Paulo Leminski (1944 – 1989) será o autor homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que celebra em 2025 sua 23ª edição. Pela primeira vez desde a pandemia, o evento retorna ao período tradicional, no meio do ano, entre os dias 30 de julho e 3 de agosto.
O multiartista assina uma obra vasta e variada, começando com seu romance experimental Catatau (1975, publicação independente), considerado uma inovação na prosa brasileira. O escritor publicou ainda traduções de autores como James Joyce e Samuel Beckett, biografias eruditas e parcerias musicais com grandes nomes, como Moraes Moreira, Itamar Assumpção, Gilberto Gil, Caetano Veloso, além de ser publicitário e judoca faixa-preta – fato que faz questão de incorporar ao seu inventário criativo.
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Porém, mais do que tudo isso – ou justamente por conta de tudo isso – Leminski era um poeta. O autor foi influenciado pelo concretismo e o haikai japonês, deixando sua marca com a poesia pop e iconoclasta.
“Sua produção em prosa e em textos críticos é fundamental para entender um contexto da produção literária brasileira, que passa pelo concretismo, tão importante na poesia brasileira, mas também por um processo de multiplicação, com a poesia marginal, a autopublicação e a democratização literária como um todo”, conta a curadora literária Ana Lima Cecilio na divulgação do homenageado da Flip 2025.
Leminski ficou conhecido por criar um trânsito natural entre o culto e o jargão publicitário, que torna a obra dele acessível ainda hoje para diferentes gerações. Ele defendia que a erudição só fazia sentido se chegasse nas pessoas. Não por acaso, mesmo quem não tem o hábito da leitura provavelmente já se deparou com algum verso do curitibano.
Para Mauro Munhoz, diretor artístico da Festa, “Ele era mestre em criar deslocamentos que fazem da arte algo inevitável. Por isso Leminski pensava em formas de fazer literatura a partir da cidade. A Flip a seu modo, a partir de um desejo sinérgico, pensa em formas de fazer cidades a partir da literatura em seu campo expandido. Na companhia de Leminski, a 23ª Flip será mais uma vez uma experiência na qual as pessoas poderão viver, ao menos por alguns dias, a utopia na qual a cidade é invadida pela literatura, que transforma a experiência urbana coletiva”.
O artista do bairro curitibano de Pilarzinho é o primeiro sulista a ter sua obra celebrada no evento. Foi casado com Alice Ruiz, também escritora, com quem compartilhou criações literárias e teve duas filhas. Atualmente a maior parte de sua obra é publicada pela Companhia das Letras, mas em vida o escritor começou com publicações independentes, entrando depois para o catálogo da editora Brasiliense.
Além de nortear a programação dos cinco dias da Festa, a vida e obra do autor escolhido serão abordadas mais profundamente no Ciclo do Autor Homenageado, evento que é realizado em São Paulo, antes da data da Flip.
Flip de volta ao inverno
Após a realização de duas edições online (2020 e 2021), por conta das restrições sanitárias da pandemia de covid-19, e mais três edições realizadas entre os meses de novembro e outubro (2022 a 2024), neste ano a festa literária volta a ser realizada no período do inverno. Desde sua primeira edição, em 2003, essa era a data habitual para a realização do evento.
As altas temperaturas e tempestades do verão exigiram adaptações climáticas para possibilitar a realização das atividades da programação. Além disso, os comerciantes e trabalhadores do turismo de Paraty contavam com o evento no meio do ano para manter o movimento na baixa temporada, equilibrando o calendário com o restante do ano.