A morte do militante sem-terra Gideone Menezes, de 68 anos, atropelado durante uma marcha do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Recife (PE), é resultado, além da ação do motorista, da negligência do Estado com a reforma agrária e de “ideologia de violência” semeada por setores do agronegócio e do bolsonarismo. A avaliação é de Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST.
“Infelizmente, a demora na desapropriação e a inoperância dos órgãos responsáveis por isso impediram que seu Gideone fosse assentado, e por isso ocorreu essa tragédia”, defendeu o dirigente, em entrevista nesta segunda-feira (26) ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Menezes foi atropelado no início de maio, durante uma marcha que reuniu mais de 3 mil militantes, parte da Jornada de Lutas pela Reforma Agrária do MST, conhecida como Abril Vermelho. Segundo Mauro, o motorista “lançou o carro em cima dos marchantes”. “Alguns conseguiram se esquivar, sair, mas o seu Gideone foi atingido e arrastado por mais de cinco metros e depois o carro passou por cima”, relata.
O militante ficou internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por mais de um mês e morreu na última sexta-feira (23). O motorista também atropelou Samuel Scarponi, dirigente do MST em Pernambuco, que teve ferimentos no braço. O autor do crime está preso preventivamente e a sua identidade não foi revelada. Até o momento, a polícia não reconheceu motivação política no caso.
O dirigente nacional do MST relaciona o caso ao avanço da violência contra os pobres e sem-terra. “Isso é parte de uma lógica que foi semeada de violência em toda a sociedade. […] Os setores que historicamente sempre dominaram a terra e as riquezas do Brasil conseguiram gerar uma espécie de consenso, fruto de toda a propaganda nos meios de comunicação, do agronegócio e do governo Bolsonaro”, lamenta.
Para Mauro, a tragédia ocorre justamente quando o Brasil poderia estar avançando no tema da reforma agrária. “Seja inflação de alimentos, seja destruição ambiental, a reforma agrária que nós defendemos poderia resolver esses problemas, ou pelo menos contribuir muito para isso”, afirma.
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