Mais um caso de violência política foi registrada no Rio Grande do Sul. Dessa vez envolvendo a vereadora e líder do PT na Câmara Municipal de Porto Alegre, Natasha Ferreira, e sua equipe. A parlamentar recebeu na noite de segunda-feira (14), por meio de ligações telefônicas direto no seu gabinete, ameaças à integridade física e ao exercício do mandato. O caso será investigado pela Delegacia de Combate à Intolerância da Capital.
“A violência foi feita por telefone, o que de fato é uma novidade, porque normalmente as ameaças vêm por e-mails, que não conseguimos rastrear. Dessa vez tem um número de identificação, a pessoa se autorizou a ligar. Isso também desvela uma política de ódio”, afirma a parlamentar ao Brasil de Fato RS.
De acordo com Ferreira, as ameaças direcionadas à ela e à sua equipe, continham termos de baixo calão com intuito discriminatórios contra pessoas LGBTI+. O homem, ainda não identificado, teria afirmado que mataria a vereadora e seus assessores.
Após o episódio, a parlamentar pontua que o sentimento que fica é o de alerta e também da necessidade de um cuidado maior com a segurança da equipe e do gabinete. “Não é somente sobre mim. Daqui a pouco a equipe também está aí, como alvo de ódios. Então o sentimento é de cada vez mais atenção, de autocuidado.”
A parlamentar registrou boletim de ocorrência (BO) nesta terça-feira (15).

Violência política como regra
Essa não é a primeira vez que a vereadora é ameaçada. Ante de assumir o cargo já contava com boletins de ocorrência de outras eleições. Desde 2018 as ameaças começaram a se evidenciar. Ferreira cita como exemplo o episódio de quando foi eleita, em 2024. “Na noite que saiu o resultado, com centenas de pessoas comemorando a nossa vitória, um cara com bandeira do Bolsonaro veio na frente do nosso escritório de campanha e me ameaçou de morte. A brigada foi acionada, mas demorou a chegar e ele escapou”, relata.
Além dos casos que a envolvem, a parlamentar lembra de outros episódios de violência política, como os direcionados ao presidente Lula, o assassinato do tesoureiro do PT Marcelo Arruda, em 2022. “Aqui na Câmara já teve um vereador que foi mordido por pessoas da extrema direita. A violência política virou uma regra, uma forma de fazer política. É um símbolo de como eles não têm mais receio de nos ameaçar.”
Para além da violência política, a vereadora também frisa o caráter da transfobia que se vê dentro do Parlamento, quanto em comentários nas redes sociais. “Qualquer debate de cidade que eu faça, seja qual for o tema, a transfobia impera. Isso é consequência também de um afrouxamento de regras, por exemplo, das quebras de decoro. Os políticos vão cada vez mais construindo uma agenda anti-pessoas trans, de ódio. Não anti uma ideia, ou disputa de sociedade, mas uma disputa de ameaças de morte.”
Importância da denúncia
“Fazer o boletim de ocorrência é importante, mais importante agora que o inquérito já foi aberto, para que se investigue, que se ache a pessoa e que a polícia faça a sua parte”, afirma Ferreira.
Conforme enfatiza, trazer essa situação revela o quanto pessoas trans são extremamente atacadas na política, especialmente as mulheres. “Quando a gente fala sobre violência política de gênero, isso também se aplica, por óbvio, às pessoas trans, que têm três vezes mais chances de ameaças. Isso não é por acaso, a gente provoca uma consolidação de sistema. Corpos como o meu, e de outras parlamentares, questiona a raiz de uma questão que é mais emblemática para nós, que é um novo pensamento de sociedade.”
A vereadora chama atenção sobre a importância da divulgação pela imprensa, e da manifestação e apoio de parlamentares de outras esferas, sindicatos. “Isso mostra como violência na política não pode ser naturalizada, de que tem pessoas dispostas a fazer essa disputa também.” Ferreira recebeu declarações de solidariedade da presidência municipal do PT em Porto Alegre, dos vereadores da oposição, de deputados estaduais e federais, além de coletivos de direitos humanos e de trabalhadores.
Por fim, ela reforça a necessidade de se criar protocolos de segurança para que se possa exercer os mandatos de forma mais tranquila e para que certas falas não possam ser proferidas enquanto liberdade de expressão.
“Desejar a morte de alguém ou a doença para alguém não é uma liberdade de expressão plausível do ponto de vista do Parlamento. As pessoas precisam de um apoio extra para que tenham segurança. Os partidos precisam criar protocolos de segurança. A gente nunca sabe quando as agressões podem de fato acontecer. Entendo que é uma questão complexa, envolve questão financeira, mas há uma necessidade de pensar isso, para que a gente não tenha medo, daqui a pouco, de não se candidatar por conta da insegurança”, finaliza.
