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ARTIGO

100 anos de luta: conheça a história de Elizabeth Teixeira, a mulher marcada para viver

'Homenagear em vida heroínas do povo brasileiro é um ato de resgate da verdadeira história do Brasil'

13.fev.2025 às 14h17
João Pessoa (PB)
Ítalo Aquino

Elizabeth Teixeira - Reprodução/Carla Batista

De 13 a 15 de fevereiro, Sapé será o cenário da celebração do centenário de Elizabeth Teixeira – uma mulher cuja trajetória de vida é marcada pela luta, pela resistência e pela transformação social.

Nascida em 13 de fevereiro de 1925, no sítio Antas do Sono, em Sapé, zona da mata da Paraíba, Elizabeth é a filha mais velha de Altina da Costa e Manoel Justino, pequenos proprietários e comerciantes rurais. Ainda jovem, ela já demonstrava uma sensibilidade aguçada para as injustiças sociais, observando, desde a infância, as condições precárias e as desigualdades enfrentadas pelos trabalhadores da propriedade familiar.

Em um ambiente no qual o valor dos estudos era negado às mulheres, sua consciência crítica floresceu diante de uma realidade dura e desigual. A coragem de Elizabeth em aceitar o pedido de casamento de João Pedro Teixeira confrontou diretamente o racismo de seu pai – e o preconceito de classe – que se recusava veementemente a permitir o casamento inter-racial. Sua decisão foi recebida com tristeza e indignação por parte do pai.

Ao fugir de Sapé, João Pedro e Elizabeth foram morar no engenho Massangana, em Cruz do Espírito Santo (PB), local onde o tio de João possuía terras e trabalhava como administrador da fazenda. Entretanto, o tratamento do tio de João Pedro com os trabalhadores locais o fez passar pouco tempo em Massangana.

Diante disso, Elizabeth Teixeira e sua filha, Marluce, ficaram na casa da mãe de João Pedro, em Sapé, enquanto ele buscava um emprego no Recife. João Pedro conseguiu um emprego na Pedreira Guarani, localizada entre Jaboatão dos Guararapes e o Recife. João Pedro e Elizabeth estabeleceram sua vida juntos em uma casa em Cavaleiro, entre Jaboatão e Recife, onde tiveram quatro filhos. Essa casa testemunhou o nascimento de Abraão, Isaac, Marta e Maria das Neves, enquanto Marluce nasceu no Engenho Massangana. Foi durante esse período que Elizabeth Teixeira alfabetizou João Pedro, que não sabia ler.

Diante da extrema pobreza em que viviam no Recife, decidiram voltar para Sapé, no sítio Antas do Sono. Foi lá que, depois da experiência de João Pedro na fundação do sindicato dos trabalhadores da pedreira em Jaboatão, eles ajudaram na fundação da Liga Camponesa de Sapé.

Em 1958, na cidade de Sapé, João Pedro Teixeira, João Alfredo Dias (o Nego Fuba) e Pedro Inácio de Araújo (Pedro Fazendeiro) fundaram a Associação dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas. Inspirados pela experiência das Ligas Camponesas do Engenho Galileia, o grupo buscava oferecer suporte social e defender os direitos dos pequenos agricultores e arrendatários.

Conforme Aued (1985) destaca, a criação dessa associação, após uma tentativa frustrada em 1954, representou uma estratégia para conquistar respaldo legal na luta pela reforma agrária, englobando todos os trabalhadores rurais da região.

Dados do IBGE ilustram os desafios enfrentados pelos camponeses: na década de 1930-1940 apenas 9,4% dos habitantes de Sapé sabiam ler, índice que subiu para 10,77% entre 1940 e 1950, e para 16,7% na década seguinte. Esse avanço, impulsionado pelas lutas sociais e pelo clima da Guerra Fria, era crucial, pois os analfabetos eram excluídos do direito de voto – elemento essencial para a participação política.

Em meio a esse cenário, a educação se tornou um pilar fundamental da resistência. De 1962 em diante, Elizabeth foi presa com recorrência, mas não desistia nem cedia diante das ameaças. Oito meses após a morte do marido, ela questionou dois donos de engenho da região por expulsar camponeses e chegou a ser presa no mesmo dia.

Os filhos ficaram em casa esperando a volta da mãe, mas a filha mais velha não resistiu ao sofrimento diante das ameaças. Marluce Teixeira, a mais velha dos 11 filhos de Elizabeth, cometeu suicídio por envenenamento. Ao conseguir sair da prisão, a mãe correu para casa a tempo de ver a filha morrendo.

Já no início da ditadura militar, em 1964, Elizabeth viu a pior face da repressão à luta dos camponeses. Teve sua casa incendiada e passou oito meses presa em um quartel do exército. Ao sair da prisão, o terror continuou, e assim foi orientada por companheiros de luta a buscar exílio no Recife. Encontrada pela polícia em diversas casas onde tentava se refugiar, conseguiu se esconder no Rio Grande do Norte.


Elizabeth Teixeira e João Pedro Teixeira com seus filhos / Reprodução

Em meio ao desespero das perseguições, Elizabeth mudou seu nome. Nasceria, em 1964, Marta da Costa. Teve ainda de rebatizar o único filho que conseguira levar consigo. De longe, ficou sabendo de sua pior tragédia em vida: filhos apartados da mãe e espalhados pelo Brasil. Enfileirados na varanda da propriedade do avô materno, os filhos de Elizabeth foram escolhidos como mercadorias pelos parentes dispostos a criá-los. As crianças brancas, que herdaram a genética da mãe, foram escolhidas primeiro. Os filhos negros, com a memória de João Pedro Teixeira na pele, demoraram a ter um lugar para se abrigar.

Após quase duas décadas no anonimato, o documentário Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, trouxe novamente à luz a história dessa incansável mulher marcada para viver. O filme, que inicialmente seria centrado na vida de João Pedro, transformou-se em um poderoso retrato da resistência camponesa e da trajetória de Elizabeth, revelando ao Brasil uma mulher que suportou a violência do Estado e do latifúndio em nome da justiça social e de um horizonte mais justo.

Em tempos de disputas pela memória histórica e de ascensão da extrema direita, homenagear em vida heroínas do povo brasileiro como Elizabeth Teixeira é um ato de resgate da verdadeira história do Brasil. Falar sobre Elizabeth Teixeira é, na verdade, contar uma história que se constrói a contrapelo – desafiando narrativas oficiais e abrindo espaço para as vozes de resistência que desafiaram um sistema excludente e opressor. Sua trajetória é símbolo da luta pela reforma agrária e principalmente do papel transformador das mulheres na resistência camponesa e na construção de um horizonte no qual a igualdade seja uma condicionante.

Em um país profundamente marcado pela desigualdade, sua coragem e determinação continuam a inspirar gerações na busca por justiça, liberdade e igualdade. Quando as portas da história parecem se fechar, por meio de golpes, ditaduras, torturas e perseguições, são figuras como Elizabeth Teixeira que as abrem novamente, nos lembrando que, em última análise, são os povos que escrevem sua própria história.

*Ítalo Aquino é natural de Campina Grande (PB), professor de história e doutorando da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisa as relações de trabalho no campo brasileiro, em especial na Paraíba no período de 1958-1964.

**A opinião contida neste texto não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Paraíba.

Editado por: Carolina Ferreira
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