O Paquistão anunciou medidas diplomáticas de retaliação contra a Índia nesta quinta-feira (24), em resposta às ações do vizinho após um ataque contra turistas na Caxemira, pelo qual Nova Deli culpa Islamabad. Essa escalada brusca é o capítulo mais recente de um impasse entre as duas potências nucleares desde o ataque da última terça-feira (22) na região em disputa, que deixou 26 mortos.
“Qualquer ameaça à soberania do Paquistão e à segurança de seu povo será enfrentada com medidas rígidas de reciprocidade”, alertou o gabinete do primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, em um comunicado após uma reunião do Comitê de Segurança Nacional. Além disso, o governo paquistanês anunciou a suspensão de “todos os vistos emitidos para cidadãos indianos e o cancelamento deles com efeito imediato, exceto aqueles emitidos para peregrinos religiosos sikh”.
O último capítulo da tensão entre os dois países começou na terça-feira (22), quando homens armados abriram fogo contra turistas em Pahalgam, em um ataque que não foi oficialmente reivindicado. A Chancelaria indiana acusou o Paquistão de “apoiar o terrorismo transfronteiriço”, mas o país alega que a Índia o acusa “sem provas”.
Região disputada
A Caxemira é uma região dividida entre a Índia e o Paquistão desde a independência do Reino Unido em 1947. Apesar de a maioria da população – cerca de 60% – ser muçulmana e desejar ser integrada ao Paquistão, o país detém apenas 37% de seu território. A Índia administra 43% da área e a China, os 20% restantes. Com fronteiras disputadas, a região é considerada uma das mais militarizadas do planeta.
Durante a Guerra Fria, o Paquistão recebeu apoio dos Estados Unidos e a Índia, da União Soviética. Ambos passaram a fazer investimentos no setor bélico e hoje estão no seleto grupo dos nove países que têm armas nucleares, o que reforça as tensões na região.
Além da disputa religiosa, a região é considerada estratégica do ponto de vista hídrico, porque abrange as nascentes dos principais rios da Índia e do Paquistão – Ganges e Indo, respectivamente. A Índia anunciou na quarta-feira o bloqueio de um tratado de compartilhamento de água entre os dois países, o fechamento do principal posto de fronteira terrestre entre os dois vizinhos e a redução de sua equipe diplomática.
“O tratado de 1960 sobre as águas do Indo será suspenso com efeito imediato até que o Paquistão renuncie de forma confiável e irrevogável ao seu apoio ao terrorismo transfronteiriço”, disse Misri a jornalistas em Nova Deli.
Teoricamente, o tratado compartilha a água entre os dois países, mas tem causado muitos litígios. O Paquistão teme que a Índia restrinja seu acesso à água, o que afetaria sua agricultura. O ministro da Defesa paquistanês Khawaja Asif declarou que “a Índia está travando uma guerra de baixa intensidade”.
“Se a situação escalar, estamos preparados. Para proteger nossa terra, não cederemos a nenhuma pressão internacional”, declarou o ministro em entrevista coletiva.
Repressão violenta
A Índia é acusada de reprimir violentamente manifestações políticas, temendo insurgências separatistas. Desde a tentativa de independência de 1989, a repressão intensificou-se, resultando no assassinato de mais de 70 mil pessoas nos últimos trinta anos. As principais vítimas são integrantes de movimentos que lutam pela independência da região.
Do lado indiano, há um militar para cada seis caxemiris, totalizando 100 mil soldados. A região é a mais militarizada do mundo. Em agosto de 2019, o o governo de extrema direita de Narendra Modi, da Índia, revogou a autonomia constitucional da Caxemira, conquistada em 1947, e cortou até o acesso à internet.