Os funcionários públicos da cidade de São Paulo (SP) aprovaram por unanimidade uma greve por tempo indeterminado contra o reajuste salarial proposto pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB).
A assembleia se deu em frente à Câmara dos Vereadores e foi acompanhada por uma manifestação, no início da tarde desta quarta-feira (16). Nesta terça-feira (15), os funcionários públicos da educação municipal já haviam aprovado a greve. Agora a paralisação se estende para todo o funcionalismo público do município.
Na semana passada, o prefeito enviou para os vereadores uma proposta de reajuste salarial de 2,6% a ser aplicado a partir de maio deste ano e um segundo reajuste de 2,55% a partir de maio de 2026. O reajuste, no entanto, está abaixo da inflação acumulada desde a última correção. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor do Município de São Paulo (IPC-Fipe), a variação de preços entre março de 2024 e março de 2025 foi de 5,16%.
A categoria reivindica um reajuste linear de 12,9% para todo o funcionalismo e o fim do desconto previdenciário de 14% sobre aposentados e pensionistas, além do aumento do piso salarial para todos os profissionais da educação municipal.
O projeto deve entrar na pauta dos vereadores na próxima semana, de acordo com o líder do governo Nunes na Câmara, Fábio Riva (MDB). O vereador, no entanto, não indicou uma data exata.
Iralene Araújo, servidora da área da cultura, afirma que a “precarização do serviço público é uma constante”. “A prioridade dessas gestões é entregar os equipamentos públicos pagos e mantidos pela população para a iniciativa privada para que os empresários lucrem com isso”, disse a servidora ao Brasil de Fato.
Araújo considerou a proposta de reajuste feita pelo prefeito uma “piada”. “Eu acho muito triste. Se a gente, por exemplo, for comparar com o reajuste concedido ao próprio prefeito. O reajuste concedido ao prefeito foi da ordem de 46%. O servidor público que está na linha de frente atendendo a população ter 2,6% de reajuste é um acinte”, disse. Em janeiro de 2022, após um reajuste de 46%, o salário de Nunes passou de R$ 24.175,55 para R$ 35.462.
“Se ele não se dispuser a negociar com os servidores, a coisa só tende a aumentar de tamanho, porque as pessoas estão muito chateadas, estão se sentindo muito desrespeitadas e muito desvalorizadas”, concluiu.
Da vigilância em saúde municipal, a enfermeira Priscila Pereira lembra que o reajuste é “muito menor do que o valor da inflação”. “Ele simplesmente ignorou as reivindicações e jogou o projeto para ser votado aqui na Câmara. Então a gente veio para cá para pressionar, para que a gente tenha um reajuste. A gente nem está pedindo aumento, é só a reposição da nossa composição salarial, porque 2,5% para esse ano e 2,5% para o ano que vem é muito pouco”, disse Pereira.
Além da remuneração distante da composição salarial, a enfermeira critica as condições de trabalho. “A gente está sofrendo muita pressão, muito assédio. Quando acontece com a gente uma situação de violência, está sendo negada veemente. Outro dia, o teto de uma creche desabou em cima de uma professora, mas não reconheceram que existia uma relação entre o trabalho e o acidente que ela sofreu. Isso tem acontecido sistematicamente “, relata.
Vanda Souza Lima, professora da rede municipal – docente realocada para um novo cargo devido a problemas de saúde, um direito previsto na Constituição Federal –, também classificou o reajuste como um “descaso”. “Falar nessa porcentagem é ridículo, sendo que os índices de inflação mostram valores bem maiores”, afirmou ao Brasil de Fato.
A professora também critica a situação dos professores readaptados na rede municipal, que tinham uma Jornada Especial Integral de Formação (JEIF) até o ano passado. Em 2024, a Prefeitura de São Paulo derrubou a jornada que oferecia 15 horas adicionais para atividades de formação.
“Do dia para a noite, o prefeito também acabou com isso para diminuir o salário, nosso conhecimento. Tiraram algo da gente para diminuir o salário sem perguntar nada. Além do problema de salário, os sindicatos também brigam por isso. Agora imagina uma pessoa que tem esse dinheiro reservado para remédio, aluguel, tudo, do dia para a noite não ter mais, com o preço de tudo aumentando”, disse.
Uma professora da educação infantil municipal que preferiu não se identificar se somou ao coro das críticas à gestão Nunes quando o assunto é funcionalismo público. “O prefeito fala em aumento, mas é reparação salarial, reajuste. São melhores condições de trabalho, como a climatização, porque as escolas estão muito quentes”, diz.
“No ano passado, infelizmente, a gente ainda tinha sido questionada por pedir água gelada para professor. A gente não pode ter uma geladeira, a gente não tem uma cozinha, a gente não tem sala de professor. Você vai para uma uma sala com quatro, cinco, seis alunos deficientes sem subsídios para atender com qualidade”, relata a professora que atua na rede há 20 anos.
“A gente atende a toque de caixa em salas superlotadas, com bebês muito pequenos. Fora que grande parte da minha rede de creches foi privatizada. As nossas colegas das privatizadas são precarizadas. Elas não têm condição para atuar. Se nós servidoras que temos a possibilidade de parar e fazer greve estamos nessas condições, as colegas das redes particulares estão em situação muito pior”, concluiu.
No começo de abril, os funcionários já haviam feito manifestações e paralisações. De acordo com o Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), a mobilização na época foi organizada após “mais uma negociação frustrada com a prefeitura de São Paulo”, que recusou a proposta de 12,9% de reajuste salarial; o fim do confisco de 14% sobre os aposentados e pensionistas; e a incorporação de abonos na carreira de educação.