Os servidores municipais de Guarulhos, município da Grande São Paulo que tem a segunda maior população do estado, estão em greve desde a última segunda-feira (12) contra o reajuste salarial de 2% definido pelo prefeito Lucas Sanches (PL).
Nesta sexta, mais de 2 mil trabalhadores se reuniram no Paço Municipal, no quinto dia consecutivo de mobilização. Os servidores fizeram passeata pelo Centro da cidade, passando pela Secretaria Municipal de Educação. Os servidores reivindicam reajuste de 8% nos salários e de 20% em benefícios como vale-alimentação e refeição, além do estabelecimento de um piso mínimo aos servidores operacionais.
A prefeitura entrou com ação no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) questionando a legalidade da greve. Nesta quarta, a Justiça reconheceu a legitimidade do movimento, mas concedeu uma liminar exigindo a presença de pelo menos 70% dos servidores para manter o funcionamento de serviços essenciais, considerando cada unidade de trabalho e cada função. A decisão considera como essenciais todos os serviços que atendem diretamente às necessidades da população, com destaque para saúde e educação.
Uma nova audiência está marcada para a segunda-feira (19), às 15h. Até lá, a greve continua. “O prefeito tenta desmobilizar de todas as formas a greve, agora com outra ação na Justiça, outra liminar. Mas nós não vamos desmobilizar. Seguiremos na rua, mobilizados, contra esse reajuste injusto de 2% e pela valorização real dos servidores”, afirmou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública Municipal de Guarulhos (Stap), Pedro Zanotti Filho.
Sem negociação
A pauta de reivindicações foi definida ainda em janeiro, em assembleia convocada pelo Stap, buscando recuperar a perda de poder aquisitivo acumulada na gestão anterior, de Gustavo Henric Costa (PSD), conhecido como Guti.
A resposta da prefeitura foi enviada ao sindicato na semana passada: reajuste salarial de 2%, mais 5% de aumento nos benefícios como vale-alimentação e refeição, bastante abaixo do reivindicado. Diante disso, o sindicato convocou nova assembleia no dia 6 de maio, que contou com a presença de mais de mil trabalhadores. Os servidores decidiram entrar em greve caso não houvesse uma nova proposta da prefeitura.
“Além de não apresentar contraproposta, ele foi intransigente. Ele preferiu pular a etapa da negociação, apresentou um projeto de lei na Câmara dos 2%. Esse projeto de lei foi aprovado na quinta-feira (8), em sessões extraordinárias, que o presidente da Câmara convocou. Então, foi uma aprovação rápida, sem parecer das comissões, parecem feitos nas coxas, de última hora”, conta Wagner Hosokawa, assistente social na Prefeitura de Guarulhos.
A greve começou na segunda-feira (12), com uma mobilização de mais de 1,2 mil trabalhadores do serviço público, e tem crescido. Na terça-feira (13), uma manifestação percorreu a avenida Tiradentes, principal corredor da cidade, até a praça Getúlio Vargas. Na quarta (14), mais de 2 mil trabalhadores estiveram no centro da cidade.
Promessa quebrada
Eleito em um racha da direita de Guarulhos, Lucas Sanches fez uma campanha de oposição ao governo anterior de Guti. “Ele fez a promessa, assinou com o sindicato um compromisso de pelo menos reajustar a inflação de cada período. Fez campanha como um vereador de oposição ao governo anterior e essa oposição inclusive foi dizendo que ia valorizar os servidores, que qualquer reajuste abaixo da inflação era desvalorizar o servidor”, lembra Hosokawa.
Uma vez eleito, a prática tem sido outra. Para o assistente social, Sanches “segue a cartilha da desvalorização, a mesma política do prefeito [Ricardo] Nunes em São Paulo”. “Tem sido uma política sistemática do conservadorismo fascista desvalorizar o servidor e priorizar as privatizações e terceirizações.”
“O prefeito Lucas Sánchez tem sido um daqueles prefeitos da direita que utiliza as redes sociais. A gente até tem um apelido para ele, ele é o prefeito TikTok. E ontem ele fez uma live todo choramingando, dizendo que os alunos estão sem aula, as pessoas não estão sendo atendidas nas unidades, tipo pedindo por favor que os servidores retornassem”, conta Hosokawa. “Isso pra nós é um sinal de desespero, de despreparo. A pessoa se candidata para um cargo público, sabe das responsabilidades que tem. E Guarulhos é uma cidade que não está no limite da lei de responsabilidade fiscal. O município pode, sim, pagar os reajustes que nós estamos exigindo.”
A Prefeitura de Guarulhos foi procurada e não quis se manifestar sobre a greve. O espaço segue aberto.