O 8º Festival Santa Cruz de Cinema ocorre no próximo mês no município do Vale do Rio Pardo, de 9 a 13 de junho, no Auditório da Universidade de Santa Cruz (Unisc), com entrada franca. A organização anunciou, nesta quinta-feira (29), o nome da homenageada de 2025: a atriz gaúcha Araci Esteves. Também nesta semana foi divulgado que o ator pernambucano Allan Souza Lima receberá o Troféu Tuio Becker.
O cinema brasileiro vive um momento excelente, não há como sequer pensar em questionar este fato. Depois do Oscar de Ainda estou aqui, o diretor Kleber Mendonça Filho e o ator Wagner Moura saíram aplaudidíssimos do Festival de Cannes no último fim de semana, além dos prêmios da Crítica e das Salas Independentes para O Agente Secreto.

Logo após as láureas no principal festival internacional da sétima arte, ainda no sábado (26), o porto-alegrense Pedro Guindani afirmou ao Brasil de Fato RS que uma cadeia produtiva estável e com regularidade de mecanismos de financiamento há quase 30 anos foi responsável por gerar um realizador e, por conseguinte, um filme com essa projeção toda.
Em sua rede social, o roteirista e produtor executivo destaca que neste momento de celebração e júbilo para todo o audiovisual brasileiro, vale também relembrar aqueles passos iniciais da trajetória desse grande cineasta. “Ao usufruir de recursos financeiros provenientes de mecanismos de funcionamento estável e regular, Kleber pôde se estabelecer e refinar enquanto autor de cinema.”
Para Guindani, quando há mecanismos regulares, estáveis e previsíveis para o financiamento de obras audiovisuais, “o resultado natural é um desenvolvimento próspero e frutífero como esse que se verifica em Pernambuco, não apenas com a obra de Kleber, mas também de outros realizadores de trajetória consistente, como Gabriel Mascaro, Lírio Ferreira, Marcelo Pedroso e vários mais”.
Ao exaltar este feito, avaliando o contexto em que ele se deu, obviamente o realizador gaúcho faz um paralelo com estes pagos e lamenta a discrepância. “O Rio Grande do Sul, por sua vez, outrora reconhecido como o terceiro polo de produção audiovisual brasileiro, ficou para trás. Contando com mecanismos de financiamento irregulares e esporádicos, não foi possível desenvolver capacidades ou talentos à altura dos pernambucanos, algo que no longo prazo se revela na distância intransponível estabelecida entre as cadeias produtivas de cada estado”, finaliza Guindani, pedindo reformulação no fomento local.

Mesmo assim, teve um festival de cinema realizado no interior do Rio Grande do Sul que foi lembrado em Cannes. O carioca Leonardo Martinelli, que estava no evento com seu último curta concorrendo na Semana da Crítica, gravou um vídeo lembrando da contribuição de Santa Cruz do Sul para esta obra.
Segundo o cineasta, Samba Infinito é uma produção especial, com a participação de Gilberto Gil e Camila Pitanga e protagonismo de Alexandre Amador, e a estreia foi bonita. “O Festival Santa Cruz de Cinema faz parte da minha jornada e é o festival que ajudou esse filme a ser como ele é. Por quê? Porque em Santa Cruz, a gente conhece a gente. Fui com um filme e conheci Alexandre Amador que estava com outro. Teve uma conexão e ele acabou protagonizando esse novo curta-metragem”, relata.
Martinelli conta ainda que foi no interior gaúcho que aprofundou a amizade com Renan Brandão, que acabou sendo produtor e diretor assistente de Samba Infinito. “É um rapaz que eu já conhecia de outros festivais, mas lá a gente ficou no mesmo quarto, dividiu várias reflexões juntos e trocou ideias sobre o cinema.”
Então, para ele, o filme é muito como é por conta desses encontros que Santa Cruz possibilitou. “Acho que isso mostra a importância desses festivais, não só para mostrar os filmes que estão na tela, mas pelos encontros que ajudam a fazer existir os filmes que estão por vir. Obrigado Santa Cruz, um abraço de Cannes.”
O crescimento do evento cinematográfico

