A Federação Internacional de Futebol (FIFA) sancionou o reconhecimento oficial da seleção feminina de refugiadas do Afeganistão. A equipe é composta por jogadoras que deixaram o país após a tomada de poder pelo Talibã, em 2021.
Com a decisão do Conselho da FIFA, será criada uma estratégia de ação para o desenvolvimento do time, que prevê políticas de organização, treinos e presença em torneios, por exemplo. A entidade afirmou que também priorizará a segurança das atletas
Segundo a federação, a equipe terá inicialmente uma fase piloto de um ano. Nesse período as jogadoras participarão de partidas amistosas reconhecidas e torneios supervisionados. O reconhecimento atende a uma demanda de anos, mas chega tarde para os próximos mundiais.
A seleção feminina do Afeganistão não joga uma partida oficial desde 2018 e não aparece mais no ranking mundial da FIFA. Com isso, ficou ausente do sorteio das Eliminatórias da Copa Asiática Feminina de 2026, torneio essencial para o processo de qualificação para a Copa do Mundo Feminina de 2027.
Em março, um relatório organizado pela Sport & Rights Alliance – uma coalizão global de organizações, movimentos e sindicatos do futebol – destacou as consequências da demora de quatro anos.
“Ao falhar em abordar a exclusão das mulheres afegãs do futebol internacional desde 2021, pode-se dizer que a FIFA está contribuindo para a discriminação de gênero”, alertou o documento.
O documento ressaltou que a seleção feminina afegã já tinha ficado de fora da Copa de 2023.
Luta documentada
O relatório detalhou ainda a jornada das jogadoras de futebol do Afeganistão pelo direito de estar em campo. Segundo o documento Não é apenas um jogo, faz parte de quem eu sou, as atletas ganharam importância simbólica para as mulheres e meninas do país do Oriente Médio.
Para expor a situação enfrentada por elas após a ascensão do Talibã ao poder e a batalha por reconhecimento e apoio internacional, o levantamento entrevistou 29 jogadoras atuais e antigas da Seleção Nacional Feminina do Afeganistão e especialistas em direitos esportivos.
A equipe estava ativa desde 2007, após a queda do primeiro regime Talibã, mas a situação mudou drasticamente a partir de 2021, quando o grupo voltou ao poder. Entre as políticas de supressão dos direitos das mulheres, o governo proibiu o esporte feminino.
Nesse cenário, a seleção tornou-se um alvo imediato. As jogadoras foram instruídas a queimar todas as evidências de suas carreiras e enfrentaram até ameaças de morte. Como resultado da perseguição, centenas de jogadoras e suas famílias tiveram que sair do país.
O esforço colaborativo envolveu a solidariedade de diversas entidades e governos internacionais. Hoje, todas as atletas estão exiladas em países como Austrália, Portugal, Albânia, Reino Unido e Estados Unidos.
Em terras estrangeiras, elas iniciaram a campanha para ter o reconhecimento da Fifa, o que poderia garantir o apoio financeiro negado pela Federação Afegã de Futebol (AFF). O movimento ganhou atenção global e reuniu centenas de milhares de assinaturas.