Com mais de 10 anos de carreira, o estudante de Letras, ator, apresentador e palestrante Pelé do Manifesto viu no rap uma chance de se expressar sobre os dilemas da juventude negra e periférica e hoje se destaca no cenário rap do Pará.
Do bairro Cremação, na periferia de Belém, Allan Roosevelt – o Pelé do Manifesto – exalta o orgulho de ser negro e aponta denúncias sobre a violência e o racismo, mas também a alegria e sabedoria das periferias.
Barrado mais de dez vezes no portão da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde hoje é estudante, o rapper fala ao Bem Viver , programa do Brasil de Fato. sobre a privação de direitos à juventude e a importância do acesso a políticas público de cultura e educação.
Confira a entrevista na íntegra
Brasil de Fato: O que o rap tem te proporcionado?
Pelé do Manifesto: Quando iniciei no rap obviamente eu não imaginava alcançar o que alcancei, eu só queria me expressar. Acho que essa ideia de capitalizar os nossos sonhos é muito complicada, às vezes a gente precisa extravasar, a nossa cabeça está muito cheia o estresse do cotidiano está batendo e a gente precisa se expressar, a arte é para isso, é para potencializar um sentimento.
O rap me moldou, acho que muito do que sou hoje, 99% é graças ao rap. Estou dentro uma universidade hoje graças ao rap, eu sou ator graças ao rap, apresentador de TV graças ao rap, todos os passos que eu dei desde 2003 até hoje, o rap veio guiando. O rap na minha vida é fundamental, ele é tudo, o que guia meus passos e trouxe uma filosofia de vida.
A sua música é também uma ferramenta de denúncia?
Tudo isso que a gente consome nos ensina e nos ensinaram que o negro é mau, que o negro é ruim, que não tinha intelecto, que ele é feio, então eu estou tentando fazer o oposto disso, usando a cultura para mostrar as belezas da periferia. Olha, na periferia tem intelectualidade, tem beleza, tem arte, tem cultura e um universo vasto que a gente geralmente não conhece, porque assiste a periferia sendo presa, sendo morta…
Então a minha música é uma ferramenta de denúncia porque o rap é isso, ele surge com essa característica de ser uma ferramenta de denúncia, mas também uma ferramenta de demonstração da realidade dos jovens e ressignificação de como esses jovens merecem ser vistos na sociedade.
Você vem das batalhas de rap na periferia, geralmente marginalizadas e sem apoio do poder público. O que elas representam para a juventude?
A juventude acaba se expressando através das batalhas e o que a gente vê é, principalmente aqui em Belém, é o poder público atrapalhar esse tipo de manifestação. Hoje faço parte da Batalha do Crematório, no bairro Cremação e por eu, Pelé do Manifesto, ter apoiado um governo oposto ao que está agora, eles tiram a energia da praça que acontece a Batalha toda quarta-feira, dia que acontece a batalha.
Se utiliza da estrutura do município para tentar ferrar a batalha, quando o município deveria fazer o oposto, deveria valorizar a cultura, potencializar a arte, mas o que gente vê é que manifestações que vem de periferia, originalmente negras como o carimbó, a batalha, o batuque, a gente vê que o poder público não só ajuda, como tenta atrapalhar.
Ao ingressar na universidade, sua foto estampou jornais e você fala com muito orgulho dessa oportunidade. Isso acaba influenciando outros jovens?
Ser esse ponto de referência não só na música, mas também nos estudos, para o jovem de periferia, para mim é fantástico. Esse espaço que nos foi negado… eu fui barrado as 12 primeiras vezes no portão dessa universidade porque a universidade entendia que jovens negros eram perigosos para estar aqui dentro e agora eu entro pelo portão da frente e isso é uma vitória não só para mim, mas para a juventude negra.
Quem é de periferia sabe do que eu estou falando, que a gente quer mudar a realidade da nossa família, dos nossos pais, dos nossos irmãos e a universidade te capacita para isso, te possibilita isso.
O conhecimento não está só aqui dentro dessas paredes, ele está fora. Aliás, ele está muito mais fora do que aqui dentro e ser esse vetor, esse ponto que conecta a periferia que está lá fora e a UFPA é muito importante. Meu intuito é ficar aqui, fazer mestrado, fazer doutorado e tentar mudar um pouco a cara dessa universidade.
E tem mais…
Na edição deste sábado (31), o Bem Viver também traz direto da Amazônia, o açaí – fruto que virou estrela mundial – tem um significado único na terra de origem.
Enquanto isso, a solidariedade brota da terra: o Movimento Sem Terra leva sementes para Cuba e fortalece a agroecologia.
Em Minas Gerais, mulheres em situação de rua transformam dor em arte e desafiam a invisibilidade com o “Quando Coletivo”, que já ganhou exposição de obras de arte no Museu Mineiro.
O Coletivo Tururu dá um salve da luta por comunicação popular em Pernambuco.
E tem receita! Gema Soto ensina uma delícia da infância: doce banana.
Quando e onde assistir?
No YouTube do Brasil de Fato todo sábado às 13h30, tem programa inédito. Basta clicar aqui.
Na TVT: sábado às 13h; com reprise domingo às 6h30 e terça-feira às 20h no canal 44.1 – sinal digital HD aberto na Grande São Paulo e canal 512 NET HD-ABC.
Na TV Brasil (EBC), sexta-feira às 6h30.
Na TVE Bahia: sábado às 12h30, com reprise quinta-feira às 7h30, no canal 30 (7.1 no aparelho) do sinal digital.
Na TVCom Maceió: sábado às 10h30, com reprise domingo às 10h, no canal 12 da NET.
Na TV Floripa: sábado às 13h30, reprises ao longo da programação, no canal 12 da NET.
Na TVU Recife: sábados às 12h30, com reprise terça-feira às 21h, no canal 40 UHF digital.
Na UnBTV: sextas-feiras às 10h30 e 16h30, em Brasília no Canal 15 da NET.
TV UFMA Maranhão: quinta-feira às 10h40, no canal aberto 16.1, Sky 316, TVN 16 e Claro 17.
Sintonize
No rádio, o programa Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 7h às 8h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil de Fato. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo. Além de ser transmitido pela Rádio Agência Brasil de Fato.
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