Nós já mostramos, no Brasil de Fato, o contexto social e político que levou ao surgimento de grande movimentos populares de luta pela reforma agrária, como é o caso do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), criado em 1984.
Também tratamos, quase diariamente, de experiências coletivas em assentamentos e acampamentos pelo Brasil que apontam para soluções sustentáveis de futuro. É um modelo produtivo que gera trabalho e comida saudável ao mesmo tempo em que recupera a biodiversidade e preserva recursos naturais.
Agroecologia, sistemas agroflorestais, produção orgânica, recuperação de florestas e nascentes — tudo isso envolvendo pessoas, comunidades e famílias, e gerando renda. É disso que queremos tratar cotidianamente.
Se o capitalismo parou de dar respostas materiais para a maioria da população ao negar elementos básicos para uma vida digna, precisamos falar de soluções para os dilemas da humanidade. E a reforma agrária popular, proposta para o Brasil, é exemplo disso.
Esse projeto popular de país, tão em falta hoje em dia — vide o derrapante governo Lula 3 — colhe frutos até mesmo em vizinhos, como é o caso da Venezuela, onde o MST vai empregar sua tecnologia para produzir agroflorestas em 180 mil hectares.
Mas essa luta que dá resultados práticos tão bonitos, infelizmente, também é marcada pelo massacre sistemático de famílias sem-terra. Quem ousa desafiar a arcaica estrutura fundiária brasileira, ocupar um pedaço de terra, recebe em troca violência, do Estado e do agronegócio.
Hoje, 17 de abril, relembramos os 29 anos do Massacre de Eldorado de Carajás. Na Curva do S, 19 homens e mulheres sem-terra assassinados pelo estado brasileiro. Um marco triste na história brasileira que ficou eternizado no calendário oficial como Dia de Luta pela Reforma Agrária, mas que está longe de ser exceção.
Lembremos de Colniza (MT), Pau D’Arco (PA), dos mortos no assentamento Olga Benário, em Tremembé (SP) este ano. De 1985 até 2019, a Comissão Pastoral da Terra contabilizou 50 massacres no campo no Brasil.
Desde o massacre em Eldorado, o MST promove ações em todo o país para relembrar as vítimas da violência no campo com mais luta.
A Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária deste ano também ficou marcada por violência. Na terça (15), um homem atacou com seu carro uma marcha de camponeses do MST em Recife (PE). Duas pessoas foram atropeladas. Um acampado de 67 anos está internado em estado crítico.
Nós, do Brasil de Fato, esperamos viver para noticiar a luta pela reforma agrária como sinônimo de vida, não mais de violência e morte.
Como diz nosso colunista Leonardo Boff, uma referência da Teologia da Libertação, “a Terra viva gera todos os seres vivos e nós”. Ele também nos aponta “razões para o pessimismo esperançoso”: “O caos não é apenas destrutivo, mas também generativo, pois nele está maturando uma nova ordem”.
É simbólico que, neste ano, o 17 de abril tenha coincidido com a semana de Páscoa. A história de Jesus, filho de camponeses pobres e peregrino em luta pela justiça social, foi determinante para a formação de movimentos de luta pela terra tão massivos como o MST.
Não haverá futuro possível sem terra para dar trabalho e de comer a tanta gente. Se deixarmos a lógica do agronegócio prevalecer, a soja vai tomar conta do Brasil. Ótimo para os números do PIB e de exportações, ruim para quem está vivo e precisa comprar comida para seguir assim. Ruim, também, para quem prefere comer sem veneno, para quem não gosta de beber agrotóxico, para quem não quer respirar fumaça e para quem acha que é melhor renda para milhares de famílias do que lucro para um único fazendeiro.
Estamos atentos, e não vamos deixar de denunciar. Não esqueceremos daqueles que perderam a vida tentando plantar futuro. Não perdoaremos os responsáveis pela violência que marca nosso povo e nossa história. E você pode nos ajudar a seguir nesta luta apoiando o trabalho do Brasil de Fato.
Viva a luta pela reforma agrária, viva o Brasil de Fato.
Rodrigo Chagas
Coordenador de Redação.