Superlotação, demora no atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e de Pronto Atendimento, sobrecarga de trabalho, assim é a realidade do sistema de saúde de Porto Alegre. A situação chegou a um ponto extremo que no dia 16 de maio, o Executivo municipal decretou situação de emergência em saúde pública. A medida tem validade por 90 dias e ocorre devido ao aumento no número de internações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em adultos e crianças.
Com o objetivo de ser uma ferramenta de escuta e fiscalização das unidades de saúde da Capital, e também servir como subsídio para pensar soluções para a situação, o vereador Alexandre Bublitz (PT) lançou essa semana o projeto “Raio-X da Saúde de POA”. A proposta é vistoriar todas as emergências, Unidades Básicas de Saúde (UBS) e alguns hospitais. A iniciativa prevê visitas semanais.
“Eu sou um trabalhador da saúde, sou médico, sou pediatra. Já estive muitas vezes na linha de frente com emergências superlotadas. E eu sei o quão difícil é pra quem está lá na linha de frente fazendo atendimento de saúde estar em um ambiente superlotado, um ambiente onde tem 400% de lotação, ou seja, às vezes até quatro vezes mais o número de pacientes para ser atendido do que deveria, sem estrutura para tanto”, expõe Bublitz.

No domingo passado (25), dos nove hospitais da cidade, três haviam restringindo o atendimento exclusivamente para casos com risco de vida: o Hospital de Clínicas, o Hospital Santa Casa e o Hospital São Lucas da PUCRS. Nesta quarta-feira (28), de acordo com dados do painel de monitoramento da prefeitura, 100% dos leitos hospitalares estão ocupados, sendo 58% de pacientes de fora da Capital. A superlotação também é realidade nas Unidades de Pronto Atendimentos (UPAS), como observado na UPA Moacyr Scliar, com taxa de ocupação de 382% e no Pronto Atendimento (PA) Bom Jesus, com 385% (adulto).
“Olhando o total de internações, vendo a superlotação, a classificação desses pacientes, a gente sabe que boa parte desses pacientes são de casos mais leves, que poderiam estar sendo atendidos na atenção básica. Mas como a gente sabe que a atenção básica também está com um grande problema, onde temos 95% de terceirização, ela acaba não funcionando também e não dá conta de ajudar essa população”, destaca o parlamentar.
Impactos nos trabalhadores da saúde
De acordo com o vereador, essa situação traz uma sobrecarga aos profissionais de saúde, que muitas vezes, também são alvo dos próprios pacientes. “Usuários do Sistema Único de Saúde que estão lá sofrendo, estão com suas dificuldades, estão tendo que esperar longas filas e por muito tempo, e às vezes acabam descontando sua frustração no trabalhador. Vai lá e agride o trabalhador, xinga, que são pessoas que na verdade estão lá tentando ajudar, e que são vítimas também desse processo de superlotação. Isso acaba gerando diversos problemas para a saúde mental dessas pessoas, como casos de burnout, depressão, crises de ansiedade.”
Segundo dados do Conselho Federal de Enfermagem, 70% dos profissionais já sofreram algum tipo de violência no exercício da profissão.
As vistorias, aponta o vereador, permitirão observar a realidade, coletar dados, mas fundamentalmente ouvir quem está na linha de frente, trabalhadores, médicos, enfermeiras, técnicos de enfermagem, pessoal da higienização e da segurança.
“Entender o que está acontecendo lá dentro, como está sendo esse momento para eles, saber quais são as críticas, quais são as dificuldades, quais são as perspectivas, e como que a gente pode fazer para ajudar a melhorar. Ou seja, para criarmos realmente um projeto onde se tenha como centralidade a escuta de quem está lá na linha de frente atuando, pra que não seja uma coisa que saia da cabeça de qualquer vereador, mas sim a partir de uma construção coletiva com os trabalhadores.”
Ainda, segundo complementa o parlamentar, a ideia é fazer uma comparação entre os dados deste ano com o ano passado e retrasado, e ver o quanto a enchente está impactando nesse processo como um todo
Além de ouvir os trabalhadores, a iniciativa também quer escutar os Conselhos de Saúde (municipal e estadual), Conselho Regional de Medicina, Conselho Regional de Enfermagem e sindicatos das categorias.
“Organizar uma reunião de trabalho e escuta com todos esses profissionais, com todos esses entes, com o Conselho Municipal de Saúde e poder montar um relatório, que sirva como base para a gente pensar soluções reais. A partir dali pretendemos ver se tem algum projeto de lei que possamos formular, se conseguimos encaminhar esse nosso relatório para a Secretaria Municipal de Saúde, para a Secretaria Estadual de Saúde ou para o próprio Ministério de Saúde, a fim de ajudar um pouco a corrigir os rumos e tentar achar um caminho melhor para a saúde de Porto Alegre”, concluiu Bublitz.
