A ministra do Meio Ambiente e Mudança no Clima, Marina Silva, participou nesta segunda-feira (2) da abertura da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Atingidas, organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), em Brasília. A atividade reúne cerca de mil mulheres de 20 estados, e vai até a próxima quinta-feira (5).
“Me sinto abraçada e fortalecida por cada um e cada uma de vocês”, disse a ministra, que foi ovacionada ao subir no palco do Centro Comunitário Athos Bulcão, da Universidade de Brasília (UnB). “É uma alegria saber que existem mulheres que estão organizadas e que resistem em seus territórios, nos seus lugares, nas suas comunidades, e que muitas vezes isso acontece de forma dramática, tirando não apenas o lugar onde se mora, mas tirando a própria identidade, porque o lugar onde a gente mora nos conforma identidade”, disse Silva às mulheres atingidas, de quem recebeu palavras de solidariedade em relação aos ataques misóginos que sofreu em uma comissão do Senado Federal.
“Somos solidários e denunciamos esse tipo de iniciativa de senadores e do agronegócio”, disse Alexania Rossato, representante da coordenação nacional do MAB. “Assim como ameaçam a senhora, ameaçam as nossas companheiras em Rondônia, ameaçam e criminalizam nossos companheiros no oeste da Bahia e tantos trabalhadores que lutam por um mundo mais justo”, completou.
Representando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Fernanda Coelho também mencionou o episódio no Senado Federal. “Nós presenciamos talvez uma das cenas mais abjetas que aquele Congresso Nacional poderia nos colocar. A violência política de gênero só tem um único objetivo, é fazer nos calar. E é muito importante, ministra, termos sua liderança e sua referência nesse momento. Então, dizer que nesse momento aqui que a senhora nos representa e nos traz muito orgulho”, disse a ex-presidente da Caixa Econômica Federal.
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Na ocasião, a ministra anunciou o investimento de mais de R$ 30 milhões do Fundo Amazônia, para ser usado por programas de desenvolvimento sustentável que incidem sobre as comunidades atingidas por grandes projetos na região.
“Nós estamos estabelecendo inúmeras parcerias com recursos do Fundo Amazônia, com comunidades locais, para que essas comunidades possam restaurar seus modos de vida, ter programas de desenvolvimento sustentável. No caso do que foi aqui apresentado, tem a ver com recurso de mais de R$ 30 milhões, recursos do Fundo Amazônia, que vêm graças ao combate ao desmatamento e aos resultados que alcançamos, para que mais de 600 famílias sejam beneficiadas em processos de restauração e produção sustentável”, afirmou Silva.
Recuperação da bacia do Rio Doce
Já a representante do BNDES destacou o acordo judicial, realizado em novembro do ano passado, para a reparação ambiental e social da bacia do Rio Doce, devastada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015.
“Após mais de nove anos, foi firmado um acordo judicial em novembro do ano passado. Nós estamos, desde então, trabalhando em conjunto com o governo. São mais de 16 ministérios para que a gente possa de forma efetiva proceder à reparação integral de todas as comunidades que estão no Fundo do Rio Doce. O fundo foi efetivamente criado. No dia 4 já receberemos a segunda parcela e teremos então a partir de agora a apresentação dos planos de trabalho de cada um dos ministérios para que possamos então dar andamento”, afirmou Maria Fernanda Coelho.
Marcha em Brasília
Para o último dia de encontro, na quinta-feira (5), as mulheres do MAB preparam uma marcha em Brasília que irá abordar os altos juros aplicados pelo Banco Central, contra o projeto de lei 2159/2021, que ficou conhecido como o “PL da Devastação”, e em solidariedade ao povo palestino.
“Iremos até o Banco Central para denunciar assim os altos juros que assolam e que tiram a comida do povo brasileiro. Os altos juros que assolam os trabalhadores, as trabalhadoras pobres e as mulheres em especial que se preocupam tanto com o cotidiano da vida. Mas estaremos também para protestar e para denunciar esse PL da Devastação, ministra, faremos uma grande manifestação para dizer da importância da legislação ambiental que foi construída também pelos trabalhadores”, declarou Rossato.
“Estaremos em marcha pelas ruas de Brasília também em um lindo e necessário gesto de solidariedade. Iremos até a embaixada da Palestina para dizer não ao genocídio do povo palestino e das crianças palestinas para Israel. O que está sendo feito ao povo palestino é um genocídio”, ressaltou a militante do MAB.
As mulheres do MAB reivindicam ainda a regulamentação da Política Nacional dos Atingidos por Barragens (PNab), lançada em 2024 pelo governo federal, e a criação de planos de segurança para as populações impactadas por barragens, grandes projetos e mudanças climáticas.