A diretora da Associação Brasileira de ONGs (Abong), Juliane Cintra, acredita que o Brasil vive um “momento paradigmático” que exige uma nova densidade nos debates sobre democracia, justiça socioambiental e participação social. Em entrevista ao Conexão BdF da Rádio Brasil de Fato, durante o Festival Abong, que reúne organizações da sociedade civil em São Paulo, ela apontou que a sociedade civil precisa enfrentar um cenário de correlação de forças nem sempre favorável às pautas populares.
Segundo Juliane, o formato de festival adotado nesta edição marca também a celebração dos 35 anos da Abong, mas sobretudo responde à necessidade de aprofundar reflexões sobre os desafios contemporâneos da atuação política. “O que estamos enfrentando hoje é o desafio de lidar com uma correlação de forças que nem sempre é favorável para as pautas e agendas de movimento social e dos territórios”, afirmou.
Ela alertou sobre o enfraquecimento de instâncias governamentais tradicionais, como os ministérios, que têm perdido poder diante de uma estrutura política fragmentada e da disputa por emendas parlamentares. “A sociedade civil não senta à mesa nos processos de tomada de decisão. Participamos de conselhos, conferências e outros mecanismos de participação social, mas a a nossa voz muitas vezes não está em pé de igualdade quando se trata de grandes temas da da atualidade”, disse.
Para a diretora, “falar de participação social na atualidade é também falar de memória”. Ela lembra o papel histórico da sociedade civil na construção de políticas públicas: “A sociedade civil, desde o processo de abertura democrática, vem inaugurando meios de incidir, de dialogar com o Estado, também com a própria promoção de mobilização política nos territórios. Então, a cidade civil historicamente incide diretamente na construção de políticas públicas.”
Entre os exemplos de mobilização destacados está a Marcha das Mulheres Negras, citada por Juliane como um modelo de resposta coletiva nas ruas frente às interdições institucionais. “As alternativas vêm dos próprios territórios”, ressaltou.
O festival segue com debates até esta quarta-feira (14), no Espaço MST, no centro de São Paulo, e será encerrado nesta quinta (15) com a Assembleia Geral da Abong, voltada exclusivamente para as organizações associadas. Durante o evento, foi lançada uma cartilha que reúne diagnósticos e propostas para fortalecer a atuação popular. O material está sendo distribuído gratuitamente no evento e na sede da associação, na rua General Jardim, 660, no bairro da Consolação, em São Paulo.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.