Em coletiva de imprensa na abertura da 5ª edição da Feira Nacional da Reforma Agrária, na manhã desta quinta-feira (8), em São Paulo, representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ressaltaram a urgência do assentamento de famílias que ainda vivem em acampamentos pelo Brasil.
“Nós não estamos contentes com a velocidade da reforma agrária no nosso país. Nós precisamos acelerar ainda mais, e o governo sabe disso”, declara Márcio Santos, da coordenação do MST em São Paulo.
De acordo com dados do movimento, o Brasil tem 120 mil famílias acampadas. Dessas, 72 mil são vinculadas ao MST.
Em março de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciou a entrega de 12.297 lotes para famílias acampadas em 138 assentamentos rurais espalhados em 24 estados do país.
Na abertura da feira em São Paulo, realizada no parque Água Branca, Santos lembrou da importância desse anúncio. “O ato que teve em Minas Gerais foi um ato muito importante, simbólico, em que o presidente da república e o ministro Paulo Teixeira demonstraram que o governo tem compromisso com a reforma agrária e tem compromisso com a pauta”, ressalta.
Embora os novos assentamentos representem um avanço na política da reforma agrária, as entregas atenderão somente cerca de 10% da demanda por terra para a agricultura familiar no país.
Para o coordenador regional do movimento, o atraso na distribuição de terras é consequência das políticas dos últimos governos, que não priorizaram o tema. “Nós temos um passivo de mais de uma década com os governos anteriores de características golpista e de direita que praticamente congelaram a reforma agrária”, diz Santos. Ele ressalta que o movimento cobra o governo Lula pela aceleração no assentamento das famílias.
O anúncio dos novos assentamentos foi feito pelo presidente durante o Ato Nacional em Defesa da Reforma Agrária, em Campo do Meio (MG), no acampamento Quilombo Campo Grande. A área abriga um complexo de 11 assentamentos e é ocupada há 27 anos pelas famílias vinculadas ao MST. Ao longo do tempo, as famílias da área sofreram diversas violências resultantes da falta de segurança jurídica sobre a terra. Foram 11 tentativas de despejo, além de uma escola e plantações destruídas.
“A mesma área onde o presidente foi e fez alguns anúncios (…) foi a área no quilombo do Campo Grande, que anos antes estava sendo despejada pela polícia, com escola sendo destruída e com a produção também sendo destruída”, lembra Débora Nunes, da coordenação nacional do MST, que ressalta que a criação dos assentamentos garante segurança das famílias e é também um caminho para a produção de alimentos saudáveis e a distribuição de renda.
Nesse contexto, a Feira Nacional da Reforma Agrária tem a proposta estratégica de debater a importância de distribuição justa de terras no país como forma de garantir acesso a alimentos saudáveis à toda a população.
Para Nunes, o evento “reafirma o nosso projeto de agricultura. É um projeto de agricultura com gente, com o povo, com alimento saudável, com natureza preservada e acima de tudo, com geração de trabalho e distribuição de renda”, declara.