A recente saída do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, do PSDB para o PSD, sinaliza mais do que um simples realinhamento partidário: representa a dificuldade da direita tradicional em encontrar espaço num cenário político dominado por novas lideranças da extrema direita com forte apelo popular, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A análise é da cientista política Mayra Goulart, entrevistada pelo Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
“Eduardo Leite contrasta um pouco com o perfil da direita que está em ascensão, que conseguiu romper barreiras que o PSDB não rompeu, de penetração nas classes populares”, avalia Goulart. “O PSDB, com seu discurso mais liberal, agradava muito às elites econômicas e sociais”, explica Goulart. Na visão da cientista política, o governador gaúcho reforça “a identidade originária do PSDB”. Segundo ela, o partido “reforça esse componente mais liberal, que diz respeito ao liberalismo econômico, mas também um liberalismo no sentido da garantia dos direitos civis”.
A mudança de partido vem em meio a especulações sobre uma possível candidatura de Leite à eleição presidencial em 2026. No entanto, a cientista política pondera que ainda não está claro se há espaço para esse tipo de perfil dentro do atual campo da direita. “O espaço dentro da direita para uma liderança com esse perfil mais elitizado, como é o caso do Eduardo Leite, é algo que não sei se existe hoje”, reforça.
Fusões e federações: sobrevivência, barganha e confusão para o eleitor
A movimentação de Eduardo Leite também ocorre após a fusão entre PSDB e Podemos, uma resposta direta às cláusulas de barreira que impõem limites mínimos de desempenho eleitoral para que partidos mantenham acesso ao fundo eleitoral e tempo de TV. “Mais do que uma dificuldade para criar novos partidos, essas uniões visam garantir a sobrevivência política dessas siglas”, afirma Goulart.
Outro exemplo recente é a federação entre União Brasil e Progressistas, que resultou em uma das maiores bancadas do Congresso Nacional. Segundo a especialista, essas alianças aumentam o poder de barganha das legendas e o volume de recursos públicos que recebem. “Quanto maior o partido, maior o acesso ao fundo eleitoral e à capacidade de negociação com o Executivo”, resume.
Do ponto de vista interno, no entanto, fusões e federações tendem a gerar disputas: “Aumenta a competição intrapartidária, porque passa a ter mais lideranças disputando espaço na mesma legenda. Mas, em troca, ganha força no cenário político nacional.”
A cientista política avalia que essas uniões podem tornar o sistema mais compreensível ao eleitor ao reduzir o número de partidos, mas também exigem esforços de adaptação e consenso interno. Com novas fusões sendo cogitadas, como a do Cidadania com o PSD, é provável que mais trocas partidárias aconteçam nos próximos meses.
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