Em maio de 2024, durante a enchente histórica que atingiu o Rio Grande do Sul, cerca de 20 mil animais foram resgatados em todo o estado. Somente em Porto Alegre, a prefeitura contabilizou 4,8 mil resgates de áreas alagadas – muitos deles separados de seus tutores.
Centenas de voluntários se mobilizaram para acolher cães, gatos, cavalos e outros animais, encaminhando-os a abrigos com a esperança de que encontrassem novos lares. Conforme a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), 1,2 mil animais ainda aguardavam adoção em novembro de 2024. Agora, um ano após a enchente, a baixa procura e a devolução de animais já adotados preocupa ONGs e protetores.
O maior desafio é conseguir adotantes para animais adultos, idosos, com deficiências, de médio a grande porte ou sem raça definida – os populares vira-latas. Na sede da ONG 101 Viralatas, em Viamão, 500 cães e gatos foram acolhidos durante a tragédia. Desses, 30 continuam sem perspectiva de adoção.

Ao Brasil de Fato RS, Franciele Amaral, gerente da organização, relata dificuldades. “A gente tá com um contingente muito grande na nossa ONG, com pouca arrecadação, então toda colaboração é bem-vinda, seja ela em dinheiro, compartilhando ou também se voluntariando, toda forma de ajuda é sempre bem-vinda.”
“A adoção é o coração do nosso trabalho”
Apesar do passar do tempo, o trabalho da ONG não parou. Atualmente, a instituição abriga cerca de 400 animais e enfrenta custos mensais que ultrapassam R$ 100 mil. A maior parte desses recursos vem de doações de pessoas físicas. Entre os acolhidos, ainda estão os 30 resgatados da enchente que aguardam uma nova chance. “Tivemos casos marcantes. Alguns cães, mesmo deitados, continuavam com movimentos de nado, como se ainda estivessem tentando sobreviver à enchente. Foram cenas muito difíceis de presenciar”, lembra Franciele.
Franciele reforça que os abrigos são estruturas temporárias e que o objetivo final é sempre encontrar um lar definitivo para cada animal. “A adoção é o coração do nosso trabalho. Precisamos de famílias dispostas a dar amor e cuidado. Infelizmente, após a calamidade, houve uma queda significativa tanto nas doações quanto nas adoções”, lamenta.
Franciele reforça a importância da adoção responsável e do apoio à causa animal. “Adotar é um ato de amor que transforma duas vidas: a do animal e a de quem acolhe.” De acordo com ela, cada adoção realizada pela ONG 101 Viralatas representa uma verdadeira oportunidade de recomeço para cães e gatos que foram vítimas do abandono, da fome e do medo.
No entanto, destaca que esse trabalho só se sustenta graças à solidariedade de pessoas físicas, já que a ONG não conta com apoio governamental nem com patrocínios fixos. “Toda a nossa estrutura é mantida exclusivamente por doações de pessoas físicas, que juntas ajudam a garantir a sobrevivência e o bem estar de quase 400 animais. Doações mantêm tratamentos, alimentação e castrações em dia – e sem isso, a esperança simplesmente não se sustenta. Adotar e doar são formas diferentes de salvar vidas, e todas são urgentes.”
