O aumento expressivo da violência nas escolas brasileiras, que triplicou nos últimos dez anos, não surpreende quem acompanha de perto a realidade da educação. Para a especialista no tema, Miriam Abramovay, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), o alerta já vinha sendo dado há muito tempo, mas só ganhou mais atenção após os atentados que chocaram o país nos últimos anos.
“A agressão física é cotidiana nas escolas. Muitas vezes, ela é vista como linguagem para resolver conflitos”, explica Abramovay, em entrevista ao Conexão BdF, do Brasil de Fato. Segundo ela, o ambiente escolar deixou de ser um espaço respeitado para se tornar palco frequente de brigas, agressões verbais e físicas, violência institucional, sexual e até a entrada de armas.
A pesquisadora destaca ainda que enfrentar essa crise não pode ser responsabilidade apenas dos professores. “Precisamos de uma política pública ampla. A escola deveria ser um lugar de proteção, e não mais um espaço de risco; ela também tem que ser protegida”, defende. Ela destaca a urgência de valorizar o magistério não apenas com melhores salários, mas com formação continuada, que prepare os profissionais para lidar com a juventude e com temas como a violência escolar.
“Não podemos esquecer que 97% das crianças estão nas escolas. Mesmo que adolescentes e jovens evadam mais, a escola continua sendo a principal instituição social que eles frequentam”, completa. Segundo ela, é essencial criar ambientes com gestão democrática, escuta ativa e participação de toda a comunidade escolar. “Os professores não são culpados pelos dados. Eles também sofrem violências, inclusive institucionais. Precisam ser protegidos e admirados”, acrescenta.
A pesquisadora chama atenção também para os limites do conceito de bullying. “Hoje tudo é chamado de bullying, mas é importante diferenciar. Automutilação, suicídio, agressões físicas são fenômenos de violência em si”, afirma. Ela aponta ainda o papel das redes sociais na visibilidade desses episódios, especialmente entre os chamados “jovens de quarto”, que se isolam e buscam uma forma de pertencimento nesses espaços online, muitas vezes tomados por grupos neonazistas, os quais a especialista acompanha com preocupação.
“Ninguém sabe muito bem o que os jovens estão fazendo na internet. Temos muitas redes sociais voltadas para o crime hoje, que estão instigando esses jovens a se automutilarem e até mesmo chegarem ao suicídio. O problema tem a ver com as redes”, alerta.
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