O depoimento do diretor Leonardo Martinelli, que tem diversos curtas premiados em festivais, reforça a missão que o evento em Santa Cruz do Sul se propõe de integração dos convidados. Viajando e realizando coberturas de algumas dessas iniciativas, a repórter pode confirmar que a cidade do Vale do Rio Pardo realmente sedia um ambiente efetivo, mais próximo e intenso, para o compartilhamento de visões sobre o cinema.
Para além desse papel, em 2025, o Festival Santa Cruz de Cinema dá novos passos para sua consolidação no cenário do audiovisual brasileiro e se apresenta como mais uma peça importante neste colorido quebra-cabeças. “Neste ano, a gente pretende fazer nossa maior edição. Vamos ter paineis de governança e, junto com o Santa Cruz Polo Audiovisual, a primeira rodada de negócios aqui da região. Vai ter a presença de pelo menos três players importantes do mercado brasileiro, produtoras que trabalharam em grandes projetos no Brasil. Vai ser uma edição bem interessante”, diz Diego Tafarel, um dos organizadores, comemorando o crescimento do evento, que também começa sua internacionalização.
Sobre o financiamento, Tafarel comenta que será como nos outros anos, ou seja, segue com o Serviço Social do Comércio do RS (Sesc), a Unisc e o Pé de Coelho Filmes realizando e também investindo no evento. “E o patrocínio de sempre, que se manteve com a gente, que é a JTI (Japan Tobacco International). Tem patrocínio da Prefeitura Municipal também. Neste ano, vencemos o edital da Lei Paulo Gustavo Estadual e também estamos trabalhando de maneira sustentável.” Segundo ele, mesmo com esse incremento de valores neste ano, de orçamento, sempre pensam na sustentabilidade. “Investir certo o dinheiro, de maneira que o festival continue crescendo e se mantenha sustentável, sem dar nenhum passo maior do que deve dar.”
Guindani acredita que o Festival de Santa Cruz tem se consolidado como um dos espaços mais interessantes e dinâmicos do circuito de festivais. “Acho que isso se dá por sua continuidade e sua integração com a comunidade, bem como a preocupação em contar com a presença de realizadores vindos de diversas regiões do país.” Para ele, crescer diz respeito a despertar interesse, atrair atenção, ser um festival para onde se quer ir para exibir os filmes. “E isso tem acontecido”, avalia o roteirista, que acompanha o evento regularmente.
Em 2025, Guindani também pretende marcar presença, agora atento às rodadas de negócios. “Buscar essa presença de mercado, o que é um caminho comum a eventos que se encontram nesse momento de consolidação, é também uma forma de olhar pro futuro, como um espaço que permite encontros capazes de levar ideias e projetos para frente.”
Homenagens pontuais sempre a nomes representativos

O rosto que ficou no imaginário geral como sendo da grande Anahy de las Misiones, será, mais uma vez, aclamado, depois de Bagé e Gramado, em um festival de cinema gaúcho. Araci Esteves foi a protagonista do longa da Retomada, dirigido por Sérgio Silva, considerado um marco para o cinema gaúcho e brasileiro. Este que é considerado o mais simbólico papel da atriz completa 28 anos em 2025.
Com mais de 60 anos de sólida carreira no teatro, cinema e televisão, Araci é uma emblemática personalidade da história do audiovisual gaúcho. Nascida em Osório, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, mudou-se para Porto Alegre ainda no começo dos anos de 1950, onde posteriormente viria a cursar artes dramáticas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
É ainda a grande face feminina de outro título relevante da história do audiovisual gaúcho: Um é pouco, dois é bom. O longa do diretor Odilon Lopez seria apenas o primeiro das mais de duas dezenas de trabalhos da atriz nas telas.

O 8º Festival Santa Cruz de Cinema ainda vai entregar o Troféu Tuio Becker, ao ator Allan Souza Lima, que, entre os trabalhos mais recentes, se destaca como protagonista da série Cangaço Novo. A honraria foi criada para celebrar a significativa contribuição ao cinema do crítico santa-cruzense, também reconhecido nacionalmente pelo seu trabalho, e já foi entregue para nomes como Thiago Lacerda, Marcos Breda e Julio Andrade.
O multiartista pernambucano também tem uma trajetória estreita com o audiovisual do Rio Grande do Sul. Já filmou com Tabajara Ruas, que foi homenageado em Santa Cruz no ano passado, e está neste momento no estado gravando diárias do longa Talismã, da produtora Vulcana. Allan ainda é diretor e sócio de Fernanda Etzberger na Ikebana Filmes, onde também atua como produtor e roteirista.
Entre seus trabalhos como ator, diretor e produtor, soma mais de 35 premiações em festivais nacionais e internacionais. O recifense também está envolvido na direção de um longa-metragem que será produzido no Maranhão, previsto ainda para este ano, ampliando seu portfólio por trás das câmeras.
Mostra nacional
Confira os 18 curtas-metragens selecionados por uma curadoria formada por mais de 12 pessoas para serem exibidos em competição no Auditório da Unisc:
À BORDA DA VIDA | Porto Alegre
Direção: Camila Bauer
A CASA AMARELA | Paraná
Direção: Adriel Nizer
ANA CECÍLIA | Pelotas
Direção: Julia Regis
ATENTADO AO MONEGASCO | Rio de Janeiro
Direção: Lucas H. Rossi dos Santos e Henrique Amud
BENÇA | Paraná
Direção: Mano Cappu
BORDERÔ | Bahia
Direção: Hilda Lopes Pontes e Klaus Hastenreiter
CAVALO MARINHO | Pernambuco
Direção: Leo Tabosa
CHIBO | Tiradentes do Sul
Direção: Gabriela Poester e Henrique Lahude
DEPENDÊNCIAS | Rio de Janeiro
Direção: Luisa Arraes
DEZESSEIS | Mato Grosso
Direção: Hamsa Wood
FLOR | Esteio
Direção: Joana Bernardes
JÚPITER | Minas Gerais
Direção: Carlos Segundo
LIVRE PARA MENSTRUAR | São Paulo
Direção: Ana Paula Anderson
PASTRANA | Novo Hamburgo
Direção: Melissa Brogni e Gabriel Motta
POSSO CONTAR NOS DEDOS | Pelotas
Direção: Victória Kaminski RUÍDO | Paraná
Direção: Gui Souza
SONECA E JUPA | Minas Gerais
Direção: Rodrigo R. Meireles
VÃO DAS ALMAS | Distrito Federal
Direção: Edileuza Penha de Souza e Santiago Dellape
