Em Minas Gerais, eletricitários da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) permanecem em greve devido a alterações no plano de saúde da categoria. A paralisação, que começou na segunda-feira (7), culminou também em uma manifestação nessa terça-feira (8), que reuniu mais de mil pessoas, entre trabalhadores ativos, aposentados e seus familiares, em frente à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
O ato também aconteceu de forma capilarizada em diversos municípios do estado, em organização conjunta entre o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro-MG), Sindicato de Engenheiros no Estado de Minas Gerais (Senge-MG), Associação dos Eletricitários Aposentados e Pensionistas da Cemig e Subsidiárias (AEA-MG) e Associação dos Beneficiários da Cemig Saúde e Forluz (ABCF).
As entidades denunciam questões como a retirada da contribuição mensal da companhia; reajuste abusivo de 60,5% na Cemig Saúde; pressão para que trabalhadores migrem para planos inferiores; e descumprimento de acordos firmados há mais de 20 anos.
“A Cemig Saúde é nossa. E não abriremos mão do que é legítimo, conquistado com luta e unidade. A greve continua”, alertou o Sindieletro-MG, em nota.
O que dizem os eletricitários?
Enquanto acontecia a mobilização, sindicalistas se reuniram com a Cemig para negociações sobre o Acordo Coletivo Específico (ACE) da operadora.
“Como a empresa propôs o reajuste de 60,5% e a retirada de patrocínio, e a gente tem tentado subverter isso, seja na Justiça, seja na negociação, uma das coisas que a gente tem dito na mesa de negociação é que não dá para negociar com a ‘faca no pescoço’, sabendo que, no dia 15, o boleto referente à co-participação que a empresa está transferindo para os beneficiários vence, e as pessoas que não pagarem podem ficar inadimplentes e serem excluídas do plano”, afirmou ao Brasil de Fato MG Emerson Andrada, coordenador-geral do Sindieletro-MG.
Segundo ele, a empresa se recusou a recuar tanto do reajuste, quanto da retirada de patrocínio, mas, como alternativa, apresentou a proposta de, durante o processo de negociação, não permitir que ninguém seja excluído do plano por inadimplência.
No entanto, para Andrade, essa é uma resposta bastante tímida em relação ao problema apresentado.“Isso acaba dando uma segurança para a categoria durante um período muito limitado.”
Uma contra-proposta, porém, ainda não foi apresentada porque as entidades ainda não conseguiram acesso a dados cruciais para que um texto seja construído com base em argumentações sólidas.
“Precisamos de números referentes à inflação médica, à tabela de mortalidade da categoria, aos cálculos atuais dos reajustes, aos custos, à sinistralidade do plano”, afirmou Andrada.
Zema se opõe aos direitos trabalhistas
Fábio Carvalho, aposentado pela Cemig há 13 anos, será uma das pessoas afetadas caso ocorra a mudança. Para ele, não houve um estudo técnico confiável para que fosse apresentada a proposta.
“Desconfiamos deste estudo porque todos os dados de nosso plano não são fornecidos a nossos conselheiros e diretor eleito. A consequência será a inviabilização do plano tanto para os aposentados quanto para os trabalhadores ativos da Cemig”, pondera.
Segundo Carvalho, a greve representa um resgate e valorização das conquistas coletivas, avanços acumulados durante a história e que, neste momento, a mando do governador Romeu Zema (Novo), a diretoria tenta ‘usurpar’, para deixar a Cemig mais atrativa para privatização.
“Essa paralisação também representa um espaço para ensinar o Zema e a diretoria o que é setor elétrico, já que eles não conhecem sobre o assunto, não conhecem a empresa e estão aí simplesmente para desmontar e vender, a qualquer custo”, continua.
A mobilização da categoria eletricitária em torno do plano de saúde, segundo Emerson Andrada, tem sido a mais significativa dos últimos anos. Isso demonstra para empresa e para a sociedade, na avaliação dele, o quão importante é esse direito.
“A greve é por tempo indeterminado, então, a gente continua em luta, continua mobilizado. A manifestação tem por propósito pressionar a empresa a negociar um plano de saúde que seja minimamente viável para os eletricitários”, sinaliza.
Luta persiste
Além dessa reivindicação, Fábio Carvalho chama a atenção que a categoria segue lutando por uma guinada da empresa em relação aos seus objetivos principais.
“Sempre defendemos e continuaremos lutando para que a Cemig retorne ao seu papel de fomentar o desenvolvimento do estado e de seus cidadãos, que ela abandone essa gestão que só objetiva lucros a seus acionistas”, critica.
“Continuamos na luta por uma empresa que preste um serviço de qualidade, preço acessível, e que volte a investir na formação de seus trabalhadores e prestadores para proporcionar uma otimização do trabalho e diminuição dos riscos altos de nossa atividade”, conclui.
No ano passado, o governador encaminhou à ALMG dois projetos de lei (PL) para privatização da Cemig e da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa). As propostas seguem em tramitação na casa legislativa.
Outro lado
Em março deste ano, em meio a vaias dos trabalhadores organizados em mobilização contra as alterações do plano, Reynaldo Passanezi Filho, atual gestor da companhia, afirmou que a sua gestão equilibrou as contas da Cemig e atraiu investimentos. O diretor-presidente da empresa disse ainda que o objetivo é torná-la novamente “indutora do desenvolvimento do estado”.
Além disso, ele justifica que as mudanças no plano de saúde foram feitas a partir de análises “financeiras, jurídicas e sociais” e fazem parte dos esforços da empresa para ajustar as despesas com pessoal.