Durante sua recente viagem ao México, o vice-ministro das Relações Exteriores de Cuba, Carlos Fernández de Cossío, reiterou a disposição do governo cubano em manter um “diálogo respeitoso” com os Estados Unidos.
As declarações foram feitas em entrevista concedida ao canal de televisão mexicano Canal 14, neste domingo (11), como parte de sua visita ao país para participar de conversas sobre questões migratórias entre as duas nações.
Cossío afirmou que a única condição mantida por Havana para estabelecer um diálogo respeitoso é que Washington reconheça que “Cuba é, de fato, um Estado soberano”, com os direitos que lhe cabem como nação independente. Ele acrescentou que uma relação mais construtiva entre os dois países seria benéfica e “estratégica” para ambas as partes.
“Cuba mantém laços com a comunidade internacional, inclusive com países que têm profundas diferenças ideológicas conosco. Na região, temos mantido relações respeitosas e até mesmo cooperado, apesar dessas divergências. A única exceção são os Estados Unidos, que ainda não aceitam o fato de Cuba ser uma nação independente e não lhes pertencer”, afirmou.
Ele lembrou que toda a comunidade internacional rejeita o bloqueio, com exceção de dois Estados, que ele descreveu como “terroristas”: o Estado de Israel e os próprios Estados Unidos.
No entanto, durante os quase 60 minutos da entrevista, o diplomata mostrou-se cético quanto à possibilidade de estabelecer um diálogo tão respeitoso no curto prazo, apontando para a forte influência de setores “anticubanos” no governo de Donald Trump, principalmente ligados à ultradireita de Miami.
Segundo ele, esses grupos construíram suas carreiras políticas enquanto se beneficiavam economicamente do “negócio da hostilidade contra a ilha”. Indicou que, embora até o momento não tenham sido feitos grandes anúncios por parte do governo de Donald Trump em relação a Cuba, várias medidas contra o país foram intensificadas.
Entre essas medidas, mencionou a inclusão de Cuba na lista de países que supostamente patrocinam o terrorismo; a recusa em conceder vistos a cidadãos de terceiros países que desejam visitar a ilha; a ameaça de retirada da cidadania de cubanos residentes nos Estados Unidos; e a eliminação da possibilidade de envio de remessas, entre outras.
Referindo-se ao senador Marco Rubio, disse: “Marco Rubio tem uma trajetória política bem conhecida de agressão contra Cuba”, e acrescentou que, apesar das “inconsistências” de várias de suas posições, “ao longo de sua carreira, a única coisa em que ele tem sido coerente é em sua agressividade contra Cuba”.
Apesar disso, garantiu que “Cuba não impõe limitações para interagir com qualquer que seja o representante do governo dos EUA, desde que seja uma troca respeitosa, na qual possamos apresentar nossas posições”.
Médicos cubanos
Cuba mantém atualmente cerca de 20 mil profissionais de saúde em brigadas médicas distribuídas por quase 60 países. Durante o governo de Andrés Manuel López Obrador (AMLO), o México assinou um acordo com Cuba para o envio de profissionais cubanos da saúde ao território mexicano, atuando em mais de 280 centros de saúde básicos e comunitários, localizados principalmente em áreas rurais e marginalizadas. Desde então, os acordos foram ampliados sob a atual administração de Claudia Sheinbaum, com a participação de mais de 2.700 profissionais cubanos.
Desde o final de fevereiro, o Departamento de Estado dos EUA vem ameaçando ampliar as restrições de visto a funcionários de países que “participam ou facilitam” as missões médicas cubanas no exterior. Essas restrições, que já se aplicam a funcionários venezuelanos, têm como objetivo impedir a presença dessas missões em outros países. Isso gerou rejeição em diversas nações, principalmente no Caribe, cujos sistemas de saúde dependem fortemente das missões médicas cubanas.
Ao ser questionado sobre a situação atual dos serviços médicos cubanos, Fernández de Cossío afirmou: “Durante décadas, Cuba teve mais médicos prestando serviços de saúde do que a Organização Mundial da Saúde”, e explicou que essa foi uma política adotada após o triunfo da Revolução.
“Na grande maioria dos casos, trata-se de uma colaboração oferecida por Cuba em absoluta solidariedade, sem receber nada em troca, especialmente nos países mais necessitados”, afirmou.
Segundo o diplomata, há aproximadamente dez anos, Cuba passou a receber compensações financeiras por esses serviços em países com melhores condições econômicas. Ele também lembrou que Cuba formou milhares de médicos oriundos do chamado Terceiro Mundo.
A cooperação segue as diretrizes estabelecidas pelas Nações Unidas para a cooperação “Sul-Sul”, em que países em desenvolvimento se complementam com base em seus pontos fortes. “São programas baseados em acordos bilaterais com cada governo, respeitando as leis locais e funcionando de forma coordenada”, explicou.
Acrescentou ainda que, no país de destino, o médico recebe um estipêndio – uma remuneração pelos seus serviços – que ele descreveu como “muito superior ao que se recebe em Cuba”. Nos casos em que o país receptor paga pelo serviço, parte do valor é destinada ao sistema de saúde cubano.
“Essa receita é utilizada para sustentar e desenvolver o sistema de saúde de Cuba, que hoje está seriamente afetado pelo bloqueio”, afirmou.
Dessa forma, Fernández de Cossío garantiu que a perseguição aos serviços médicos cubanos não apenas prejudica uma fonte de renda importante para Cuba, mas também afeta populações vulneráveis em dezenas de países, cujo único acesso à saúde tem sido possibilitado pela presença de médicos cubanos.
As declarações do vice-chanceler ocorrem paralelamente à viagem do ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla, à China para participar da 4ª Reunião Ministerial do Fórum CELAC-China, 13 de maio em Pequim.
Lá, o ministro das Relações Exteriores de Cuba se reuniu com seu homólogo chinês, Wang Yi. Além disso, a ministra cubana se reuniu com Dilma Rousseff, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS, para analisar as oportunidades oferecidas por essa instituição como alternativa financeira para os países do Sul. Ela também conversou com Li Xi, um alto funcionário do Partido Comunista Chinês, fortalecendo os laços bilaterais.