Na manhã deste sábado (17), milhares de indígenas sobem a Serra do Ororubá, no município de Pesqueira, região Agreste de Pernambuco. Na aldeia Pedra D’água, o povo Xukuru do Ororubá deve discutir, ao longo de quatro dias, os principais temas relativos aos interesses políticos da etnia. Esta é a 25ª Assembleia anual dos Xukurus, exemplo de povo organizado, em luta e que colhe frutos: em 2024, elegeu o seu cacique Marcos Luidson para a prefeitura da cidade de 63 mil habitantes.
E a história política recente do povo e do município é um dos motivadores do tema da assembleia deste ano: Lomolaygo Toype: do passado violado ao presente criminalizado. O cacique e prefeito Marcos Xukuru foi eleito prefeito duas vezes, mas só na segunda foi permitido assumir o cargo. Ainda assim, após quatro meses de gestão em 2025, foi alvo de uma ordem de afastamento solicitada pela Polícia Civil. Em 2022, quando era secretário de Governo na prefeitura, foi alvo de outro mandado do tipo. Em 2020, após vencer a eleição pela primeira vez, foi impedido de assumir.
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Ao longo dos três primeiros dias de encontro – sábado, domingo e segunda-feira -, as manhãs começam com um ritual para fortalecer a mística da nação indígena, as tardes serão de debates mais aprofundados sobre as temáticas contemporâneas que afetam o povo Xukuru e as noites são de apresentações culturais, com grupos musicais indígenas ocupando quase a totalidade da grade de atrações. Um dos nomes convidados é o famoso Coco Raízes de Arcoverde. As pessoas interessadas em participar devem realizar prévia inscrição online (clique aqui).
Programação
No sábado (17), o dia começa com uma manhã de ritual de abertura das atividades da assembleia. No turno da tarde, um momento de boas vindas às delegações e de reflexões sobre os principais temas do encontro, seguido da mesa de debate Sempre estivemos aqui e da exibição do filme indígena Empeleitada. A noite cultural começa com uma homenagem ao bloco lírico Lira da Tarde, de Pesqueira, seguida das apresentações do Coco Raízes de Arcoverde, do Samba de Coco Origem do Ororubá e do Coco Fulô do Barro.

O domingo (18) inicia com uma pajelança e com um resgate dos debates e memórias da Assembleia Xukuru. O dia ainda tem mesas de debates com os temas da criminalização do povo Xukuru do Ororubá; a alegada perseguição judicial para impedir o cacique Marcos de assumir o poder na prefeitura; e os desafios do cenário atual da ocupação da política pelo povo Xukuru. A noite cultural terá os grupos Samba de Coco Flor de Jurema, a Banda de Pífanos Jetus e Jetuins de Mandaru, o Samba de Coco Toype do Ororubá e o Coco Sementes de Maracá.
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Na segunda-feira (19), também começa com a pajelança para abrir os trabalhos do dia. As mesas incluem uma análise de conjuntura, a convocação dos jovens indígenas para compreenderem a responsabilidade desta geração com o povo Xukuru, além de um momento de saudação de povos indígenas, organizações e lideranças políticas aliadas que estejam presentes na assembleia. A noite cultural terá Nilton Júnior, o Samba de Coco Marakás do Ororubá e o Coco de Ilú com Iran Ogan.

Por fim, na terça-feira (20), o um rito de memória do cacique Xikão Xukuru, assassinado com dois tiros na manhã do dia 20 de maio de 1998. O assassino e o mandante, um fazendeiro da região, foram julgados, presos e morreram na prisão. O assassinato de Xikão se deu em meio a um conflito entre indígenas e fazendeiros.
Perseguição judicial
O cacique foi eleito pela primeira vez em 2020, mas a Justiça Eleitoral não permitiu sua posse devido a uma condenação de 2015, na Justiça comum, por um suposto crime que teria cometido em 2003. Na ocasião, o Cacique foi acusado de ser mandante de um incêndio à casa de um outro indígena que, horas antes, havia tentado assassinar o cacique. Marcos afirma que estava ferido e escondido, sem possibilidades de influenciar nas ações do povo.
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O grupo político que se formou em torno do cacique Marcos ganhou a eleição de 2022 para um “mandato-tampão”, com o ex-vereador Bal de Mimoso encabeçando a chapa e tendo o atual vereador Guila Xukuru como vice-prefeito. O cacique assumiu a Secretaria de Governo, mas também sofreu afastamento do cargo por alguns meses.
A condenação de 2015 foi anulada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2023, o que permitiu a candidatura do cacique no ano seguinte. Mais uma vez vitorioso, o indígena desta vez assumiu a prefeitura, mas em abril foi mais uma vez afastado, por um mês, sob alegação de que um suposto esquema de corrupção na gestão de Bal.