Israel aceitou a proposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para um cessar-fogo em Gaza, mas as negociações com o Hamas “continuam”, anunciou a Casa Branca nesta quinta-feira (29).
“Posso confirmar que o enviado especial Witkoff e o presidente apresentaram uma proposta de cessar-fogo ao Hamas, que Israel endossou”, disse a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, em uma coletiva de imprensa em Washington.
A porta-voz não quis confirmar as informações publicadas em veículos de comunicação sauditas e israelenses, segundo as quais as duas partes teriam chegado a um acordo de cessar-fogo de 60 dias e que Trump estaria prestes a fazer um anúncio a respeito.
“Se tiver que haver um anúncio, virá da Casa Branca: do presidente, de mim mesma ou do enviado especial Witkoff”, disse Leavitt. O grupo palestino afirmou que examina um novo acordo proposto pelo enviado de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff.
Uma autoridade do Hamas disse na quinta-feira que um novo plano aprovado por Israel e pelos EUA para uma trégua em Gaza ficou aquém de suas exigências, mas estava sendo analisado pelo grupo. Bassem Naim, do escritório político do Hamas, disse que a resposta de Israel significava “a continuação da matança e da fome”.
Ele acrescentou que “não atende a nenhuma das exigências de nosso povo, a principal delas é parar a guerra e a fome”.
“No entanto”, disse ele, “a liderança do movimento está estudando a resposta à proposta com total responsabilidade nacional”.
Pelo menos 70 palestinos foram mortos em ataques israelenses na Faixa de Gaza desde a madrugada desta quinta-feira (29), informou o Ministério da Saúde de Gaza.
Akiva Eldar, analista político israelense, disse à rede de TV Al Jazeera que muitos israelenses não se comovem com as imagens de fome e desespero vindas de Gaza.
“[A fome] é uma ferramenta que Israel está usando. Muitos israelenses acreditam que a crise humanitária e a fome forçaram o Hamas a se aproximar da proposta de Witkoff [enviado especial dos EUA para o Oriente Médio] de concordar com um cessar-fogo e libertar os prisioneiros”, disse ele, falando de Tel Aviv.
Israel anuncia 22 novos assentamentos na Cisjordânia
Israel anunciou nesta quinta-feira (29) que criará 22 novas colônias judaicas – consideradas ilegais – na Cisjordânia ocupada, o que pode provocar uma tensão ainda maior nas relações do Estado hebreu com boa parte da comunidade internacional, já fragilizadas pela guerra em Gaza.
“Tomamos uma decisão histórica para o desenvolvimento dos assentamentos: 22 novas localidades na Judeia-Samaria”, afirmou o ministro das Finanças, o político de extrema direita Bezalel Smotrich, utilizando a designação israelense para o território palestino ocupado desde 1967.
“Esta é uma decisão histórica […] que mudará a face da região e moldará o futuro dos assentamentos [israelenses] na Cisjordânia nos próximos anos”, declarou o ministro da Defesa, Israel Katz, membro do partido conservador do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o Likud.
Desses “novos assentamentos”, nove serão criados do zero, segundo informações divulgadas pelo governo. Os outros são 12 postos avançados criados por colonos sem aprovação do governo, que serão legalizados dessa forma. O último, Nofe Prat, é um bairro no assentamento de Kfar Adomim que se tornará administrativamente independente.
Os assentamentos israelenses são considerados ilegais pelo direito internacional e a ONU os denuncia com frequência. A ONU também os considera um dos principais obstáculos para uma paz duradoura entre israelenses e palestinos, já que impede a criação de um Estado palestino viável.
Esta decisão “nos leva na direção errada para a solução de dois Estados”, disse Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres.
O movimento palestino Hamas, que governa Gaza, condenou o anúncio israelense e disse que representa “uma grave violação do direito internacional e das resoluções das Nações Unidas”. O Reino Unido também condenou a decisão de Israel, que classificou como um “obstáculo deliberado à criação do Estado palestino”.
Segundo as organizações de defesa dos direitos humanos ou contrárias aos assentamentos, sob o governo de Netanyahu o país avançou mais do que nunca em direção à anexação da Cisjordânia, especialmente desde o início da guerra desencadeada em 7 de outubro de 2023.
A ONG israelense Paz Agora, contrária à colonização, criticou a decisão e afirmou que o governo israelense já não esconde suas ambições de anexação. “O governo israelense já não finge o contrário: a anexação dos territórios ocupados e a expansão dos assentamentos são seu principal objetivo”, afirmou a organização em um comunicado.
Para a organização Paz Agora, esta iniciativa – a maior do tipo desde os Acordos de Oslo, com os quais Israel se comprometeu a não estabelecer novos assentamentos – modificará drasticamente a Cisjordânia e fortalecerá ainda mais a ocupação.
O plano foi divulgado no momento em que a França presidirá no próximo mês, com a Arábia Saudita, uma conferência da ONU que pretende estimular a solução de “dois Estados”: Israel e uma Palestina independente e plenamente soberana, vivendo um ao lado do outro em paz.
O governo de Netanyahu, para quem a “criação de um Estado palestino seria uma enorme recompensa ao terrorismo”, se opõe com firmeza a esta possibilidade.
Duas das 22 colônias anunciadas, Homesh e Sa-Nur, são particularmente simbólicas. Localizadas no norte da Cisjordânia, são de fato reassentamentos, já que foram esvaziadas em 2005 como parte do plano israelense de retirada da Faixa de Gaza promovido então pelo primeiro-ministro Ariel Sharon.
Constituído em dezembro de 2022 com o apoio de partidos ultraortodoxos e de extrema direita, o governo de Netanyahu é um dos Executivos mais à direita da história de Israel.
*Com AFP