“Sem comida nutritiva, água potável e acesso à saúde, uma geração inteira será permanentemente afetada.” O alerta é de Rik Peeperkorn, representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) nos territórios palestinos ocupados. A declaração feita nesta terça-feira (13) acompanha a publicação de um novo relatório sobre a fome na Faixa de Gaza, lançado nesta segunda (12) por especialistas apoiados pela Organização das Nações Unidas (ONU).
O documento atualiza o cenário de insegurança alimentar no território palestino e confirma que a região está sob risco crítico de fome, especialmente entre as crianças. Já se passaram mais de dois meses desde que toda ajuda humanitária e o fornecimento comercial foram bloqueados por forças israelenses na Faixa de Gaza.
O relatório foi elaborado pela Classificação Integrada da Segurança Alimentar (IPC), consórcio internacional que reúne agências da ONU, como a OMS, além de ONGs e especialistas independentes. Segundo o texto, 100% da população da Faixa de Gaza, composta por 2,1 milhões de pessoas, vive hoje risco de entrar em situação de “crise ou pior” (IPC Fase 3 ou superior), enquanto meio milhão de pessoas está sob risco de enfrentar fome catastrófica.
A escala IPC de insegurança alimentar é usada para medir a gravidade da fome em uma região. Vai da Fase 1 (mínima ou nenhuma insegurança) até a Fase 5, que indica catástrofe ou fome. A Fase 3 representa crise, quando há lacunas na alimentação ou ela só é garantida com grandes sacrifícios. Na Fase 4, há emergências, com alta desnutrição e até mortes. Já a Fase 5 indica fome extrema, quando há desnutrição crítica, mortes generalizadas e colapso completo na capacidade das famílias de se alimentar.
De acordo com a projeção feita para o período entre 11 de maio e o fim de setembro de 2025, os níveis são os seguintes:
- 470 mil pessoas (22%) em estado de catástrofe/fome (Fase 5);
- Mais de 1 milhão (54%) em emergência alimentar aguda (Fase 4);
- Cerca de 500 mil (24%) em crise alimentar (Fase 3).
A situação se agravou rapidamente desde o último levantamento, publicado em outubro de 2024. Desde março, Israel mantém bloqueio total à entrada de alimentos, água, medicamentos e combustível. Os estoques estão esgotados ou prestes a acabar. “Se o bloqueio não for retirado, bebês vão morrer”, alertou Jonathan Crickx, porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em visita a crianças desnutridas em hospital.
A previsão do IPC é que a desnutrição atinja níveis críticos (Fase 4) nos próximos meses, sobretudo nas regiões norte, central e no sul de Gaza, em Rafah. “A fome não é mais uma possibilidade, é uma ameaça real e iminente”, alerta o relatório.
Netanyahu anuncia ofensiva total: ‘Iremos até o fim’
Enquanto os alertas humanitários se acumulam, o governo israelense promete aumentar a violência. Nesta terça-feira (13), o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que o exército do país “entrará com força total” na Faixa de Gaza, nos próximos dias.
“Completar a operação significa derrotar o Hamas, destruir o Hamas. […] Não haverá nenhuma situação em que interromperemos a guerra. Um cessar-fogo temporário pode acontecer, mas iremos até o fim”, disse Netanyahu.
Desde o início da ofensiva, que já dura mais de um ano e meio, mais de 52.400 palestinos foram mortos e 118.000 feridos. Os bombardeios foram retomados em 18 de março de 2025; desde então, já foram registradas 2.300 mortes e quase 6.000 pessoas feridas, segundo agências da ONU.
A justificativa de Israel é pressionar o Hamas a libertar os reféns capturados em outubro de 2023. O bloqueio e os ataques, porém, têm destruído infraestrutura civil e impedido o acesso da população a recursos básicos, denuncia a organização.