Ao menos 31 palestinos morreram e outros 175 ficaram feridos neste domingo (1º) em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, após um ataque nas imediações de um ponto de distribuição de ajuda humanitária. A estrutura, localizada a cerca de um quilômetro do local do bombardeio, é apoiada pelos Estados Unidos. Veículos de imprensa ligados ao Hamas acusam diretamente as forças israelenses pelo ataque.
Testemunhas ouvidas pela agência Associated Press (AP) relataram que soldados de Israel abriram fogo contra centenas de pessoas que buscavam comida. Um jornalista da agência afirmou ter visto dezenas de feridos sendo socorridos em um hospital da região. A Cruz Vermelha confirmou o número de vítimas, embora o Exército de Israel tenha declarado que “não tem conhecimento” de que suas tropas tenham causado ferimentos. O caso segue sob investigação.
O posto atacado integra a operação da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), criada com aval de Israel e apoio direto dos EUA. A iniciativa é criticada por agências da ONU por operar à margem dos protocolos internacionais, sem estrutura para garantir segurança e equidade na entrega dos insumos. No último dia 27, ao menos três palestinos morreram e 46 ficaram feridos durante um tumulto em outra distribuição feita pela fundação.
O ataque deste domingo ocorre em meio ao agravamento da crise humanitária em Gaza. Milhares de civis enfrentam fome extrema, agravada pelo bloqueio israelense que perdurou por quase três meses. Segundo a ONU, o território vive uma das maiores emergências alimentares do século. Israel afirma ter permitido a entrada de centenas de caminhões com suprimentos desde maio, mas especialistas denunciam que a quantidade é insuficiente e a logística tem sido falha e desigual.
Trégua sob impasse e chantagem humanitária
No plano diplomático, o Hamas apresentou no sábado (29) uma nova resposta à proposta de cessar-fogo liderada pelos Estados Unidos. O grupo afirmou aceitar uma trégua inicial de 60 dias com libertação de 10 reféns vivos e a entrega de 18 corpos a Israel, em troca da libertação de prisioneiros palestinos. Também exigiu retirada militar israelense da Faixa de Gaza e entrada regular de ajuda.
Tanto o governo de Benjamin Netanyahu quanto o de Joe Biden consideraram as exigências “inaceitáveis”. O governo israelense segue condicionado a trégua à devolução de todos os reféns e à aniquilação militar do Hamas, mesmo diante do colapso humanitário em curso.
Desde o início da ofensiva israelense, em 7 de outubro de 2023 — desencadeada após ataque do Hamas que deixou 1.200 israelenses mortos —, mais de 36 mil palestinos já morreram, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. A maioria das vítimas são mulheres e crianças. Organizações de direitos humanos acusam Israel de promover punição coletiva contra a população civil do enclave.