Na tarde desta quinta-feira (29), manifestantes se reuniram na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para exigir do governo brasileiro o reconhecimento oficial da República Árabe Saarauí Democrática e denunciar a repressão do Marrocos sobre o território do Saara Ocidental. A ação faz parte de uma mobilização internacional que ocorre em diversos países, com o objetivo de dar visibilidade à causa Saarauí e pressionar por mudanças diplomáticas.
O ato reuniu representantes de movimentos sociais, partidos políticos e entidades internacionais em frente ao Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores. Durante a mobilização, um documento foi entregue ao governo brasileiro, pedindo o reconhecimento da República Saarauí. A manifestação também denunciou as condições de escassez dos presos políticos no Marrocos.
De acordo com a organização da manifestação, atualmente cerca de 70% do território do Saara Ocidental está ocupado pelo Marrocos, que mantém presença militar na região. Para impedir o avanço da Frente Polisário, o governo marroquino construiu um muro de mais de 2 mil quilômetros, fortificado com minas terrestres.
“O Marrocos é um reino que oprime, mata, tortura. Não queremos mais isso para nenhum povo”, afirmou a presidenta da Associação de Solidariedade à Luta do Povo Sarauí, Maria José Conceição, popularmente conhecida como Maninha.
Além da repressão ao povo saaraui, a ocupação marroquina também envolve a exploração econômica dos recursos naturais. “Estamos diante de um povo que vive uma guerra invisível, enquanto suas riquezas são usurpadas”, declarou o jornalista Pedro César Batista, representante do Comitê Anti-imperialista General Abreu Lima.
Um dos principais focos da marcha foi apontar sobre a situação dos prisioneiros políticos saarauí detidos pelas autoridades marroquinas sem julgamento adequado, sob acusações políticas, que agora são mantidos incomunicáveis e em situações de vulnerabilidade, violando os direitos humanos, segundo os organizadores.
“Estão sendo torturados, sem ter garantido o mínimo direito humano. São líderes da Frente Polisário que foram sequestrados, presos, sem nenhuma condenação. Isso é uma violação absurda do direito internacional”, afirmou Batista.
Apoio aos prisioneiros

O vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) Sayid Tenório denunciou a gravidade das penas impostas. “Combatentes por democracia, direitos e liberdade foram condenados à prisão perpétua, submetidos à tortura, sem direito à assistência jurídica e sem previsão de julgamento”, disse.
Como forma de resistência simbólica, todos os países que estão se mobilizando em solidariedade a causa, “adotaram” um dos prisioneiros mantidos nas prisões do Marrocos, o Brasil “adotou” Hassin Bujamaellmahjub Zawidit, preso em 2010 e condenado a 25 anos de prisão. “Vamos escrever cartas, arrecadar recursos para ajudar sua família. Queremos que ele saiba que o mundo inteiro está se mobilizando para libertá-lo”, explicou Maninha.
Entre as principais demandas da mobilização está o reconhecimento oficial da República Árabe Saaraui Democrática pelo Brasil — algo já feito por mais de 80 países. “Nós queremos que o documento chegue ao presidente Lula e queremos o passo seguinte, que é o reconhecimento como país”, disse Maninha.
O Brasil de Fato DF questionou o Ministério das Relações Exteriores sobre a atuação do governo brasileiro em reconhecimento à República Árabe Saarauí Democrática, a pasta se limitou a dizer que o tema foi objeto de uma declaração conjunta emitida por ocasião de visita do ministro Mauro Vieira ao Marrocos em junho de 2024. No documento, o governo brasileiro observa que durante o encontro “reiterou o apoio aos esforços das Nações Unidas para alcançar uma solução política e mutuamente aceitável, de acordo com as disposições pertinentes das Nações Unidas”.
Situação Palestina
Uma comparação recorrente durante a mobilização foi entre a situação do Saara Ocidental e a Palestina. Ambos os povos vivem sob ocupações coloniais prolongadas, enfrentando repressão violenta, deslocamentos forçados e negação de direitos.
“A Palestina está sob ocupação colonial israelense há 77 anos. O Saara Ocidental, há 49 anos. O povo saaraui sofre assassinatos, roubo de terras, tortura, exatamente como ocorre na Palestina”, afirmou Tenório.
Ele também destacou o vínculo direto entre os regimes opressores “Israel fornece armas, apoio político, dinheiro e drones para que o reino do Marrocos assassine os verdadeiros donos da terra.”
A marcha em Brasília integra uma ação mundial em defesa da soberania saaraui. Em países da Europa, África e América Latina, militantes e organizações realizam atos simultâneos com o mesmo objetivo: romper com a barbárie internacional.
“Esta marcha tem uma importância muito grande, porque está acontecendo no mundo inteiro. É a tentativa de dar voz a uma luta ignorada, uma guerra invisível”, afirmou Maninha. Ela concluiu: “Não é possível, no século XXI, que pessoas sejam presas em seu próprio território por lutarem pela sua liberdade.”