Foi inaugurado no Morro da Cruz, em Porto Alegre (RS), o Espaço Periferia Feminista, iniciativa desenvolvida pelo Coletivo Periferia Feminista, vinculado à Marcha Mundial de Mulheres do Rio Grande do Sul. O coletivo atua desde 2020 com ações voltadas à agroecologia, ao feminismo popular e à segurança alimentar na periferia da capital gaúcha.

A inauguração do espaço marca a ampliação de estruturas físicas e de equipamentos voltados para a comunidade, como a cozinha solidária, a padaria e a costuraria. A cozinha, que já vinha funcionando desde maio de 2024 em resposta às enchentes que atingiram a cidade, foi expandida. Ainda em fase de finalização, o sistema de captação e irrigação com água da chuva da horta comunitária também integra o conjunto de ações sustentáveis do projeto.
Durante o evento de inauguração, houve programação cultural, almoço comunitário e visita às instalações do coletivo. O Bazar Periferia Feminista apresentou produtos como roupas, bolsas, camisetas e itens produzidos pela padaria, reforçando a proposta de promoção da autonomia econômica de mulheres do território.

“A Periferia Feminista não nasceu agora. Ela surgiu em 2020, no auge da pandemia, quando a insegurança alimentar atingia milhares de famílias e o controle social era desmontado, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) foi extinto, por um governo negacionista que abandonava a população à própria sorte”, recorda Any Moraes, do Coletivo Periferia Feminista.
Ela lembra que tudo começou com uma horta comunitária. “Dela brotou a cozinha solidária, redes de cuidado, geração de renda para mulheres e soluções populares como a captação de água da chuva e a fossa ecológica, que resolveu o saneamento básico cuidando também do meio ambiente.”
Premiação
A iniciativa recebeu, na mesma semana, o primeiro lugar no 1º Prêmio Nacional de Agricultura Urbana, promovido pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). A premiação aconteceu durante a 5ª Conferência Global One Planet, sediada em Brasília entre os dias 27 e 29 de maio, com a participação de experiências de diversos países voltadas à transformação dos sistemas alimentares.
Ao representar as 25 iniciativas premiadas na abertura da conferência, Any Moraes destacou os desafios enfrentados pela comunidade do Morro da Cruz, como a insegurança alimentar e o acesso irregular à água. Segundo ela, as ações do projeto articulam tecnologias sociais, redes de cuidado e geração de renda com foco em justiça de gênero, raça, classe e ambiental.
“A soberania alimentar que praticamos não é só uma escolha ecológica. É uma estratégia de sobrevivência. É justiça climática, é economia solidária, é cuidado em rede. Não fazemos só agricultura. Fazemos política. Porque lutar por comida, por terra, por água e por clima é lutar por justiça. E fazemos isso com uma perspectiva feminista, onde cada mulher que planta também colhe autonomia”, afirmou no evento.

Durante a fala, também foi ressaltada a importância do reconhecimento às soluções populares frente às crises ambientais e sociais. Para o coletivo, práticas como hortas comunitárias, cozinhas solidárias e captação de água da chuva são estratégias de soberania alimentar e justiça climática, construídas a partir da realidade e das necessidades da população periférica.
A presença do coletivo na conferência, que contou majoritariamente com representantes de governos, foi considerada pelos organizadores como um momento simbólico de escuta das vozes de base na formulação de políticas públicas para o enfrentamento da fome, da pobreza e da crise climática.
