Na confraternização de fim de ano do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), realizada em Brasília (DF), nesta terça-feira (10), a dirigente nacional Ceres Hadich declarou que o MST segue sentindo uma paralisia do governo em relação à reforma agrária, “que se instalou nos anos que antecederam o golpe, mas especialmente nos anos posteriores”.
De acordo com ela, em entrevista ao Brasil de Fato DF, por conta desse diagnóstico, o movimento segue “no compasso de pressionar, organizar e pautar o governo”, que não constituiu até o momento nenhum novo assentamento da reforma agrária no país. “Temos esperança que anúncios importantes para nossa pauta sejam feitos nos próximos dias, ainda em 2024”.
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O MST completou 40 anos neste ano. A segunda festa para amigas e amigos na capital brasileira em 2024 foi realizada na sede da Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (ARUC) e contou com a presença dos deputados petistas Valmir Assunção (BA), Gleisi Hoffmann (RS), Nilto Tatto (SP) e Elton Welter (PR).
Também estiveram presentes representantes da embaixada da Venezuela, Manuel Bradel, de Cuba, a professora Idalmis Brooks, a reitora da UnB, Rozana Naves, representantes de órgãos do governo federal e movimentos sindicais e sociais como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento Nacional da População de Rua, Movimento dos Atingidos por Barragens, Levante Popular da Juventude, entre outros.
O embaixador da Venezuela, Manuel Vadell, fez uma saudação em nome do presidente Nicolás Maduro. “Transmito um abraço do presidente pelos 40 anos do MST, agradecendo toda companhia e solidariedade que sempre deram à revolução bolivariana, transmitindo com generosidade sua experiência em produção agroecologia e toda ajuda em projetos agroecológicos na Venezuela”.
Para a coordenadora do Movimento Nacional da População em Situação de Rua, Sueli Oliveira, “são os movimentos sociais que garantem nossos direitos”.
Presente na celebração ao lado de outras mulheres que integram o movimento da população de rua, presentes em Brasília para participar do 1º Encontro Nacional da Mulher em Situação de Rua e suas diversidades, ela afirmou: “A gente precisa se aquilombar, precisa parar de ficar lutando cada um no seu quadrado. Juntos somos mais fortes, e por isso estamos aqui”.
Mulheres do Movimento Nacional da População em Situação de Rua posam com Gleisi Hoffmann, em festa do MST no DF. / Foto: Julia Mezarobba Caetano Ferreira
Luta pela terra
A disputa pela terra e em torno do tema da reforma agrária segue no campo e no Congresso Nacional. No primeiro ano do governo Lula 3, 2.203 conflitos foram registrados, segundo Relatório de Conflitos no Campo, da Comissão Pastoral da Terra, maior número desde o início do monitoramento, em 1985.
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Na casa legislativa, por outro lado, projetos que buscam criminalizar a luta pela terra seguem tramitando. No dia seguinte à celebração do MST, nesta quarta-feira (11), o PL 8262/2017, de autoria do deputado federal André Amaral (PMDB-PB), que legisla sobre “retirada de invasores de propriedade privada”, foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça.
Sobre o tema, o deputado Nilto Tatto afirmou que uma parcela grande dos parlamentares que votam com o governo, da bancada ruralista, votam apenas quando não se trata de pautas sobre o agronegócio.
Questionado sobre a crítica do MST em relação à paralisia da reforma agrária, Tatto afirmou que “a defesa do governo é fundamental, mas o movimento tem um papel de lutar pelo que representa, com mobilização popular para avançar em suas pautas”.