A tradição camponesa de preservar e compartilhar as sementes crioulas segue forte na Linha Fiuza, interior de Panambi (RS). Cerca de 30 pessoas, entre pequenos agricultores e agricultoras, familiares e amigos se reuniram, no último sábado (26), para celebrar mais uma colheita do arroz agroecológico e também para prestar homenagem ao papa Francisco.
Cultivado em forma de mutirão, o arroz agroecológico do grupo resgata técnicas tradicionais e agrega saberes mais recentes da agroecologia. O encontro teve cardápio camponês no almoço, celebração da missa em comunidade, atividades de colheita manual na lavoura de arroz, troca de sementes. Também foi feito o plantio de uma muda de pitangueira em honra ao papa.
“Hoje plantamos uma árvore na terra, assim como Francisco plantou em nossos corações boas palavras”, disse o padre Kleiton Turella Moraes ao Brasil de Fato RS após a celebração da missa camponesa.

O religioso lembrou das palavras de ordem que costumam ser repetidas nos movimentos sociais nos momentos de grandes perdas. “Aqui nós nos desafiamos a ir do luto à luta. O legado do papa Francisco nos desafia a cada um e cada uma fazer a sua parte e quando testemunhamos o que fazem as pessoas integrantes deste mutirão, temos certeza de que as palavras de Francisco foram bem compreendidas e vão seguir sendo colocadas em prática.”
Segurando uma espiga de milho crioula, Pedro Kunkel, guardião de sementes crioulas de referencia para o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) no RS, lembrou que para os camponeses e camponesas “Deus é pai e também é mãe”. E que abençoa a todos e todas que buscam cuidar da Casa Comum, que compreendem a ecologia integral, que respeitam a todas as formas de vida e as maneiras como elas se entrelaçam na criação.
“Levamos o compromisso do legado do papa Francisco, que sejamos muitos outros Franciscos plantando árvores e semeando semente boa na certeza de que a vida sempre prevalece sobre a morte”, disse.

Anfitrião da atividade, Jorge Fiuza falou que o momento foi muito emocionante para todos e que ganhou ainda mais significado ao coincidir com o dia em que o papa Francisco foi sepultado, ou seja, retornou à terra como retornam as sementes. “Cada um e cada uma que participou aqui conosco hoje sai dessa atividade motivado para seguir adiante, levando consigo em uma mão o tema das sementes crioulas e na outra os ensinamentos deixados pelo papa Francisco, com a tarefa de multiplicar e compartilhar ambos.”
Marlene Padilha reafirmou a importância dos pequenos agricultores e agricultoras, “essa classe que se dica a plantar flores, a cuidar das plantas medicinais, a preservar a natureza, guardiões e guardiãs que produzem e compartilham as sementes crioulas”. Deu como exemplo a ser seguido o trabalho em mutirão desenvolvido naquele território, onde mesmo com a estiagem que castigou as plantações, o arroz produzido sem veneno e sem utilização de insumos químicos ainda rendeu uma colheita que vai garantir comida boa na mesa dos agricultores e suas famílias, bem como partilha com os trabalhadores e trabalhadoras urbanos.

Recentemente o grupo de produtores agroecológicos de Panambi foi incluído em um projeto apoiado por emenda parlamentar do deputado federal Dionilso Marcon (PT-RS). Com o recurso foi possível adquirir um descascador de cereais. Embora sua agenda não tenha permitido participar presencialmente da atividade, Marcon enviou uma mensagem parabenizando aos companheiros e companheiras e reafirmando a disposição da sua equipe em seguir contribuindo com as demandas dos guardiões e guardiãs de sementes crioulas.
