O presidente da Bolívia, Luis Arce, anunciou nesta terça-feira (13) que não vai concorrer à reeleição em 2025. O mandatário disse que não quer ser um “fator de divisão popular”. Ele e o ex-presidente Evo Morales têm disputado a candidatura e o protagonismo na esquerda boliviana.
“Não serei um fator de divisão do voto popular, muito menos facilitarei a concretização de um projeto fascista de direita que busca destruir o Estado Plurinacional, com o qual buscam destruir o modelo socioeconômico produtivo para voltar a um modelo neoliberal e destruir nossa revolução democrática e cultural”, afirmou Arce.
Em um anúncio de 17 minutos em rede nacional, o presidente disse que não pode “se afastar um milímetro” do projeto emancipador e que não pode abrir mão dos seus princípios por uma Bolívia “digna, produtiva e industrializada, com soberania política e econômica”. Ele citou a “extrema polarização no cenário eleitoral” e falou sobre a necessidade de enfrentar o modelo neoliberal. Para isso, pediu unidade para “sustentar” o Estado Plurinacional.
O conceito foi alçado como base do Estado boliviano no governo de Evo Morales e faz referência a um modelo que reconhece a presença de diferentes nações e povos originários no território. A Constituição boliviana garante a autonomia e autodeterminação a todos os grupos do país, em um movimento que transformou a sociedade boliviana justamente no governo do Movimento ao Socialismo (MAS).
De acordo com Arce, esse movimento revolucionou a Bolívia e é necessário seguir construindo uma pátria que seja inclusiva para todos os povos e isso passa pela unidade na esquerda. Ele reforçou que o inimigo principal é o imperialismo e a direita fascista “que aplaude as nossas divisões”.
“Um espaço de unidade consiste em discutir e colocarmos de acordo em um programa mínimo quais são as melhores opções dentro do campo popular para as próximas eleições. Ou defendemos nosso Estado Nacional e suas conquistas populares, ou com a divisão facilitamos o retorno da direita ao poder”, afirmou.
Arce x Evo: racha da esquerda
A disputa com Evo Morales foi determinante para a desistência de Arce. O ex-presidente se tornou o principal opositor do atual governo, também de esquerda, depois de voltar do exílio na Argentina em 2020. Morales começou a criticar algumas decisões de Arce e seus apoiadores e disputar espaço pela candidatura do MAS nas próximas eleições presidenciais, do ano que vem.
O estopim da desavença, na corrida pela liderança do MAS, se deu em outubro de 2023, quando apoiadores de Morales organizaram um congresso em Lauca Eñe, no distrito de Cochabamba. A região é seu berço político e reduto eleitoral. No evento, ele chamou os apoiadores de Luis Arce de “traidores”. Neste mesmo evento, o MAS determinou a expulsão de Arce do partido, já que ele, como representante da sigla no Executivo, não compareceu ao congresso.
Arce citou Morales ao pedir que o ex-presidente também renuncie à candidatura. Ele justificou o “desafio” afirmando que o líder cocaleiro está impedido de concorrer pela Justiça e disse que “a fragmentação do voto só favorece a direita”. Ele concluiu seu discurso mencionando que o presidente do Senado, Andronico Rodríguez, é uma peça-chave para articular uma unidade do povo e das forças progressistas.
Evo foi eleito presidente do MAS em janeiro de 1999 e na liderança da sigla chegou à Presidência do país em 2006, ocupando o cargo até 2019, quando foi destituído por um golpe. O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Bolívia já havia reconhecido em novembro Grover García como presidente do MAS. Com isso, Morales perdeu a liderança da sigla depois de 25 anos.
A decisão ocorreu depois do congresso realizado pelo MAS na cidade de El Alto. O evento foi organizado em maio por grupos ligados a Arce e deu a vitória ao atual presidente na disputa pelo partido. A decisão foi reconhecida pelo Tribunal Constitucional Plurinacional (TCP) só em 14 de novembro. A partir disso, o TCP orientou a decisão da Justiça Eleitoral. Evo rebateu a decisão e disse que se trata de uma apropriação do movimento indígena e que isso é “um sequestro que leva a um genocídio político”.
Em resposta, apoiadores de Evo anunciaram no fim de março a criação do partido Evo Pueblo. A ideia é fazer com que o líder histórico boliviano possa disputar as eleições mesmo depois de sair da sua antiga sigla e de ser impedido de disputar as eleições pela Justiça do país.
O grupo foi formado por indígenas e camponeses e terá de ser reconhecido legalmente para poder disputar as eleições de 2025 em agosto. Para isso, o Evo Pueblo terá que buscar ao menos 109.500 assinaturas, cerca de 1,5% do eleitorado.