Por volta das 20h desta quarta-feira (16), milhares de trabalhadores rurais sem terra encerraram a Marcha em Defesa da Reforma Agrária em frente ao Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo de Pernambuco. A mobilização teve início por volta das 8 horas da manhã. O protesto passou pela sede regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e, à tarde, houve um encontro com a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD).
Ao fim das atividades, o dirigente nacional do Movimento Sem Terra (MST) Jaime Amorim se mostrou otimista sobre os resultados. Em conversa com o Brasil de Fato Pernambuco, ele afirmou que a reunião com Lyra foi positiva. “Muito mais que reivindicar, nós colocamos propostas de como resolver o problema da produção de alimentos em Pernambuco”, disse Amorim. “Ela se mostrou receptiva, mas daremos seguimento junto com as secretarias”, explica o dirigente sem terra.
Participaram da reunião o secretário Túlio Vilaça, da Casa Civil, e o deputado licenciado Henrique Queiroz Filho (PP), que hoje é preside o Instituto de Terras e Reforma Agrária de Pernambuco (Iterpe). Segundo Jaime, o andamento das demandas do MST dentro do governo será conduzido por Cícero Moraes, secretário de Desenvolvimento Agrário, Agricultura, Pecuária e Pesca.
- Dois dias após atropelar militantes do MST no Recife (PE), motorista segue foragido; vítima está em coma
- ‘Vivemos uma crescente violência contra quem luta por terra’, diz Rosa Amorim após atropelamento de militantes do MST em PE
Amorim afirma que o objetivo da reunião foi discutir a importância do desenvolvimento dos assentamentos rurais em Pernambuco, a transição para a agroecologia, além de questões nas áreas de saúde e educação. “Temos condições de ser um grande produtor de alimentos saudáveis no estado. Mostramos o que precisamos para avançarmos. A juventude precisa de escolarização e formação técnica, senão ela sai do campo. São eles que vão combater o aquecimento global, plantar árvores, agroflorestas e melhorar o plantio”, disse Jaime.
A deputada estadual Rosa Amorim (PT) classificou o dia 15 como uma data “importante para entregar uma perspectiva de futuro” para os camponeses de Pernambuco. “Reforma agrária não é assunto só do trabalhador rural, mas de todos os que se alimentam dos frutos da terra. Sem a agricultura camponesa nós não vamos conseguir matar a fome do povo. Se o campo não planta, a cidade não janta”, discursou a parlamentar.
Demandas
O movimento apresentou uma pauta cerca de 30 itens, distribuídos em 10 áreas. Nas demandas relativas à terra e produção de alimentos, o MST deseja que o governo do estado garanta, via Iterpe, a criação de assentamentos rurais em Água Preta, Catende, Timbaúba – na massa falida do Grupo João Santos em Goiana –, em Moreno e numa área de 200 hectares que restou da construção da penitenciária em Araçoiaba.

Ja a reunião no Incra contou com a presença do presidente nacional da instituição, César Aldrighi. Estava na pauta a criação de assentamentos nas áreas da Embrapa (em Petrolina) e na Usina Santa Teresa (Goiana), além do atendimento total da demanda por crédito habitacional na comunidades rurais. “Foi muito boa a reunião. Conseguimos que o Incra conclua a criação dos assentamentos e libere crédito para construir casas nos assentamentos Che Guevara, Luiza Ferreira, Filhos da Luta, Lagoa da Vaca e Maria Paraíba”, disse Jaime.
Para os assentamentos já estabelecidos, o movimento demanda do governo Raquel Lyra avanços no abastecimento de água, um programa de distribuição de sementes crioulas, o incentivo ao plantio de arroz e milho crioulo, o incentivo para a criação de peixes em assentamentos e o fomento via Adepe para agroindústrias de pequeno porte.
O movimento também deseja que o governo estadual estimule a instalação de energia solar em assentamentos rurais, construa escolas de ensino médio no campo, fortaleça a educação de jovens e adultos (EJA) no campo e apoie a realização de encontros tanto de professores que atuam nas zonas rurais, como de crianças rurais.
- Trabalhadores rurais vivem dias de terror na zona da mata sul de Pernambuco
- MST ocupa terras de usina de cana condenada por assassinato de trabalhador grevista, em Goiana (PE)
- Governo não age, Justiça dá ordem e Polícia despeja mais de 500 famílias rurais no Sertão de Pernambuco
Além disso, os sem terra pedem apoio governamental para um evento esportivo voltado para camponeses, festas juninas nas áreas rurais, para feiras da reforma agrária no Recife e em Caruaru, a criação de programas de hortas medicinais, farmácias vivas e quintais produtivos liderados por mulheres, além da regulamentação e efetivação do Programa Estadual de Aquisição de Alimentos e Agricultura Familiar (Peaaf), já aprovado na Assembleia Legislativa.
Violência
Amorim confirmou que o atropelamento de dois militantes do MST no início da marcha também foi assunto na reunião com a governadora. “Foi o primeiro ponto. A governadora se manifestou e colocou um dos secretários para acompanhar a situação e ligaram para o hospital. O presidente do Incra também foi na Restauração conversar com a família”, relata o dirigente.
- Homem atropela militantes do MST durante marcha pela reforma agrária no Recife; idoso está em estado grave
- ‘A marcha do MST no Recife é uma demonstração de que o povo não vai recuar’, diz João Paulo
Ele considera que “a solidariedade é muito importante para mostrar que a violência não pode ser aceita”. “O companheiro Gideone vai voltar para a luta”, discursou Jaime, para os aplausos de uma multidão de agricultores que aguardava do lado de fora do Palácio do Campo das Princesas.
