoridades russas", esclareceu o correspondente.
Interesses estadunidenses
Stephanie Britto também pontuou durante o episódio desta quinta que os interesses dos EUA sobre a Síria e, principalmente, na região, são três. O primeiro são os recursos que a região proporciona, como o petróleo e o acesso ao canal de Suez. "Tem uma concepção que se consolidou durante a Guerra Fria de que essa região é importante para um plano hegemônico."
Mas a outra questão é que os EUA entendem que não podem permitir que a região do norte da África e do Oriente Médio, que já foram atores influentes para além da sua região, criem um bloco econômico, politico, autônomo, já que este pode ser contrário aos planos estadunidenses.
"Para os EUA, onde não dá para construir um aliado, é melhor que não tenha um Estado", retratou a analista, que citou como exemplo a queda do governo de Muammar Gaddafi na Líbia.
E essa também é a política de Israel atualmente. "[Israel] tem como principal objetivo cortar qualquer força de oposição, que são as mesmas de forças de oposição aos EUA, que são Hezbollah, Irã, e que era a Síria também", completa.
O podcast O Estrangeiro vai ao ar apresentado por Lucas Estanislau e Rodrigo Durão toda quinta-feira às 10 horas.