As eleições legislativas realizadas no Suriname no domingo (25), terminaram sem um vencedor claro. Como resultado, as principais forças políticas do pequeno país sul-americano enfrentam negociações complexas e decisivas que definirão a formação do próximo governo.
De acordo com os resultados preliminares, a participação eleitoral chegou a 64% dos cerca de 400 mil eleitores aptos a votar. Tanto o Partido da Reforma Progressista (VHP) de direita liberal, atualmente no poder e liderado pelo presidente Chan Santokhi, que está deixando o cargo, como o Partido Nacional Democrático (NDP), oposicionista de centro-esquerda e liderado por Jennifer Geerlings-Simons, conquistaram 18 cadeiras cada um na Assembleia Nacional, que possui 51 assentos.
O Suriname elege seu presidente por meio de um sistema de votação indireta, que exige uma maioria qualificada de dois terços — ou seja, 34 cadeiras. Com isso, os principais partidos estão em intensa disputa para garantir o apoio de outras forças e alcançar a maioria necessária.
Com 90% dos votos apurados, o Ministério do Interior confirmou que outros cinco grupos também obtiveram representação parlamentar.
A ABOP, liderada pelo atual vice-presidente Ronnie Brunswijck, conquistou entre 5 e 6 cadeiras. Trata-se de um partido que integra o atual governo de Santokhi, portanto, é provável que essa aliança seja mantida.
Por outro lado, o histórico NPS também obteve entre 5 e 6 cadeiras, número que dependerá da contagem final. O NPS foi um aliado importante na eleição de Santokhi em 2020. No entanto, em 2023, decidiu deixar a coalizão governista, alegando falta de participação na formulação de políticas. Desde então, vários de seus principais líderes manifestaram, em diferentes ocasiões, resistência à formação de uma nova aliança.
No total, os partidos minoritários somam 16 cadeiras. Em um cenário tão fragmentado, cada voto pode ser decisivo nas negociações.
Caso os 34 votos necessários na Assembleia Nacional para eleger o novo presidente não sejam alcançados, a decisão será transferida para a Assembleia Popular Unida, composta por 900 membros, incluindo deputados da Assembleia Nacional e representantes dos conselhos distritais e locais. Nesse caso, o presidente é eleito por maioria simples.
Uma nação em uma encruzilhada
O próximo governo encontrará o país em uma situação complexa e desafiadora, marcada por sérios problemas estruturais.
O Suriname enfrenta uma grave crise da dívida externa, que corresponde a cerca de 79% do Produto Interno Bruto. Na última década, o país sofreu com uma inflação descontrolada, enquanto a pobreza afeta uma em cada cinco pessoas. Somam-se a isso o aumento da desigualdade social e uma escalada preocupante da violência, com taxas de homicídio que quase quadruplicaram no ano passado. Esses fatores compõem um cenário crítico para o presente e o futuro do país.
Nesse contexto, os resultados eleitorais atuais são dos mais acirrados da história do Suriname desde sua independência da Holanda, em 1975.
Nos últimos cinco anos, sob a presidência de Chan Santokhi, o país passou por importantes reformas liberais. Antes de sua eleição, o Suriname mantinha laços muito estreitos com a China. No entanto, seu governo, com supervisão do Fundo Monetário Internacional, promoveu cortes no setor público e buscou fortalecer os laços com Washington.
Essa reaproximação com os Estados Unidos representou uma tentativa de reorientar a política econômica e externa do país. Durante os governos do Partido Nacional Democrático (2010–2020), o Suriname aprofundou seus vínculos com a República Popular da China, tornando-se um dos primeiros países da região a aderir à Iniciativa do Cinturão e Rota da Seda no continente.
Por isso, a definição do próximo governo atrai atenção internacional, especialmente dos Estados Unidos. Em março, como parte de sua turnê pela região, o chefe do Departamento de Estado norte-americano, Marco Rubio, visitou o Suriname e participou de uma coletiva de imprensa ao lado do presidente Chan Santokhi.
Enquanto isso, uma eventual vitória do Partido Nacional Democrático (NDP), liderado por Jennifer Geerlings-Simons, poderia sinalizar um retorno às alianças adotadas entre 2010 e 2020.
As expectativas, tanto internas quanto externas, estão ainda mais elevadas porque estas são as primeiras eleições realizadas após a confirmação de vastas reservas de petróleo em águas profundas.
Com reservas estimadas em 760 milhões de barris, o Suriname se prepara para explorar esses recursos por meio de sua empresa estatal de energia, a Staatsolie. A produção e exportação de petróleo e gás offshore está prevista para começar em 2028. O projeto será liderado pela TotalEnergies, operadora do campo GranMoru, com capacidade projetada de 220 mil barris por dia.
Em novembro, o Suriname celebrará 50 anos de independência. Com um parlamento dividido e grandes decisões pela frente, o país se encontra em uma encruzilhada crítica que definirá seu rumo político e econômico para os próximos anos.