Ao longo dos nove dias da greve de fome que fez nas dependências da Câmara dos Deputados para protestar contra o processo de cassação de que é alvo, o psolista Glauber Braga (RJ) recebeu o apoio de correligionários do segmento progressista, mas também de alguns parlamentares do campo da direita, do qual é adversário no jogo político do Congresso. Entre os nomes que se colocaram contra a perda de mandato do parlamentar fluminense, estão integrantes de siglas como MDB; PSD; Republicanos; União Brasil; e até mesmo do PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro; e do PP, legenda à qual pertence o ex-mandatário da Câmara Arthur Lira (AL), que o Psol acusa de estar por trás do pedido de perda de mandato – o pepista nega participação no processo e tem adjetivado a acusação como “ilegítima”.
Braga encerrou o jejum no final do dia desta quinta (17), após um acordo costurado entre o Psol e o atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Ele recebeu, na segunda (14), visitas dos deputados Cleber Verde (MDB-MA) e Ribamar Antônio da Silva (PSD-SP). Este último pertence à mesma sigla do relator que pediu a cassação de mandato do psolista no Conselho de Ética, Paulo Magalhães (BA). Na terça (15), foram até o encontro de Braga para prestar apoio Antônio Carlos Rodrigues (PL-SP) e Fausto Pinato (PP-SP), sendo este colega de partido de Lira.

“Somos de campos diferentes, mas sempre tivemos um bom relacionamento e não aprovo a conduta dele no episódio, mas isso não é motivo para cassação. Uma advertência ou uma suspensão, ok, mas cassar o mandado dele, sou contra. Fui prestar minha solidariedade a ele e desejar força. As ideologias estão deixando ambos os lados cegos, com ódio e sem discernimento. E confesso que está muito difícil neste momento político se manter moderado, pois os ataques são de ambos os lados. Glauber deve ficar [no mandato], e ponto. Ele deve ser advertido, assim como outros de esquerda e da ultradireita golpista”, defendeu Pinato, em conversa com o Brasil de Fato.
Antônio Carlos Rodrigues, que nos últimos dias foi criticado pela extrema direita por ter sido o único parlamentar do PL a não assinar o pedido de urgência para anistia aos envolvidos no 8 de janeiro, também comentou o apoio a Glauber Braga, ao ser procurado pela reportagem. “Fui visitar, sim. Sou amigo da esposa dele, a deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP), que, inclusive, foi vereadora em São Paulo. Minhas amizades são pautadas pela humanidade, e não por ideologia”, resumiu.

Na quarta (16), um dia antes de o Psol anunciar o fim da greve de fome, foi a vez de o deputado José Rocha (União-BA) visitar Braga. O ex-deputado e ex-vice-presidente da Câmara Marcelo Ramos (PSD-AM), contemporâneo do psolista na última legislatura [2019-2022], também esteve no local para prestar solidariedade. Na sequência, ele se manifestou sobre o assunto por meio de seu perfil no Instagram.
“Respeito profundamente a combatividade do Glauber, ao mesmo tempo em que tenho profundas restrições por alguns métodos do deputado, principalmente os métodos de extrema violência discursiva contra colegas de parlamento, mas não é isso que está em discussão neste processo de cassação. O que está em discussão é a garantia do pleno e livre exercício de um mandato legitimamente concedido pelo povo do estado do Rio de Janeiro. A antipatia de deputados pela violência retórica do deputado Glauber não pode justificar a cassação do mandato”, argumentou.
Ramos mencionou o episódio que fez a bancada do partido Novo ingressar com uma representação contra Braga no Conselho de Ética em abril de 2024: naquele mesmo mês, o psolista se envolveu em um bate-boca que chegou às vias de fato com um militante de extrema direita ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL). Na ocasião, o integrante da entidade xingou a mãe de Braga e o deputado reagiu com empurrões e chutes, expulsando-o da Câmara.
“O que está em discussão não é nem mesmo o chute na bunda daquele militante do MBL, por dois motivos: primeiro, porque atos muito mais violentos já foram cometidos dentro da Câmara dos Deputados sem que tenha ocorrido a punição de cassação do mandato; e, segundo, porque talvez seja o momento de nós refletirmos sobre qual é o limite da violência contra pessoas públicas. O deputado é uma pessoa pública. Um moleque como aquele pode dizer o que bem entende, ofender a mãe do deputado, agredir o deputado dentro do espaço da Câmara dos Deputados? Não existe limite nenhum para isso? É preciso tolerância absoluta porque um não é pessoa pública e o outro é uma pessoa pública”, acrescentou Ramos.
Também houve parlamentares que não foram até o local, mas se manifestaram contra a cassação de outra forma. É o caso do deputado Otoni de Paula (MDB-RJ). Ao subir na tribuna da Câmara para fazer um pronunciamento na semana passada, ele criticou o Psol por ter defendido a perda de mandato do agora ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), ao mesmo tempo em que defendeu que a Casa não deveria destituir Braga do posto.
“Agora o mal se volta contra o Psol, mas vingança não faz parte deste lado dessa tribuna onde está este deputado. Pelo menos eu não tenho esse comportamento. Acho que o deputado Glauber Braga deve se manter no mandato e somente a população é que deve ser juiz neste caso de determinar se ele fica ou se sai. Ele foi provocado, sim, nesta Casa. Ele foi agredido verbalmente, sim, nesta Casa. Ele teve uma reação que não deveria ter tido, mas existem outros expedientes que esta Casa pode usar, como suspensão temporária, como um ato de correção pública. Existem outros expedientes. A cassação do mandato de um deputado federal deve ser em última instância”, considerou.
Durante uma fala feita no plenário do Senado no início deste mês, o senador Cleitinho (Republicanos-MG) também comentou o assunto e se disse contrário ao parecer que mira a perda de mandato do fluminense. “Sabe o que aconteceu na Câmara? O Glauber, que é deputado federal – se eu não me engano, é do Rio de Janeiro –, pode ter seu mandato cassado. Parece que entrou agora um relator que votou até pela cassação dele. Eu penso igual ao Glauber? Não. Acredito que a maioria [das vezes] aqui, se for [em termos de] projetos, eu vou votar contrariamente ao Glauber, como o Glauber também vai votar contrariamente a mim. O que aconteceu? O Glauber errou? Ele errou. Parece que entrou um youtuber lá na Câmara, foi questionar ele, ele ficou mais nervoso, empurrou esse youtuber, mas cassar o mandato dele?”, afirmou Cleitinho.
O parlamentar comentou o assunto criticando a polarização política. “Cada dia [a mais] dessa torcida de Cruzeiro X Atlético, Flamengo X Fluminense, Vasco X Flamengo, Palmeiras X Corinthians, a gente enfraquece a democracia. O Glauber não tem que ser cassado. Pode ser até punido, ficar três meses sem usar a palavra, por exemplo, mas cassar o mandato dele, não. Daqui a pouco é o Gustavo Gayer (PL-GO), que é de direita, que vai estar lá na Comissão de Ética pra ser cassado também. E outra coisa: nosso país aqui é isto aqui mesmo. É a democracia. Quando vêm senadores pra cá, vêm deputados federais pra Câmara, vem de todos os jeitos. É injusta a cassação do Glauber, e sabe o que é mais injusto ainda? Ver um relator que está pedindo a cassação dele, uns tempos atrás, aí [da votação do caso] do Brazão, não votar para cassar o Brazão, que é [acusado de ser] um dos mandantes do assassinato da Marielle Franco”, comparou.