Por ocasião do 80º aniversário da derrota do exército nazista pelas mãos da União Soviética —vitória conhecida como a Grande Guerra Patriótica—, o presidente russo, Vladimir Putin, se reuniu nesta quarta-feira com seu homólogo cubano, Miguel Díaz-Canel.
Díaz-Canel chegou a Moscou no domingo, 4 de maio. Sua primeira parada foi em São Petersburgo, onde prestou homenagem às vítimas do cerco de Leningrado com uma coroa de flores no cemitério de Piskariovskoye, onde estão enterrados os restos mortais de mais de 490 mil pessoas que morreram durante o bloqueio nazista.
Segundo a imprensa local, Putin considerou “simbólica” a coincidência entre o Dia da Vitória e o 65º aniversário do restabelecimento das relações diplomáticas entre a então União Soviética e Cuba, celebrado em 8 de maio de 1960.
“Cuba contribuiu para a luta contra o nazismo. Sei que o senhor iniciou sua visita por São Petersburgo, ou Leningrado, e gostaria de destacar que voluntários cubanos lutaram ao lado do Exército Vermelho, inclusive em Leningrado”, afirmou Putin.
“Datas marcantes nos unem”, declarou o líder cubano. “A mais importante delas é a vitória na Grande Guerra Patriótica; em segundo lugar, o 65º aniversário do estabelecimento das relações entre nossas nações”, acrescentou.
Durante seu discurso, Díaz-Canel destacou a importância de preservar a memória histórica diante das tentativas de reescrevê-la.
“Tudo o que propomos em prol do resgate da memória histórica é essencial nestes tempos, em que aumentam as tentativas de minimizar o papel protagonista e heroico da União Soviética, do Exército Vermelho e do povo russo na vitória sobre o fascismo”, afirmou.
O presidente cubano declarou ainda que “o povo russo salvou a humanidade”, em referência ao papel soviético na derrota do fascismo, e alertou para o ressurgimento de novas formas desse fenômeno no cenário global atual. “Nossa unidade nos permite enfrentar desafios comuns”, concluiu.
Em Moscou, Díaz-Canel participará do desfile militar do Dia da Vitória, ao lado de outros líderes, como Xi Jinping, Nicolás Maduro e Luiz Inácio Lula da Silva. As comemorações fazem parte dos esforços do Kremlin para demonstrar alianças sólidas diante do Ocidente em um contexto de crescentes tensões internacionais.
“Irmandade através dos anos e da distância”
Por ocasião do 65º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre Moscou e Havana, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, divulgou nesta quarta-feira (7) uma extensa carta intitulada “Irmandade através dos anos e da distância”.
No texto, o diplomata revisita os principais marcos da relação bilateral desde o triunfo da Revolução Cubana e destaca a figura de Fidel Castro como símbolo de luta e justiça.
“O Comandante Fidel fez muito pelo fortalecimento das nossas relações bilaterais e pela promoção, no cenário internacional, de valores como paz, liberdade, verdade e justiça. Para muitas gerações de russos, seu nome tornou-se símbolo de dedicação ao povo cubano”, afirmou Lavrov.
A carta destaca momentos significativos da parceria entre os dois países, desde visitas de líderes revolucionários até intercâmbios culturais e educacionais. Cuba é descrita como “um aliado confiável na política externa e um parceiro prioritário da Rússia na América Latina”.
Lavrov ressalta as convergências nas abordagens geopolíticas e diplomáticas entre as duas nações, observando que ambas compartilham “a visão de uma maioria global que defende a construção de uma ordem multipolar mais justa, que leve em consideração os interesses de todos os Estados, inclusive os pequenos e médios”.
O chanceler também destaca a cooperação entre Rússia e Cuba na luta contra práticas neocoloniais, lembrando o trabalho conjunto em 2023 para aprovar na Assembleia Geral da ONU a resolução “Erradicação do colonialismo em todas as suas formas e manifestações”.
Além disso, ambos os países rejeitam sanções unilaterais, que, segundo Lavrov, “não apenas violam o Direito Internacional, como também atingem de forma mais severa os setores mais vulneráveis da população”.
Sobre o conflito na Ucrânia, o texto afirma que “a liderança cubana já apontou, em diversas ocasiões, que uma das causas fundamentais do conflito está na prolongada expansão da OTAN rumo às fronteiras russas. Também é essencial garantir o respeito aos direitos humanos nos territórios controlados pelo regime de Kiev, que, após o golpe de Estado de 2014, adotou uma política de eliminação de tudo que se relaciona à Rússia e ao Mundo Russo — sua língua, cultura, tradições, ortodoxia canônica e meios de comunicação russófonos”.
Em relação à recente entrada de Cuba no grupo BRICS, Lavrov considera que a adesão “contribuirá para o fortalecimento da coordenação da política externa cubana”.
Por fim, ele prevê uma mudança estrutural na economia global: “Nos últimos anos, o centro de gravidade da economia mundial tem se deslocado, de forma objetiva e irreversível, para a Eurásia, onde novos polos de poder, desenvolvimento e tomada de decisão estão ganhando protagonismo. Nesse contexto, abrem-se novos horizontes para Cuba como Estado observador na União Econômica Euroasiática”.