Os leitores e as leitoras do Brasil de Fato já ouviram falar da cidade de Alpestre, no interior do RS. A localidade que até pouco tempo recebia as principais referências por conta da usina hidrelétrica Foz do Chapecó, que foi instalada em parte do seu território, tem encontrado novo destaque por estar se tornando um polo de desenvolvimento de histórias em quadrinhos (HQs), já contando inclusive com uma gibiteca pública.
No mês de maio essa predisposição para a arte sequencial levou a jovem quadrinhista Marcelli Ibaldo, de apenas 18 anos, a ministrar uma série de oficinas junto a turmas das oito escolas da rede pública local, mais a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Oportunidade de compartilhar conhecimentos acumulados em uma jornada de leitora e criadora que se estende desde sua primeira infância.

O projeto “Histórias em Quadrinhos: Criatividade e Reflexão Crítica” foi financiado com recursos da política pública Aldir Blanc, mantida pelo governo federal, através do Ministério da Cultura, e executado pela prefeitura local, através da Secretaria de Educação. Cada atividade teve duração de duas horas, sendo a maior parte realizada no espaço da Casa de Cultura, onde está instalada a gibiteca, à exceção da oficina realizada nas dependências da escola da Apae.
Marcelli explica que “a oficina se propôs a mais do que ensinar a desenhar, ensinar a contar histórias e expressar ideias através da narrativa das histórias em quadrinhos”. Foram abordados aspectos profissionais sobre possibilidades de carreira através da arte, do contar histórias e dos quadrinhos. Dois anos atrás foi realizado um primeiro ciclo de oficinas, quando ela ainda contava apenas 16 anos de idade, e os resultados já haviam sido muito promissores.
Para a quadrinhista, a lembrança mais marcante daquele período foi o fato de muitas crianças terem o primeiro contato com HQs através da personagem criada por ela e seu pai, Marcel Ibaldo, a tiranossaura nerd Tê Rex. Ano passado, porém, por conta das enchentes, a atividade não foi realizada.
Com a possibilidade dos recursos da lei Aldir Blanc, o projeto foi retomado com força total agora. Empolgados com os resultados, já estão prevendo uma ampliação das metas do projeto e demarcando novas oficinas no segundo semestre: “dessa vez vamos expandir os temas abordados e tornar o ensino gradualmente mais técnico, visando eventual publicação de trabalhos realizados pelos estudantes”, acrescenta.

Desenvolvimento infantil
Em nota ao Brasil de Fato RS, a Secretaria de Educação, Cultura, Desporto e Turismo de Alpestre expressou que a oficina “é uma atividade valiosa para as crianças, pois estimula a criatividade ao oferecer um espaço onde os participantes podem expressar livremente sua imaginação, criando personagens, cenários e narrativas únicas”. Afirma ainda que a atividade contribui para o desenvolvimento da leitura e da percepção visual, já que as HQs apresentam textos acessíveis e envolventes, acompanhados de imagens que facilitam a compreensão da história.
“A atividade também proporciona um ambiente lúdico e colaborativo, no qual as crianças aprendem umas com as outras, compartilham ideias e experiências, e desenvolvem habilidades de análise crítica”, acrescenta a nota. Afirman ainda que as histórias em quadrinhos “são uma forma rica de expressão e podem ser utilizadas como ferramenta pedagógica em sala de aula, tanto para abordar diversos conteúdos quanto para despertar o interesse dos alunos pela leitura e pela produção de textos e as crianças adoraram”.
Exposição à vista
Marcelli ressalta ainda que os trabalhos produzidos pelos alunos serão expostos durante a Feira do Conhecimento, tradicional evento realizado no município, previsto também para o segundo semestre de 2025. A expectativa é consolidar, tanto nos próprios estudantes quanto junto à comunidade em geral, a compreensão de que o trabalho que realizam em quadrinhos é promissor e valioso, “não só como um incentivo visando uma dedicação continuada ao estudo da arte e da narrativa, mas também um manifesto do quanto eles conseguem realizar grandes coisas através do que são capazes de criar”.
Quarto livro está pronto
Já a personagem Tê Rex, criada por Marcelli e Marcel, também está com novidades: o quarto livro da série está pronto. Igualmente viabilizado com recursos do edital da lei Aldir Blanc, o novo livro deverá ter seu lançamento oficial nos próximos meses e já conta com universo expandido próprio, viabilizando publicações derivadas de personagens secundários que dividem as micronarrativas em tirinhas da protagonista.
Para encerrar este texto no melhor estilo das HQs seriadas, deixamos comprometido com os leitores e as leitoras de que o lançamento será objeto de outra reportagem, aqui mesmo, no Brasil de Fato.
