O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) inicia nesta terça-feira (6) sua terceira reunião do ano para debater a taxa básica de juros da economia nacional. A chamada Selic está em 14,25% ao ano, seu maior patamar desde 2016. A expectativa geral é que ela suba ainda mais, alcançando seu maior nível desde 2006 – ou seja, em quase 20 anos.
Desde agosto daquele ano, a Selic não sobe para além dos 14,25%. Qualquer que seja o aumento, portanto, já elevaria a taxa para um nível histórico.
Economistas vinculados a instituições financeiras ouvidos pelo próprio BC estimam que a taxa deva ser elevada para 14,75% ao ano. Os especialistas, aliás, estimam que esse deve ser o patamar da Selic ao final deste ano.
A taxa começou 2025 em 12,25% ao ano.
O que é Selic?
A taxa é referência para a economia nacional, além do principal instrumento disponível para o BC controlar a inflação no país.
Quando a Selic cai, os juros cobrados de consumidores e empresas ficam menores. Há mais gente comprando e investindo. A economia cresce, criando empregos e favorecendo aumentos de salários. Os preços, por sua vez, tendem a aumentar por conta da demanda.
Já quando a taxa sobe, empréstimos e financiamentos tendem a ficar mais caros. Isso desincentiva compras e investimentos, o que contém a inflação. Em compensação, o crescimento de toda a economia tende a ser prejudicado.
Sabendo disso, desde que assumiu o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defende uma redução da Selic. Membros do Copom indicados Lula para o BC, incluindo o presidente Gabriel Galípolo, têm contrariado visões do Planalto.
Inflação em alta
A inflação em alta é a principal justificativa para membros do Copom aumentarem a taxa de juros. Até março, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses era de 5,48%. A meta do governo é que ele se mantenha em 4,5% em 2025.
Por conta desse descasamento, é consenso entre os economistas de que haverá nova alta. “Vai subir”, disse Weslley Cantelmo, presidente do Instituto Economias e Planejamento. “Eu acho que subirá 0,5 ponto, mas não seria surpresa se subisse 0,75 ponto”.
Nas últimas quatro reuniões, o Copom aumentou a Selic em 1 ponto a cada encontro.
Segundo Cantelmo, as incertezas na economia criadas pelo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também podem ser usadas como argumento para a alta.
Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), também dá como certa a elevação. Ele cita as tarifas de Trump e o risco de uma alta de juros nos EUA para fazer sua previsão.
Eric Gil Dantas, economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), ratifica a previsão de alta, mas considera a decisão equivocada.
“Juro como ferramenta de combate à inflação está ficando cada vez mais defasado. A cada ano que se passa, a inflação se torna cada vez mais internacional. O preço do café subiu por questões de oferta e demanda global, não porque o brasileiro está consumindo mais”, explicou ele. “O aumento da taxa de juros está elevando o gasto de empresas com dívidas, fazendo com que os custos de produção aumentem, e consequentemente os preços do país subirão. É insano.”
Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), argumenta que, para movimentar a economia, os juros deveriam baixar. “Esse patamar de Selic é muito prejudicial para a dinâmica de investimento.”