Na manhã desta quinta-feira (1º), Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, o movimento Vida Além do Trabalho (VAT) reuniu cerca de 15 mil pessoas na avenida Paulista, em São Paulo (SP), em protesto pelo fim da escala 6 por 1.
“Eu trabalhei numa empresa como telemarketing de segunda a sexta-feira e acabei pegando depressão, em dois meses de empresa na escala 6 por 1”, contou o auxiliar de produção Matheus Rigonati, que segurava uma das faixas do movimento com dizeres “Pela vida além do trabalho”.

A jornada na empresa de telemarketing começava às 5h, quando o jovem pegava o transporte, para começar a trabalhar às 8h. Na época, ele recebia um salário de R$ 600 como estagiário, além de R$ 200 de auxílio-transporte.
Ele mudou de emprego, mas continua submetido à jornada exaustiva de trabalho, agora em uma fábrica em Guarulhos (SP). Na atual ocupação, Rigonati puxa peso na linha de montagem. “Melhorou, porém poderia acabar com essa escala 6 por 1. (…) A gente não tem tempo para ficar com a nossa família”, diz.
Além do cansaço e da falta de tempo para o lazer, jovens como Rigonati se veem presos a uma rotina onde não há espaço para investimento na carreira e a mobilidade social.

“A periferia está cansada”, afirma a deputada estadual Ediane Maria (Psol). “O jovem da periferia é o filho de uma empregada doméstica, ou de uma babá, ou de uma diarista, ou de um pedreiro, ou de um pintor, que viu seus pais sem registro de carteira.”
Para esses jovens, o trabalho com registro em carteira surge como uma garantia de uma vida melhor para eles e para suas família. “Só que, no final do dia, é um jovem que está sobrecarregado, um jovem que está sendo explorado e que não consegue mudar essa realidade”, alerta a deputada. Acabar as escalas exaustivas é uma forma de garantir dignidade da população, sobretudo dos mais pobres, defende.
“A gente não planeja a vida. Perde aniversário, perde compromisso, perde até aquele senso de pertencimento com a vida”, lamentou Yuri de Jesus Silva Oliveira, que atualmente está desempregado.

A experiência como operador de telemarketing cumprindo escala 6 por 1 o levou até a avenida Paulista, para protestar por melhores condições para os trabalhadores. Diante da avenida cheia, ele se disse esperançoso pela mudança da jornada de trabalho.
“Uma coisa muito linda sobre o trabalhador é que a partir do momento em que a gente se entende, em coletivo, mas também em comunidade, é que a gente percebe a nossa real potência”.
‘População concorda com diminuição da jornada’
Os manifestantes caminharam até a frente do prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), onde políticos e outros apoiadores do movimento discursaram.
Uma das falas mais aclamadas foi a da deputada federal Erika Hilton (Psol), autora da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 8/2025, que propõe a redução da jornada de trabalho semanal de 44 para 36 horas.
“Os dados e as pesquisas apontam que quase 70% da população brasileira concorda com a diminuição da jornada de trabalho”, disse a deputada, que refutou os argumentos contrários à proposta. “O debate de que a redução da jornada vai destruir a economia foi usado para abolição da escravatura, para a licença-maternidade, para as férias, para o 13º. Tudo isso aconteceu e a economia segue de pé e firme”.
O debate sobre a redução da jornada de trabalho ganhou força em 2024 e, agora, está no centro das manifestações deste 1º de maio. O ex-presidente do PT, José Genoíno, ressalta a importância do tema entrar em debate. “Importante até porque foi positivo o pronunciamento do presidente Lula em defender o fim da jornada 6 por 1”, disse.
Em pronunciamento feito na noite de quarta-feira (30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu aprofundar o debate sobre a redução da jornada de trabalho.
“Está na hora do Brasil dar esse passo, ouvindo todos os setores da sociedade para permitir o equilíbrio entre a vida profissional e o bem-estar dos trabalhadores e trabalhadoras”, declarou o presidente.