Sebastião Salgado, um dos mais respeitados nomes da fotografia documental no mundo, morreu nesta sexta-feira (23). Para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sua partida representa a perda de um grande aliado da luta pela reforma agrária no Brasil. Para Roberto Baggio, da coordenação nacional do MST, Salgado era sobretudo um militante da imagem, cuja lente ajudou a revelar ao mundo a violência do latifúndio e a potência da organização popular no campo.
Salgado se aproximou do MST em 1996, ao buscar compreender a realidade agrária do país. A partir desse contato, passou a acompanhar de perto a luta dos camponeses sem terra. Um dos registros mais emblemáticos de sua trajetória com o movimento foi feito na madrugada de 17 de abril daquele ano, quando mais de 3 mil famílias ocuparam a Fazenda Araupel, no Paraná. A fotografia de um camponês com uma foice em punho, rompendo a cerca do latifúndio, se tornou ícone da resistência agrária. Na mesma data, no Pará, ocorreria o massacre de Eldorado dos Carajás, que Salgado também registrou dias depois.

“Sebastião conseguiu captar a essência do movimento, essa força humana de camponeses, mulheres, crianças em busca de terra”, afirmou Baggio, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. “Desde esse primeiro momento, ele se encontra com a terra, com os camponeses, com o povo brasileiro, e contribui com uma missão extraordinária de solidariedade e apoio ao MST.”
Parte fundamental dessa contribuição foi a doação das imagens da coleção Terra, exposta em diversos países, cuja arrecadação ajudou a viabilizar a construção da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), centro de formação política e cultural do MST. “Ele doou de forma gratuita e voluntária todo esse trabalho. Foi um militante completo, de linha de frente. Fazia a batalha das ideias através da fotografia, das imagens”, destacou Baggio.
Ao longo de sua carreira, Salgado também voltou sua lente para os garimpeiros de Serra Pelada, a guerra do Golfo e, nos últimos anos, dedicou-se à proteção da Amazônia e à valorização dos povos indígenas. A semana do meio ambiente, de 2 a 6 de junho, teria mais um capítulo dessa relação com o MST: Salgado foi convidado para participar de uma semeadura aérea de açaí e pupunha em áreas da reforma agrária no Paraná, região que havia fotografado 29 anos antes.
Segundo Baggio, o fotógrafo analisava a possibilidade de comparecer. Agora, o plantio será feito em sua homenagem. “Vamos semear em homenagem a ele sementes da vida, da biodiversidade, do cuidado com a natureza”, disse Baggio. “A nossa admiração, gratidão eterna pela solidariedade de Sebastião Salgado. Ele continua vivo conosco aqui no Brasil e nas terras da reforma agrária”, concluiu.
Para ouvir e assistir
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