A cidade russa de São Petersburgo é conhecida como a capital cultural do país, marcada por seu legado como expoente das mais diversas manifestações artísticas que moldaram a cena russa ao longo dos séculos. Do balé à literatura, do teatro às artes plásticas, da música clássica à poesia, foi planejada para ser a vitrine da cultura da Rússia.
Manifestações artísticas modernas e internacionais também se entrelaçam com a vasta tradição da cidade. Criada como uma janela do país para a Europa, seu simbolismo de abertura a outras culturas permanece vivo, influenciando até mesmo o cenário do jazz – uma cena repleta de particularidades que conectam a história local ao desenvolvimento do gênero como forma de arte.
Esta edição do Bem Viver, programa do Brasil de Fato, celebra o Dia Internacional do Jazz, em 30 de abril, destacando a cena jazzística da ex-capital russa – que já foi Petrogrado e Leningrado. Em 2018, já com o atual nome de São Petersburgo, a cidade foi reconhecida pela Unesco como capital global da data, título instituído em 2011.
O que primeiro chama a atenção é a grande variedade de espaços dedicados ao jazz – clubes, bares e salas de concerto exclusivas para o gênero. A cidade mantém um forte legado de excelência musical, reunindo músicos de diferentes gerações que fortalecem a cena local, consolidando São Petersburgo como um epicentro do jazz na Rússia. Mas há mais: a própria identidade cultural da cidade dialoga com os fundamentos do jazz como forma de arte.
O compositor e músico Konstantin Khazanovich destaca essa herança, lembrando que São Petersburgo foi construída pelo czar Pedro I justamente para ser uma “capital da cultura”.
“Houve um tempo em que a cidade era a capital cultural da Europa, e até do mundo, no século 19. A Rússia era líder no cenário europeu, especialmente após as guerras napoleônicas, quando artistas de toda parte queriam vir para cá, porque era onde tudo acontecia – um terreno fértil para a cultura florescer. Esses alicerces ainda permanecem: a quantidade impressionante de museus, teatros e salas de concerto é parte da essência da cidade. E quando tantos artistas – atores, músicos, compositores, pintores – compartilham o mesmo espaço, a cultura se expande naturalmente”, explica.
Foi sob essa herança cultural que o jazz foi se desenvolvendo na cidade na segunda metade do século 20 até os dias atuais. Um dos exemplos mais marcantes dessa trajetória é a Jazz Filarmônica de São Petersburgo – a única instituição do mundo dedicada exclusivamente ao gênero. Fundada em 1° de janeiro de 1989 por iniciativa do multi-instrumentista David Goloschekin, considerado Artista do Povo da Rússia, a filarmônica mantém uma orquestra com vasto repertório e duas salas de concerto que recebem artistas locais e internacionais.
Polina Koryagina, produtora da Jazz Filarmônica, explica: “Desde o princípio, a instituição foi criada para ser um lugar não só de promoção do jazz como forma de arte séria, mas também onde as pessoas podem ouvir estrelas do jazz mundial, músicos locais, e conhecer diferentes vertentes do gênero, desde o jazz antigo e mainstream até o de vanguarda”.
Para honrar esse legado, a Filarmônica de Jazz abriga um pequeno mas significativo museu dedicado à história do gênero na cidade. “O museu representa o desenvolvimento do jazz em Leningrado através de diferentes épocas, com materiais de arquivo e fotografias raras”, detalha Koryagina. Uma das peças mais emblemáticas do acervo registra um encontro histórico: em 1971, os músicos da orquestra do grande compositor norte-americano Duke Ellington se reuniram com artistas locais para uma memorável jam session.
“Os músicos se encontraram nessa jam session que ficou para a história, com improvisações marcantes. Na ocasião, participou o próprio David Goloschekin, então jovem músico, que mais tarde se tornaria nosso diretor artístico”, relata a produtora. “Anos depois, quando a Filarmônica foi inaugurada, uma de nossas salas foi batizada de Duke Ellington Hall em homenagem a esse encontro histórico”.
O florescimento do jazz em São Petersburgo ganhou força justamente durante as turbulências da dissolução da URSS nos anos 1990. O músico Konstantin Khazanovich destaca o papel dos pioneiros: “David Goloschekin não foi apenas um músico, mas um ideólogo, um motor que movimentou não só o jazz, mas promoveu uma nova forma de pensamento, uma nova maneira de apreender o mundo”.
Khazanovich ressalta a sintonia entre o jazz e o espírito da cidade fundada por Pedro, o Grande como “janela para a Europa”: “O jazz representa uma camada cultural de Petersburgo. É uma cidade de pessoas sensíveis, mas reservadas, e o jazz oferece justamente essa possibilidade de experiência coletiva, de abertura. Por isso exerce até hoje um papel importante como fenômeno musical da cidade”.
Assim, entre salas de concerto, museus que preservam memórias preciosas e jam sessions históricas, São Petersburgo consolida-se como terreno fértil onde o jazz – essa arte nascida do diálogo entre culturas – encontrou um lar russo cheio de vitalidade e tradição.
E tem mais…
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