O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela emitiu no domingo (1) um alerta máximo de viagem para os Estados Unidos. Em comunicado, a chancelaria afirma que os EUA são um “país perigoso” que não respeita os direitos humanos para migrantes. De acordo com a pasta, a sugestão é que os venezuelanos que vivem em território estadunidense deixem o país.
“Se está pensando em viajar, cancele agora seus planos. Se vive nos EUA, considere sair de imediato. Os EUA são uma ameaça real para a vida, liberdade e a dignidade dos venezuelanos e qualquer latino-americano. Lá não existe o sonho americano, só pesadelos. Nosso dever é denunciar essa realidade e pedir respeito aos nossos compatriotas”, afirma o comunicado.
Em vídeo publicado nos canais oficiais do Ministério das Relações Exteriores, o governo venezuelano elencou tópicos para justificar o alerta. Primeiro por uma “máquina de perseguição contra migrantes” e cita como exemplo não só as deportações promovidas pela Casa Branca, mas também a prisão de 252 venezuelanos que foram enviados a um presídio de segurança máxima em El Salvador. Eles foram acusados, sem provas, de fazer parte do grupo criminosos Trem de Aragua.
De acordo com o comunicado, esses detidos estão em condições “desumanas, sem assistência médica, sem alimentação adequada e foram submetidos a tortura psicológica”.
O segundo argumento usado pela chancelaria é o “racismo assassino” do Estado. O governo venezuelano afirma que latinos, afro-americanos e migrantes vivem em uma situação de risco no país. “A polícia atira primeiro e pergunta depois. Tiroteios em massa são comuns. Leis xenófobas tornam os venezuelanos alvos fáceis de ódio”, diz a nota. Segundo o grupo Mapping Police Violence, que monitora a atuação da polícia nos EUA, 1.250 pessoas morreram no país em 2024 por ação das forças de segurança.
A nota termina afirmando que o próprio Departamento de Estado subverte a lógica de violência ao atribuir crimes a países como a Venezuela enquanto o próprio governo dos EUA cometem uma série de irregularidades.
“Hipocrisia institucional. Enquanto o Departamento de Estado mente sobre a Venezuela, esconde suas próprias atrocidades. Falam de sequestros, mas são eles que roubam crianças na fronteira. Acusam pessoas de arbitrariedade, mas são eles que trancam milhares em jaulas. Autodenominam-se defensores dos direitos humanos, mas são os mesmos que violam o direito internacional e até mesmo suas próprias leis nacionais para atacar migrantes venezuelanos”, disse Caracas em comunicado.
A notificação não tem um impacto nas viagens que são feitas entre os dois países. Hoje em dia, não há voos diretos da Venezuela para os EUA. A intenção, no entanto, é alertar os cidadãos venezuelanos sobre os riscos de ir ao país.
Na semana passada, o Departamento de Estado havia emitido um alerta nível 4 para viagens à Venezuela por “graves riscos”. Washington afirmou que o governo venezuelano promove “prisões injustas, tortura sob custódia, terrorismo, sequestro, práticas injustas de aplicação da lei, crimes violentos, agitação civil e assistência médica inadequada”.
“As autoridades venezuelanas não notificam o governo dos EUA quando nossos cidadãos são detidos, nem permitem que autoridades americanas os visitem. Os detidos têm frequentemente o acesso a familiares e assistência jurídica negado; os EUA não conseguem fornecer assistência consular de rotina ou emergenciais aos cidadãos americanos na Venezuela”, afirma o texto sem apresentar provas para as acusações.
O governo equatoriano surfou na onda estadunidense e também sugeriu que seus cidadãos não viajem à Venezuela. Os dois países têm relações rompidas desde que o governo de Daniel Noboa violou o direito internacional e invadiu a embaixada mexicana em Quito para prender o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas.
“Que coisa ridícula vinda de um governo bajulador e servil… Força, Equador!”, respondeu o ministro das Relações Exteriores venezuelano, Yván Gil, por meio de seus canais do Telegram.